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O risco das pragas que vem de fora

 

Claudio Spadotto

Membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), gerente geral da Embrapa Gestão Territorial

 

O risco das pragas que vêm de fora - Crédito Rafael Soares
O risco das pragas que vêm de fora – Crédito Rafael Soares

As pragas (insetos, fungos, bactérias, plantas invasoras etc.) das lavouras costumam tirar o sono dos agricultores e seu controle custa caro. No Brasil, o mercado de defensivos agrícolas ” o método mais utilizado – movimentou U$ 13 bilhões em 2014.

Se não bastassem as pragas que já temos, existe o risco das que vêm de fora. A disseminação de pragas pelo mundo é favorecida pelo crescimento do comércio internacional. O aumento do trânsito de pessoas e mercadorias leva, cada vez mais, à chegada e a dispersão de pragas, mesmo que não intencional.

Aqui tratamos das pragas quarentenárias que não estão presentes no território nacional, mas apresentam alto potencial de entrada, com possíveis danos aos cultivos. Essas pragas podem gerar grandes perdas nas culturas agrícolas, como no exemplo recente da lagarta Helicoverpa armigera, que causou prejuízos estimados em mais de R$ 10 bilhões e nem sequer foi possível determinar com exatidão a forma como entrou no País. Outros exemplos são: vassoura-de-bruxa do cacaueiro, bicudo do algodoeiro e ferrugem asiática da soja.

O estabelecimento de uma praga quarentenária em uma região pode comprometer a safra e a comercialização de produtos agropecuários, implica no aumento dos custos de produção e na adoção de medidas fitossanitárias, que prejudicam diretamente o produtor rural e têm efeitos negativos em toda a cadeia produtiva.

O conhecimento dos possíveis danos das pragas quarentenárias e a identificação das áreas agrícolas ameaçadas, assim como a caracterização das possíveis vias de ingresso e rotas de dispersão, são fundamentais para orientar o planejamento e a execução da vigilância fitossanitária. A proximidade das vias de ingresso e a concentração geográfica de algumas culturas agrícolas facilitam a proliferação de pragas exóticas e potencializa os danos.

Contenção das pragas

Para apoiar a prevenção e o contingenciamento de pragas quarentenárias, a Embrapa vem conduzindo trabalhos em base territorial para subsidiar a definição de estratégias de defesa vegetal no Brasil.

Foram identificadas regiões em que ocorre grande produção de culturas agrícolas hospedeiras próximas a interseções de rodovias, ferrovias ou hidrovias na fronteira com países vizinhos e com ausência de postos de vigilância agropecuária.

Em outras regiões, é notada a deficiência do número de postos de controle em função da extensão da fronteira. Há, ainda, regiões longe da faixa de fronteira, mas com porto ou aeroporto próximos, sem postos de vigilância federal.

Já foram identificados 364 pontos de acesso terrestre (intersecção da fronteira territorial brasileira com rodovias, ferrovias e hidrovias) de pragas, e próximo à fronteira localizaram-se 26 pontos de acesso portuário, 105 aeródromos públicos e 414 aeródromos privados.

A Embrapa Gestão Territorial e o Conselho Científico de Agricultura Sustentável estão direcionando esforços conjugados no sentido de ampliar e aprofundar o trabalho de inteligência territorial para caracterização de vias de ingresso e priorização de locais para a implantação ou intensificação da vigilância fitossanitária e para identificação de áreas de contingenciamento de pragas quarentenárias.

Não estamos falando em zerar os riscos, mas sim de analisá-los e comunicá-los, para que possam ser devidamente gerenciados.

Essa matéria você encontra na edição de agosto da Revista Campo & Negócios Grãos. Adquira o seu exemplar.

 

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