Nathália Souza Teixeira
Graduanda Agronomia/Universidade Estadual do Norte Fluminense
tsouzanathalia@gmail.com
Cláudia Lopes Prins
DSc Produção Vegetal – Professora Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias/Fitotencia-Olericultura/Universidade Estadual do Norte Fluminense
prins@uenf.br
A agricultura urbana possui uma longa história, remontando a práticas que datam de 3.500 a.C., quando agricultores na Mesopotâmia cultivavam em pequenos terrenos dentro das cidades, como uma forma de garantir o acesso a alimentos frescos. No entanto, com a Revolução Industrial, a construção de fábricas ocupou espaços urbanos e a agricultura urbana foi colocada em um plano secundário.
Agricultura urbana abrange ampla gama de atividades que envolvem a produção agrícola, extrativismo agropecuário, coleta, transformação e prestação de serviços. Seu objetivo é gerar produtos agrícolas, como hortaliças, frutas, ervas medicinais, plantas ornamentais, bem como criar animais de pequeno, médio e grande porte. Esses produtos são direcionados para autoconsumo, trocas, doações ou comercialização. A agricultura urbana prioriza o uso eficiente e sustentável dos recursos e insumos locais, como solo, água, resíduos sólidos, mão de obra e conhecimentos, visando promover uma produção agrícola responsável e integrada ao ambiente urbano.
A partir da década de 1980, o cultivo de hortaliças em áreas urbanas e periurbanas ganhou destaque como uma estratégia de subsistência para as populações mais pobres, afetadas pela crise econômica, especialmente na América Latina, África e Ásia. No Brasil, houve aumento significativo no número de hortas urbanas e periurbanas desde essa época, impulsionado pelo apoio de municípios e instituições locais por meio da implementação de programas de incentivo à prática da agricultura urbana.
O surgimento e crescimento da agricultura urbana estão intimamente relacionados ao contínuo crescimento populacional e econômico das cidades. Essa prática tem contribuído para a utilização produtiva dos espaços urbanos, por meio do estabelecimento de hortas urbanas, e tem impactos diretos na redução da desigualdade social, na melhoria da qualidade de vida e na mitigação dos impactos ambientais. Entretanto, existem desafios para a consolidação e expansão das iniciativas da agricultura urbana, tais como a implementação de estruturas legais, políticas públicas e instituições específicas.
O Censo Agropecuário, base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) responsável por coletar e divulgar dados estatísticos sobre a produção agropecuária brasileira, não disponibiliza informações detalhadas sobre a produção de agricultura urbana no país. Um dos aspectos que impedem a obtenção de dados descritos sobre essa linha de produção está relacionado ao fato de que é uma prática relativamente recente e em constante desenvolvimento no país. Ainda, a agricultura em meio urbano ocorre em pequenas escalas e de forma fragmentada, encontrando-se em espaços urbanos limitados, como hortas comunitárias, jardins verticais, telhados verdes e pequenas áreas residenciais. Essas características dificultam a coleta abrangente de dados, uma vez que a agricultura urbana está dispersa por diversas localidades.
A ausência de dados detalhados pode ser um empecilho para a análise quantitativa e comparativa da agricultura urbana. No entanto, estudos acadêmicos e pesquisas realizadas por diferentes entidades contribuem para a constante evolução do conhecimento sobre o assunto. Essas iniciativas estão contribuindo para preencher essa lacuna de informações e fornecer uma base sólida para compreender melhor a agricultura urbana no Brasil. À medida que mais pesquisas são conduzidas e dados são coletados, será possível ter uma visão mais completa e detalhada desse campo em crescimento.
Embora não existam levantamentos precisos, o potencial de produção da agricultura urbana é considerado elevado, uma vez que com o uso de culturas de ciclo curto com elevada eficiência produtiva é possível obter alta produtividade nestas áreas. Um exemplo é o Programa Hortas Cariocas (PHC), criado em 2006. Segundo dados da Prefeitura do Rio de Janeiro, o programa conta com 56 hortas ativas, distribuídas em comunidades de baixa renda e escolas de toda capital. Em 16 anos de funcionamento, o programa produziu mais de mil toneladas de alimentos, beneficiando cerca de 60 mil famílias.
Além do fornecimento de alimentos, a agricultura urbana promove a geração de emprego e renda como observado em estudo de Cunha & Cardoso (2022) em Salvador/BA. A diversificação da alimentação também é um importante aspecto da agricultura urbana que beneficia os envolvidos. Um estudo realizado na Tanzânia apontou que famílias envolvidas na prática da agricultura urbana desfrutavam de uma dieta mais diversificada. E por fim, benefícios ambientais também podem ser obtidos. Pesquisas indicam que caso Seul, capital da Coréia do Sul, adote uma abordagem proativa em relação à agricultura urbana, será possível alcançar uma redução estimada de aproximadamente 11.668,53 toneladas de emissões de CO2 anualmente no setor de transporte (Lee et. al., 2015).
Por ser uma atividade situada em áreas urbanas, é necessário considerar a possibilidade de contaminação do solo. Dessa forma, a análise preliminar do solo é uma medida importante a ser aplicada em área destinada a plantio com finalidade alimentar, possibilitando o mapeamento de áreas e suas limitações. Quando se considera a produção de alimentos na agricultura urbana, fatores como a constante exposição a poluentes e contaminantes ambientais devem ser considerados, pois podem acarretar riscos para a saúde dos produtores e consumidores. É importante que boas práticas de produção agrícola e higiene sejam empregadas. A adoção de práticas que protejam a área de fatores poluentes e os cuidados sanitários durante a manipulação dos produtos destinados à alimentação devem ser sempre empregados. Assim é possível assegurar o fornecimento de alimento seguro para a comunidade.
A falta de planejamento para utilização de recursos básicos, como água, energia e insumos, pode ser um fator limitante para produção com qualidade e em quantidade suficiente para atender à demanda, seja de famílias assistidas ou de consumidores. Assim, a agricultura urbana pode ser significativamente favorecida com a inclusão de técnicas agronômicas que proporcionem aumento da produção. Visando garantir o sucesso e a eficiência do cultivo, os responsáveis pela produção devem estabelecer estratégias que otimizem o uso do espaço/solo, promovam a saúde das plantas, facilitem o manejo diário e garantam uma produção eficiente e sustentável.