Kamilla Silva de Jesus
Lucas Adam Signor Bambil
Graduandos em Agronomia – Universidade Federal de Mato Grosso (FAAZ/UFMT)
Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor e professor de Fruticultura – DFF/FAAZ/UFMT
glauciogenuncio@gmail.com
O cálcio (Ca2+) é classificado como macronutriente secundário essencial às plantas, pois se enquadra como um elemento que, em sua ausência, a planta não consegue completar seu ciclo de vida. Possui função específica, portanto, não pode ser substituído e apresenta relação intrínseca com o metabolismo da planta.
Este macronutriente é parte estrutural da lamela média da parede celular, com a função de junção entre as estruturas da parede celular. Assim, é considerado um elemento estrutural. Por outro lado, também possui funções de sinalização nas plantas, fato que explica a alocação deste elemento no vacúolo, nos cloroplastos e no retículo endoplasmático.
Composição
Destaca-se que o Ca2+ aparece em concentrações da ordem de 105 vezes maior que no citosol, acompanhado de ânions orgânicos (malato e outros) e inorgânicos (nitrato, cloreto e outros).
Já no citosol, a concentração é inversa, sendo muitíssimo baixa (entre 0,1 e 0,2 µ mol L-1) e importante para evitar que haja a precipitação do fósforo inorgânico como fosfato de cálcio.
Assim, o Ca2+ tem papel substancial na regulação da permeabilidade e manutenção da estrutura da membrana plasmática, que possibilita a absorção de outros íons, assim como também tem algumas das funções de certo controle sobre a aberturas dos estômatos (por meio do fitormônio ABA), aclimatação metabólica (por meio do aumento do fitormônio GABA), transdução de sinais gerados pelos fitormônio auxina, giberelina e etileno.
Portanto, o cálcio se enquadra como elemento essencial para as plantas e é absorvido e transportado na forma iônica, sendo muito importante para a etapa de crescimento vegetal (tecido meristemático no caule, folha, extremidade da raiz e no meristema apical) e no processo de maturação de frutos.
Formação de frutos do abacateiro
O cálcio pode ser usado na nutrição das flores e para evitar que ocorra algum provável abortamento de frutos decorrente do fluxo vegetativo simultâneo ao desenvolvimento dos frutos.
Como o fruto se encontra em constante crescimento e divisão celular, este macronutriente está diretamente ligado à qualidade no desenvolvimento do fruto e à deposição de substâncias, deixando o fruto firme.
A expansão, devido à pressão de turgor, caso a parede celular não esteja estruturada, danifica o fruto. Assim, existe um fator abiótico (deficiência de cálcio) que afetará a formação do fruto.
Vale ressaltar que nem sempre a deficiência de cálcio na planta está associada à falta deste no solo, pois quaisquer fatores que prejudiquem a transpiração da planta poderão abalar o fluxo de cálcio na mesmo (o cálcio é considerado imóvel na planta), pois este depende do fluxo transpiratório.
Um exemplo é a necessidade de irrigação na fase de formação da planta ou, até mesmo, períodos prolongados de seca.
As relações entre elementos no solo (Ca/Mg, Ca/K e Ca/N) também, quando desequilibradas, afetam a disponibilidade de cálcio foliar e no fruto.
Desordens fisiológicas
O cálcio está ligado à disponibilização de potássio e fósforo, dois nutrientes que, estando em teores inadequados, podem acarretar má absorção e sintetização, causada principalmente pela carga de íons das substâncias.
Isso gera a queda ou deformidade nos frutos, flacidez e maior deterioração do fruto colhido, e na planta pode acarretar má formação das folhas e raízes, somando-se ao que já foi considerado.
A adubação foliar é feita para suprir a necessidade nutricional das plantas, o que implica na melhora do rendimento e em qualidade da produção, consequentemente, do fruto. Tirando como base a cultura da maçã, pera e do pêssego, o cálcio está ligado à firmeza dos frutos, e em sua ausência ocorrem distúrbios fisiológicos, conhecidos como “bitter pit”, “cork spot” e depressão lenticelada, pela diminuta mobilidade deste macronutriente no floema.
Portanto, a aplicação ou pulverização do cálcio é uma prática para suprir exigências nutricionais maiores na fase de enchimento do fruto, colaborando para a firmeza e crescimento do fruto, com maior resistência ao epicarpo.
Por outro lado, a tomada de decisão da adubação foliar deve ser avaliada com os demais fatores associados, como aplicação de ureia, regulação da irrigação e adubação visando a suplementação de cálcio no solo e foliar, dentre outras ações.
Qualidade pós-colheita do abacate
Os frutos que apresentam maior firmeza são mais atrativos visualmente e ao tato do consumidor, agregando assim valor comercial e o maior tempo de permanência na prateleira, evitando possíveis danos no processo de transporte.
O ponto de colheita correto, portanto, evita danos no transporte. É igualmente importante escolher variedades adequadas para a comercialização, como, por exemplo, cultivares mais resistentes e adequadas para todo o ambiente da prateleira.
Além disso, o abacateiro é considerado um fruto climatérico, com alto pico de síntese de etileno. Assim, técnicas que visem reduzir os efeitos do etileno na maturação de frutos são fundamentais para o aumento do shelf life.
Recomendações
A dosagem e a aplicação do cálcio devem partir da correção do solo e da análise foliar no estágio de frutificação, correlacionando a disponibilidade deste elemento com o equilíbrio fisiológico dos outros nutrientes, para que assim seja aplicada alguma complementação nutricional, se necessário.