Fabrício Custódio de Moura Gonçalves
Engenheiro-agrônomo e biólogo, doutor em Agronomia/Horticultura e professor de Engenharia Agronômica – Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
fabriciocustodiodemouragoncalves@urc.uespi.br
A produção de morango em hidroponia vertical tem sido utilizada em virtude de reduzir a área de cultivo, sem perder muito em produção e, em especial, para reduzir a mão de obra. Ora, o cultivo suspenso atendeu exatamente esta questão.
Por consequência, as vantagens foram mais longe ainda: o cultivo suspenso proporciona mais ergonomia e conforto ao trabalhador. Pronto, esses três fatores juntos (espaço, mão de obra e ergonomia) explicam a atual e forte substituição do cultivo do morango no solo para fora dele (suspenso).
Vale salientar que há uma diferença entre cultivo suspenso e vertical. Por exemplo, o cultivo hidropônico vertical é suspenso. Mas, nem todo cultivo suspenso é vertical.
Como funciona
O cultivo hidropônico vertical desperta muito interesse, no caso do morango. Imagine uma hortaliça de fruto sendo plantada em excesso na mesma área. Seu pequeno porte proporciona essa façanha. Como a sacola é colocada na posição vertical, é possível inserir duas a três vezes mais plantas por área.
No Rio Grande do Sul, as principais regiões produtoras de morangos são o Vale do Caí e a Serra Gaúcha, que têm adotado o uso de um Caderno de Campo Digital – chamado Demetra, que auxilia nas tomadas de decisão na propriedade.
A ferramenta, desenvolvida pela startup Elysios Agricultura Inteligente, é uma plataforma digital, em que o agricultor faz, de maneira fácil e prática, o registro das atividades do dia a dia nas lavouras por meio de um aplicativo no smartphone.
O sistema atua de forma inteligente, controlando fatores como irrigação, temperatura e umidade, entre outros. Com comunicação integrada em rede, sem fio, também fornece dados precisos de nutrientes do solo, pluviometria e molhamento foliar. O sistema sabe a quantidade ideal de nutrientes para a melhor produção da planta, desenvolvendo-a no seu estado ótimo.
Luz na medida certa
Em cultivos de alto valor agregado, como o caso da cultura do morangueiro, a radiação artificial complementar tem sido utilizada como ferramenta potencial para o aumento da produção, da qualidade das frutas, e ainda, na indução do florescimento.
O uso de luz artificial nas cores vermelha e branca aumenta a produtividade em plantas de morangueiro em sistema de cultivo fora de solo recirculante (Costa et al., 2019). Em estudo pioneiro com mesma cultura, Kirschbaum (1998) analisou os efeitos da radiação fotossinteticamente ativa nos espectros do vermelho e vermelho distante (600 – 710 nm), concluindo que baixas intensidades induzem o florescimento sob fotoperíodo curto em cultivos protegidos.
Dessa forma, a produção de flores e frutas poderia ser antecipada com o uso de radiação complementar que emita comprimento de onda na faixa do vermelho (600 nm) e de intensidades nos níveis de 100 a 150 µmol m-2 s-1.
Em termos agronômicos, Cocco et al. (2011) destacam que a possibilidade de adiantamento na produção de morangos tem garantido ao produtor maior rentabilidade do cultivo em várias regiões.
Em geral, a utilização do LED (light emitting diode) em plantações de morango, para suprir a luz natural, pode resultar em produção três vezes maior que na agricultura convencional.
Inovações
Além disso, diversos produtos biotecnológicos têm sido utilizados, como o Florone, um produto obtido a partir de proteínas hidrolizadas de origem vegetal formulado com macro e micronutrientes.
Sua aplicação permite controlar o desenvolvimento vegetativo das plantas, segundo o estádio fenológico, induz o florescimento, pegamento e o enchimento dos frutos. É recomendado para aplicação foliar e/ou por meio da fertirrigação.
Em morangueiro tem-se observado que esse produto inibe o crescimento vegetativo, estimula o florescimento, induz o “enchimento” de frutos, aumenta o tamanho e o peso dos frutos e retarda a maturação dos frutos.
Genética
Ademais, as mudas usadas hoje no Brasil na produção de morango são importadas e respondem por 80% do custo da atividade. A despesa é de cerca de R$ 140 mil por hectare. As mudas são, em sua maioria, provenientes de viveiros chilenos, argentinos e espanhóis.
