Gabriel Bazanela de Agostini
gabrielbazanela@hotmail.com
Gabrielli de Almeida Santos
gabriellidealmeidasantos@gmail.com
Graduandos em Engenharia Florestal – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Jaçanan Eloisa de Freitas Milani
Engenheira florestal, doutora e professora – UFMT
jacanan.milani@gmail.com
A fenologia é considerada o estudo do ordenamento temporal das fases das plantas, sejam essas vegetativas (brotação, maturação e senescência foliar) ou reprodutivas (botões florais, antese, fruto imaturo e fruto maduro).
Tais fases estão relacionadas com os fatores bióticos, como a polinização, e abióticos, como precipitação, temperatura, umidade relativa do ar, fotoperíodo e características pedológicas. É, portanto, importante ferramenta para descrever o comportamento de espécies, bem como sua resposta às variações do meio.
Origem
Apesar do que se imagina, sua utilização é datada desde os tempos remotos, quando, nos cultivos dos campos, os produtores já relacionavam o final do inverno com a brotação das plantas, a primavera com a floração, o verão com a maturação dos frutos e o outono com a queda foliar.
O primeiro registo fenológico é da florada de Prunus serrulata Lindl., na Ásia, espécie popularmente conhecida como cerejeira, que possui importância espiritual para japoneses e chineses.
No Brasil, tem-se registro de estudos fenológicos na Floresta Amazônica, em 1965 na Reserva Florestal Ducke (RFD) e em 1974 na Estação Experimental de Silvicultura Tropical.
Vale ressaltar que a fenologia não se restringe aos estudos científicos – ela também pode ser uma ferramenta essencial para diversas áreas, desde o cultivo, extrativismo, recuperação de áreas degradadas, arborização e a conservação da natureza.
Silvicultura
A palavra silvicultura provém do latim e quer dizer floresta (silva) e cultivo de árvores (cultura). Algumas espécies nativas no Brasil, apesar do imenso potencial madeireiro, ainda não possuem pesquisas e investimento de empenho privado ou governamental para propagação da espécie por técnicas como estaquia, micropropagação e outros, sendo dependentes de sementes para o plantio por semeadura direta, ou ainda para a produção de mudas.
Dessa forma, conhecer o período de maturação fisiológica e dispersão de sementes é fundamental para o planejamento das empresas que realizarão a coleta, reduzindo tempo e custos das equipes de campo.
Além disso, em plantios homogêneos, quando se busca madeiras com qualidade estética e com resistência física, deve-se realizar tratos silviculturais como a desrama, a fim de remover os galhos e, assim, obter uma madeira livre de nós.
Contudo, esta é uma operação que demanda planejamento, de forma que os estudos fenológicos podem indicar a época propícia à realização desta, a qual deve ocorrer no início do período vegetativo, em que o metabolismo do vegetal está em maior atividade e assim é capaz de realizar a compartimentalização de forma mais eficiente.
Extrativismo
É crescente o valor da produção oriunda da atividade extrativista de produtos não madeireiros, o que garante distribuição de renda principalmente para povos e comunidades tradicionais que, em suma maioria, vivem do extrativismo.
Segundo o relatório de Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS) realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2021, a produção proveniente de extração de produtos não madeireiros totalizou R$ 2,3 bilhões.
Destes, R$ 1,9 bilhão corresponde ao grupo dos produtos alimentícios, no qual o açaí e a erva-mate foram os insumos que mais tiveram participação, representando, respectivamente, 41,4% e 41% do valor da produção.
Neste viés, o conhecimento do calendário fenológico das espécies proporciona aos extrativistas a possibilidade de diversificação das atividades realizadas ao longo do ano, uma vez que a informação do período de maturação dos frutos ou de maior presença de folhas, como no caso do açaí e da erva-mate, respectivamente, garantem a otimização da extração, e nos demais períodos estes trabalhadores podem se dedicar a outras atividades.
Recuperação de áreas degradadas
Para o estabelecimento de projetos de recuperação de áreas degradadas, algumas técnicas recomendam o plantio de mudas. Para tanto, é fundamental a coleta de sementes, que pode ocorrer a partir de um calendário fenológico reprodutivo.
Ainda, durante o processo de recuperação de áreas degradadas, uma outra técnica bastante eficiente e de baixo custo é o aproveitamento do banco de sementes, proveniente da dispersão de propágulos.
Dessa forma, o conhecimento dos períodos do ano de maior dispersão de sementes das espécies-chaves para o processo de recuperação florestal, possibilita que sejam realizadas coletas e aproveitamento dessas sementes.
Arborização
A população urbana tem se conscientizado sobre a importância de arborizar suas cidades, devido aos benefícios ambientais, econômicos e sociais, variando desde melhoria do microclima, redução da poluição até redução do estresse da população pelo contato com a natureza.
Assim, buscar conhecer o ciclo de brotação, floração e frutificação contribui para o planejamento de um bom projeto de arborização e paisagístico, de forma que o ápice da beleza de uma espécie, atingido durante sua floração, esteja em sintonia com o período de ausência de flores das outras espécies também utilizadas para esta finalidade.
Além disso, o conhecimento fenológico das espécies vegetais empregadas nesses projetos é de absoluta relevância, considerando que constantemente as plantas vivem sob algum nível de estresse fisiológico, podendo indicar, conforme suas fases vegetativas e reprodutivas, uma base para o planejamento de ações silviculturais que permitam uma melhor adaptação das espécies ao ambiente urbano.
Conservação da natureza
No que concerne a conservação dos recursos naturais, a fenologia é uma ferramenta imprescindível na busca do entendimento e na identificação da organização temporal dos recursos naturais dentro das comunidades, visto que muitos animais utilizam as diversas partes plantas como fonte de alimento (flores, frutos, sementes e folhas).
O Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicou que as plantas estão sintonizadas com o meio ambiente, sobretudo com o clima.
Assim, a sazonalidade climática é capaz de acionar alterações no mecanismo fisiológico da planta, atuando como modulador metabólico. Dessa forma, alterações nas variáveis climáticas podem desencadear variações no calendário fenológico da espécie.