Paula Almeida Nascimento
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia/Produção Vegetal – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
paula.alna@yahoo.com.br
O psilídeo Diaphorina citri é o inseto-vetor da bactéria Candidatus Liberibacter spp., que causa o greening (huanglongbing/HLB), a pior doença da citricultura na atualidade, presente nas principais regiões citrícolas brasileiras.
Os danos causados pelo psilídeo são devido à sucção contínua de seiva durante a alimentação em plantas doentes, onde o inseto adquire a bactéria causadora do greening. Insetos contaminados também transmitem a bactéria a plantas sadias.
Em São Paulo e Minas Gerais foram identificados os primeiros registros do ataque desta doença nos pomares cítricos, ocasionando a eliminação de milhares de plantas e prejuízos para os produtores.
Hospedeiros do greening
As altas populações das pragas de psilídeo nos pomares contribuem para uma rápida e eficiente disseminação do greening nos pomares brasileiros. O psilídeo dos citros vive em plantas da família Rutaceae, com destaque para a murta de jardim Murraya paniculata e em plantas de todas as variedades de citros.
A murta é uma planta ornamental e está presente em todos os centros de cidades, sendo considerada uma fonte de disseminação tanto da praga quanto do inóculo da doença, porque é hospedeira da bactéria causadora do greening.
Manejo
Várias pesquisas estão sendo realizadas para trazer alternativas mais eficientes, econômicas e de baixo impacto ambiental para o controle de pragas e doenças nas plantas.
O controle biológico acrescenta, sendo aliado de métodos tradicionais, como a aplicação de agroquímicos. A indústria de produtos biológicos aumentando suas pesquisas, com biofábricas e registros de novos produtos no mercado.
Atualmente, há aumento do uso de biopesticidas no mercado agrícola devido aos frequentes casos de resistência de pragas e doenças a defensivos agrícolas. Infelizmente, o tempo que se leva para colocar uma nova molécula química no mercado é de vários anos, com elevado custo de pesquisas.
As vantagens do controle biológico:
- Redução do risco de poluição do meio ambiente;
- Diminuição da exposição dos aplicadores a produtos tóxicos;
- Ausência de resíduos em alimentos;
- Não toxidez para a saúde humana;
- Não exterminação de inimigos naturais de pragas e doenças;
- Os consumidores mais exigentes em relação à qualidade dos alimentos preferem produtos mais saudáveis, originados de técnicas menos agressivas ao meio ambiente.
Dessa forma, o controle biológico visa combater e reduzir a incidência de doenças e pragas agrícolas usando recursos da própria natureza pelo uso de inimigos naturais, que podem ser tanto insetos predadores, ácaros, como fungos, bactérias, vírus e nematoides.
Manejo
Os produtos biológicos mais utilizados no Brasil são Bacillus, Baculovírus, Beauveria, Cotesia, Metarhizium, Paecilomyces, Pochonia, Trichoderma e Trichogramma.
As aplicações de defensivos devem ser feitas a partir do monitoramento e vários produtos inseticidas são indicados para o controle do psilídeo. Os citricultores precisam ampliar as ações contra o greening para além de suas fronteiras, auxiliando na eliminação de árvores doentes e realizando o monitoramento e o controle do psilídeo em áreas externas.
A alta incidência de árvores contaminadas na vizinhança dificulta o manejo da doença devido à constante migração de psilídeos destas áreas para os pomares.
O monitoramento do psilídeo pode ser realizado por meio de armadilhas adesivas amarelas e pela inspeção visual de brotos novos e folhas maduras.
Elas devem ser colocadas em pontos estratégicos, como na periferia da propriedade e nas bordas dos talhões. As armadilhas devem ser instaladas a cada 100 – 250 metros, sempre posicionadas no terço superior das plantas, nas extremidades dos ramos e voltadas para fora.
No controle biológico pode ser usado o parasitoide Tamarixia radiata, que naturalmente ocorre no campo em áreas com baixo controle químico ou em áreas de cultivo orgânico, e pelo fungo entomopatogênico, como Isaria fumosorosea.
Tamarixia radiata
A Tamarixia radiata utiliza as ninfas do psilídeo para se reproduzir, matando-as no processo. A vespinha deposita seus ovos embaixo das ninfas, que servirão de alimento para as larvas quando elas crescerem – cada Tamarixia radiata pode eliminar até 500 psilídeos.
A soltura da vespinha não causa desequilíbrio ambiental e deve ocorrer somente em locais onde não há controle químico, como pomares abandonados, chácaras e quintais.
Além disso, o parasitoide Tamarixia radiata é um inseto de origem asiática, específico de ninfas de D. citri. O inseto mede cerca de 0,6 mm de comprimento e o percentual de parasitismo pode alcançar até 75% em áreas de liberação desse parasitoide.
Ninfas de D. citri, quando parasitadas, apresentam coloração castanha, diferente das ninfas não parasitadas. Ao final do ciclo do parasitoide, a ninfa de D. citri parasitada apresenta em seu dorso um orifício de saída do adulto de T. radiata.
A estratégia para o controle biológico aplicado do vetor do HLB, Diaphorina citri, em regiões de ocorrência do HLB, preconiza a liberação de T. radiata em pomares comerciais de citros em áreas de produção orgânica e/ou de baixo uso de agrotóxicos.
A facilidade de criação e liberação em campo desse inimigo natural viabiliza a recomendação dessa prática como uma das ferramentas do manejo integrado de pragas (MIP) para enfrentar o problema do HLB.
Isaria fumosorosea
O fungo entomopatogênico Isaria fumosorosea tem sido relatado como um dos entomopatógenos com maior potencial para o controle de D. citri no mundo. Ele apresenta elevada virulência sobre ninfas e adultos de D. citri após a pulverização direta de conídios ou blastósporos.
Também tem mostrado alto poder de disseminação de seus conídios no ambiente, o que aumenta a possibilidade de transmissão horizontal entre insetos infectados e sadios da mesma ou de diferentes espécies.
Tendência
O controle biológico tem avançado muito nos últimos anos na cultura de citros, com pesquisas direcionadas para o desenvolvimento dos inseticidas microbianos, que podem ser pulverizados intercalados ou consorciados com outros manejos.
O fungo Isaria fumosorosea parasita e mata o inseto. “Com base nesse fungo, foi desenvolvido, em parceria da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), do Fundecitrus e da Koppert, o primeiro bioinseticida para controle do vetor no Brasil. O produto foi lançado em 2018 e tem o nome comercial de Challenger.
As vantagens do bioinseticida são eficiência comprovada, mais de 80% dos psilídeos morreram, não necessita de carência, tem compatibilidade com acaricidas e inseticidas e reduz o risco de seleção dos psilídeos resistentes aos químicos.