Com a importação, tem ocorrido evasão de divisas em cifras consideráveis, cerca de R$ 250 milhões anualmente. Nesse sentido, diversas instituições de pesquisas do Brasil têm atuado em áreas de tecnologia de produção de mudas.
Os trabalhos visam também a racionalização do uso de insumos, o aumento de produtividade e de renda para o produtor, bem como a organização da cadeia produtiva. As pesquisas focam ainda em potencial produtivo e com variedades adaptadas às condições locais.
Técnicas úteis
Tem ocorrido, nos últimos anos, um avanço tecnológico no cultivo comercial do morangueiro no Brasil, desde as mudanças no sistema de cultivo, envolvendo a melhoria no processo de produção das mudas, passando pela introdução de novos materiais genéticos, permitindo condições de cultivo durante todo o ano, associado, entre outros fatores, à fertirrigação e ao cultivo protegido.
Embora se tenha considerado anteriormente a temperatura do ambiente como o principal fator para o estabelecimento do potencial de uma região para o cultivo do morango, para a definição da época de plantio e para o seu desempenho produtivo tem que ser considerado, também, o fator ambiental fotoperíodo, a capacidade da planta de detectar e responder ao comprimento do dia.
Essa condição ambiental é primordial para que ela passe da fase vegetativa para a reprodutiva. Sendo o local apto para o cultivo do morangueiro, a interação entre fotoperíodo e temperatura irá definir as estratégias tecnológicas para o seu cultivo, pois é dessa condição que se vai propor a época de plantio, a(s) cultivar(es) a serem plantadas e, consequentemente, o manejo específico.
Cultivares
Atualmente, encontram-se disponíveis para o cultivo do morangueiro as cultivares de dias neutros (CDN), que vêm permitindo ampliar as estratégias para o cultivo desse fruto no Brasil.
Essas cultivares independem do fotoperíodo para o estímulo do seu florescimento, permitindo a sua produção durante praticamente todo o ano nas regiões tradicionais. Portanto, é fundamental o conhecimento das condições locais e do potencial das cultivares para se definir o planejamento para o empreendimento e as estratégias a serem adotadas.
Produtividade
Uma nutrição balanceada e equilibrada dos nutrientes N, P, K, Ca, Mg e mais os micronutrientes, principalmente B, Zn, Fe, Cu e Mo é fundamental para obter altas produtividades com qualidade no cultivo do morangueiro.
Para ter maior número de frutos por planta, é fundamental excelente florescimento e “pegamento” de frutos. Para isso, são fundamentais os seguintes nutrientes: K, B e Zn. No caso do K, afeta diretamente a quantidade de flores produzidas e também a viabilidade e “pegamento” das mesmas. Pesquisas recentes indicam que o silício (Si), é importante para se conseguir altas produtividades.
Qualidade do morango
A aparência do morango é a principal característica para o consumidor escolher os frutos na hora da compra. Frutos grandes, bem avermelhados e uniformes, sem mofos ou manchas, além de saborosos, devem ser priorizados na comercialização.
Para se obter qualidade dos frutos, é importante a aplicação de K, Ca e B. O K incrementa teores de açucares, cor intensa com brilho, melhor sabor e maior durabilidade pós-colheita.
O Ca possibilita maior integridade dos frutos, maior “sanidade” e durabilidade dos frutos na pós-colheita, bem como maior firmeza e resistência à manipulação durante a colheita e o B proporciona maior “sanidade” e firmeza dos frutos.
Custo de produção
A produção de morangos no Brasil cresce a cada ano, gerando diversos empregos no campo. Com o uso de tecnologias apropriadas, manejo cultural adequado e gestão eficiente, é possível realizar a produção de morangos durante todo o ano, tornando-se um bom negócio para o produtor e sua família.
O morango em cultivo orgânico tem uma produção média de 787 gramas por planta, com o custo de R$ 1,90 e índice de lucratividade de 60,74%. Já no cultivo convencional, a produção média é em torno de 871 gramas por planta e custo médio de R$ 1,93, com índice de lucratividade de 49,46%.
Uma planta bem cuidada tem produtividade média de 900 gramas a um quilo planta/ano. A produção de um bom volume de frutas possibilita à área ser rentável economicamente.