O uso dos defensivos biológicos tem crescido anualmente nas diferentes regiões agrícolas brasileiras. Na safra 2021-22 o seguimento de bioinsumos movimentou cerca de R$ 2,90 bilhões, alta de 67% nos negócios ante o ciclo anterior com R$ 1,74 bilhão.
Dentre os fatores que têm contribuído para esse aumento destacam-se: a diversificação da oferta de novos produtos biológicos no mercado brasileiro, aumento nos investimentos da bioindústria para a descoberta de novas tecnologias e formulações, crescimento do número de produtos biológicos com registro pelos órgãos reguladores, intensificação das práticas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), maior percepção dos agricultores sobre a necessidade de redução de uso de produtos de largo espectro de ação, com menor impacto sobre os polinizadores e agentes biológicos em campo; aumento na adoção de práticas e ferramentas de agricultura de precisão e, certamente, o crescimento da demanda do mercado consumidor por alimentos com baixos níveis de resíduos, agricultura regenerativa e de baixo carbono, impactando diretamente toda a cadeia do agronegócio.
Além da soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, culturas que ocupam mais do que 50 milhões de hectares de áreas produtivas no Brasil, a agricultura familiar também tem se beneficiado com o uso dos insumos biológicos. Importante considerar que a diversidade de culturas, aspecto predominante nas pequenas áreas de cultivo familiar, propicia o aumento e preservação dos agentes biológicos aplicados, fato esse que reforça a eficiência dos manejos biológicos em campo, dentre outros aspectos.
Na região Sul do país, especialmente no Rio Grande do Sul, o tabaco é uma das culturas mais produzidas por agricultores familiares. Nesta cultura, o controle biológico se empregou de maneira bastante ampla, desde a fase de produção de mudas, passando pelas áreas de desenvolvimento e produção de plantas em campo, até a fase final do ciclo de produção que ocorre nos paióis onde é realizada a cura do fumo, comercializado em seguida para todo o país ou exportado. Dados publicados pelo Sinditabaco, no início desse ano, reforçam que o Brasil é considerado líder mundial na exportação de tabaco desde 1993, com volume exportado de 584.861 toneladas em 2022 e faturamento em exportações equivalente a US$ 2,45 bilhões, números que reforçam a importância econômica deste cultivo para as famílias.
Ao consideramos a diversidade de culturas nas pequenas propriedades rurais, observamos muitos fumicultores que já utilizam agentes biológicos, também aplicam os bioinsumos em outros cultivos realizados em sua propriedade, tais como milho, soja e hortaliças, seja para consumo próprio ou comercialização.
Um dos agentes biológicos mais utilizados pelos fumicultores na fase de produção de mudas é o ácaro predador Stratiolaelaps scimitus, organismo empregado pela primeira vez na cultura do tabaco há cerca de oito anos, por meio de uma parceria estabelecida entre as empresas Promip e BAT (British American Tobacco). Atualmente, esse predador é utilizado por mais de 5 mil fumicultores distribuídos nas principais regiões produtoras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Sanges Alberto Klafke, cuja família trabalha com a produção do tabaco em Venâncio Aires-RS, há mais de 50 anos, foi um dos primeiros agricultores que testou o uso comercial dos predadores para o controle da larva da mosquinha dos canteiros ou mosquinha do fumo, Bradysia spp. Em sua cultura, a aplicação do ácaro predador uma semana antes do semeio nos canteiros de produção, rendeu mudas isentas da larvinha da mosquinha dos canteiros, sem danos nas raízes – um resultado considerado impressionante pelo produtor. Além deste ácaro predador, os fumicultores empregam a vespinha Habrobracon hebetor para o manejo biológico de traças em paióis. Além disso, pesquisas têm sido realizadas com o fungo Beauveria bassiana para o controle de ácaros e da pulga-do-fumo, praga-chave que ataca a produção do tabaco em campo.
Entre os benefícios evidenciados pelo emprego de biológicos na agricultura familiar podemos citar uma maior eficiência de controle, inclusive de populações de pragas resistentes aos defensivos convencionais, custo compatível ou ainda menor do que com os defensivos convencionais (químicos) utilizados comumente, redução do número de casos de não conformidades devido à presença de resíduos tóxicos nos alimentos comercializados “in natura”, maior segurança para o agricultor e trabalhares do campo durante o manuseio e aplicação destes produtos e, ainda, inocuidade para saúde das pessoas e meio ambiente.
O interesse dos fumicultores por produtos biológicos reforça o comprometimento do setor com questões que envolvem os aspectos de sustentabilidade, favorecendo a adoção das práticas ESG que se estendem do campo até a indústria. Independente da cultura ou tamanho da propriedade rural, a mentalidade dos biológicos continua se expandindo em todos os sentidos, e muitas novidades certamente estão por vir, para impactar cada vez mais a realidade do campo e nossas vidas.