Daniela Aparecida Teixeira
Doutora em Agronomia – UNESP – Botucatu, SP
daniela.teixeira@hotmail.com
Denominado bioestimulante natural, o extrato de algas, principalmente de Ascophyllum nodosum (L.) Le Jolis (alga marrom), tem emprego na agricultura, pois contém substâncias que, quando aplicadas via solo ou no vegetal, acarretam em melhorias significativas na produtividade.
Tais substâncias agem no processo fisiológico, tendo como características tornar esses processos mais eficientes, fazendo com que apresentem maior resistência a fatores de estresse, consequentemente, levando ao maior vigor e sanidade.
Esse bioestimulante é o mais comum e utilizado. Sua composição conta com hormônios, proteínas, etc., que estão intimamente ligadas a essa resistência conferida ao vegetal, já que atuam, além de processos fisiológicos, nos bioquímicos e na expressão de genes.
Pegamento de frutos de pimentão
O pimentão (Capsicum annuum L.) é uma espécie perene de grande importância socioeconômica. A área de cultivo corresponde a aproximadamente 13 mil hectares, com produção anual de cerca de 280 mil toneladas.
Os bioestimulantes naturais são apresentados como uma alternativa inovadora para a agricultura, pois promovem o “efeito bioativador”, responsável por estimular o crescimento vegetativo e a defesa contra efeitos bióticos e abióticos.
Por contarem com a presença de citocininas, auxinas, ácido abscísico, ácido giberélico e ácido salicílico, esses fitohormônios melhoram a absorção dos nutrientes e a fotossíntese, tendo como resultado o melhor desenvolvimento vegetal.
Pesquisas
Pesquisas apontam que a aplicação de Lithothamnium, utilizado com a finalidade de condicionador de solo, tem resultados positivos quanto à produtividade, entre 11, 15 a 30%, para as culturas de tomate (+11%), milho (+15%) e pimentão (+30%), respectivamente.
Para a cultura do pimentão, a questão hormonal influencia diretamente na manutenção/abortamento de flores e frutos. Sendo assim, fitormônios, agindo diretamente ou por intermédio do triptofano (aminoácido percursor da auxina), podem auxiliar no pegamento dos frutos.
Os fithormônios estão ligados à divisão celular, absorção de nutrientes (N), formação da clorofila, e também à relação fonte (taxa fotossintética da cultura) e dreno (demanda por assimilados), que é determinante para o enchimento do fruto e das características organolépticas.
Dominância apical
A dominância apical é caracterizada pela dominância do eixo principal, que por questões hormonais, inibe o desenvolvimento das gemas laterais. Quando a gema apical é removida, ocorre a brotação das gemas laterais.
O processo é comumente observado quando se poda uma árvore. Isso ocorre porque a retirada da gema apical resulta na interrupção do transporte de auxinas e, em alguns casos, as auxinas produzidas pela gema apical também podem interferir na síntese de citocininas das gemas laterais.
Os extratos de algas, por conterem fitormômios, são responsáveis pela quebra da dominância apical e maior enfolhamento, pois favorecem o desenvolvimento dos brotos laterais. Quando ocorre essa quebra, nota-se mudança significativa na arquitetura da planta, possibilitando novas florações.
Além dos fitormônios, fornecem carboidrato, macro e micronutrientes essenciais ao desenvolvimento vegetal e aminoácidos (alanina, ácido aspártico e glutâmico, glicina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, prolina, tirosina, triptofano e valina).
Precursores hormonais
Os fatores que estão intimamente ligados ao pegamento de frutos são as reservas endógenas, nutrição, disponibilidade hídrica e o balanço hormonal. Neste último, os responsáveis envolvidos são as auxinas e as citocinina, fundamentais na divisão celular, absorção de nitrogênio, dentre outros.
Outra questão importante que aumenta a eficiência de pegamento de frutos é a utilização de sacarose e de compostos que atuem nos processos fisiológicos, de modo a diminuir o estresse a fatores endógenos e exógenos, proposta que os bioestimulantes à base de extrato de algas cumpre muito bem, segundo pesquisas.
Como aplicar os extratos de algas em pimentão
O que se encontra na literatura sobre a recomendação é a aplicação na cova de plantio, onde o produto terá a ação fisiológica, e também na correção do solo. Pode ser utilizada para auxiliar na fase de formação de mudas.
A indicação é de 1,0 a 1,5% a cada 15 dias. Importante lembrar que a aplicação deve ocorrer 30 dias antes do florescimento e prolongar até o final da colheita.
Benefícios dos extratos de algas
Sendo uma cultura de grande importância nacional e tendo em vista que não há muitos produtos registrados no MAPA para a cultura, são necessárias técnicas alternativas para produzir plantas de qualidade e com segurança.
Nesse ponto é que a utilização de extratos de algas traz grandes vantagens, como: a precocidade na germinação e no estabelecimento de mudas, melhora o desempenho vegetal e produção de biomassa seca, eleva a resistência a estresses, principalmente decorrentes do ataque de patógenos, aumenta a tolerância do vegetal, quando exposto ao estresse do ambiente, além de conferir melhor recuperação.
Outras culturas beneficiadas
Além de todos os benefícios nutricionais citados, tem como característica ser um material limpo e de fonte renovável. Outro resultado foi observado em batata – após 65 dias da semeadura, os tubérculos que receberam aplicação dos extratos foram colhidos e avaliados.
O resultado encontrado foi de elevação no número de tubérculos por planta (+16%) e em diâmetro 36% maior.
Sendo assim, desde que respeitada a recomendação nutricional para a cultura e a análise de solo do local de cultivo, os estudos indicam que este pode ser um produto viável e bastante promissor para as mais diversas culturas, necessitando, evidentemente, de mais estudos com os extratos para as diversas regiões e culturas cultivadas.
Recomendação para cultivos orgânicos
Levando- se em consideração um dos princípios básicos da produção orgânica, em que o solo é tido como um organismo vivo e o manejo deste é quem vai fornecer constantemente matéria orgânica ao vegetal, a utilização de adubos verdes; cobertura morta e composto orgânico vão realizar essa função e garantir boa fertilidade.
Os extratos de algas (compostos orgânicos), por apresentarem a característica de contribuir com a melhora da capacidade fotossintética, por conter elicitores (carboidratos de cadeia curta), tem como função a ativação dos mecanismos de defesa, simulando um ataque de fungos e desencadeando uma resposta defensiva natural.
Apresenta, ainda, funcionalidades importantes que podem ser empregadas na agricultura orgânica. Porém, há de se atentar a um fato de extrema importância – os produtos (grande variedade de marcas) disponíveis no Brasil são importados, tendo em vista que a legislação não permite a extração de algas da costa brasileira.