Jolinda Mércia de Sá
jolinda.sa@unesp.br
Emanuele Possas de Souza
possasemanuele@gmail.com
Engenheiras agrônomas e doutorandas em Agronomia/Horticultura – UNESP
Antonio Ismael Inácio Cardoso
Professor titular do Departamento de Produção Vegetal – UNESP
antonio-ismael.cardoso@unesp.br
O quiabeiro agrega características de rusticidade, ou seja, não é exigente em tratos culturais de tutoramento e desbrota, como o tomateiro, por exemplo.
A resistência e rentabilidade contribuíram para o aumento da produção nos últimos anos. Esta é uma planta de clima tropical, que requer temperaturas entre 20 e 30°C para crescer e se desenvolver adequadamente, sendo sensível ao frio e intolerante a geadas.
O quiabo é uma cultura anual, que cresce melhor em solos bem drenados e ricos em matéria orgânica.
Nutrição
O quiabeiro é exigente em nitrogênio (N), potássio (K) e cálcio (Ca). Durante a fase vegetativa (primeiros 20 dias do ciclo) a absorção de nutrientes é lenta e ocorre maior demanda por nitrogênio, potássio e cálcio, nessa ordem.
A partir dos 50 dias, marcado pelo início da fase reprodutiva, aumenta a necessidade de cálcio, que tende a acumular-se em maior quantidade nas flores. Durante a frutificação, aumenta a necessidade de potássio, tendo em vista que esse nutriente é responsável pela translocação de açúcares para o fruto e está diretamente relacionado com a sua qualidade.
De maneira geral, o acúmulo de macronutrientes na planta segue a ordem decrescente de: K>Ca>N>Mg>P>S. Assim, a adubação deve ser feita de forma a disponibilizar adequadamente os nutrientes no solo para atender a demanda da cultura nas diferentes fases fenológicas.
Recomendações para a cobertura
As recomendações de adubações para o plantio e cobertura do quiabeiro devem ser prescritas de acordo com a análise do solo feita antes do plantio.
A análise química do perfil é feita a fim de verificar a necessidade de calagem e conhecer os níveis de nutrientes do solo. A partir daí é que são feitas as recomendações de adubações.
A dose de nitrogênio recomendada varia de 40 a 80 kg ha-1, sendo metade aplicada no plantio e a outra metade parcelada ao longo do ciclo. A dose de potássio varia de 20 a 120 kg ha-1 no plantio e 15 a 60 kg ha-1 em cobertura.
As coberturas iniciam aos 20 dias após a emergência das plantas, com repetições a cada intervalo de 30 dias, de acordo com o progresso de crescimento do quiabeiro no campo. É aconselhável aplicar o fósforo de uma única vez durante o plantio, devido à sua liberação lenta no solo pela maioria dos adubos fosfatados usados, em função da sua notável capacidade de adsorção no solo.
As doses de fósforo variam de 40 a 280 kg ha-1, dependendo dos teores iniciais no solo.
Calagem
A calagem é a principal fonte de cálcio e magnésio utilizada na agricultura. Devido à baixa saturação por bases naturalmente encontrada nos solos brasileiros, trata-se de uma prática indispensável para alcançar boa produção.
Esta deve ser feita, se necessário, com o objetivo de elevar o pH do solo a níveis adequados para a cultura, que varia de 6,0 a 6,8, e uma saturação por bases de 70-80%.
A calagem deve ser feita incorporando-se o calcário ao solo cerca de 30 dias antes do plantio, e utilizando fontes que contenham magnésio em sua composição, caso o teor desse macronutriente no solo esteja abaixo de 9 mmolc/dm3.
Técnicas eficientes
A adubação foliar pode ser feita com o objetivo de fornecer micronutrientes e cálcio às plantas. Nesse último caso, é indicado quando se constata a deficiência de cálcio nas folhas mais velhas e nos frutos, devido à baixa mobilidade deste dentro da planta.
Como regra, recomenda-se efetuar pulverizações pelo menos duas vezes, com solução de molibdato de amônio na concentração de 0,2 g L-1 entre o início do desenvolvimento e a floração, tendo em vista que o molibdênio é necessário para a formação adequada de órgãos vegetativos e reprodutivos, como folhas, flores e frutos.
Alguns estudos também sugerem que aplicações foliares de biofertilizante misto, ou seja, com uma fonte orgânica e outra fonte inorgânica de nutrientes, podem influenciar positivamente o crescimento e a produção de frutos de quiabo.
Pulverizações foliares com biofertilizantes à base de pescados frescos e melaço de cana também podem melhorar o desempenho de mudas de quiabeiro.
Como evitar deficiências nutricionais
Aplicar apenas as doses recomendadas e fazer parcelamento da adubação melhora a disponibilidade de nutrientes no solo em quantidades suficientes para atender as necessidades da planta nos diferentes estágios de desenvolvimento, evitando problemas com toxidez e desperdício.
A incorporação de fontes orgânicas de nutrientes, como composto ou esterco bem decomposto, podem melhorar a estrutura e a fertilidade do solo, fornecendo gradualmente os nutrientes para as plantas e evitando problemas como toxidez.
Manter um manejo adequado da irrigação é essencial para garantir que as plantas tenham acesso à água e aos nutrientes. A irrigação deve ser suficiente, mas não excessiva, para evitar perdas de nutrientes por lixiviação.
Uma prática indispensável e necessária é a rotação de culturas, para reduzir o esgotamento de nutrientes no solo e prevenir o acúmulo de patógenos específicos do quiabo.
Para isso, deve-se intercalar cultivos de quiabo com plantas de outras espécies, como leguminosas, por exemplo, que podem ser utilizadas como adubo verde e possuem mecanismos de fixação de nitrogênio, melhorando a disponibilidade deste no solo.
Por fim, o monitoramento regular da cultura no campo pode ajudar a identificar deficiências nutricionais, permitindo ajustar as doses, caso necessário. É importante ficar atento ao surgimento de sintomas como folhas amareladas e crescimento lento, que podem indicar alguma deficiência nutricional.
Curiosidades
O quiabeiro (Abelmoschus esculentus) é uma planta originária da África, na região da Etiópia, e é conhecido por diferentes nomes em várias partes do mundo, incluindo quiabo, quiabeiro, gumbo, ocra, bamia e lady’s finger (dedo de moça).
Boas práticas de manejo nutricional
A maximização na produtividade do quiabo pode ser alcançada com o emprego de dois manejos de forma equilibrada: adubação e irrigação. A análise do solo é indispensável para caraterização da sua estrutura e fertilidade.
Somente após a análise química é possível recomendar as quantidades necessárias de nutrientes que a planta precisa, sempre evitando a falta ou o excesso. O conhecimento da estrutura do solo também possibilita a melhor escolha das fontes de nutrientes, optando-se por aquela que irá disponibilizar os nutrientes na época adequada.
Irrigação
A irrigação pode ser uma aliada ou inimiga da adubação. Isso acontece por que a quantidade de água aplicada durante a irrigação pode afetar a concentração de nutrientes no solo. Irrigações excessivas podem diluir os nutrientes no solo, tornando-os menos disponíveis para as plantas.
Por outro lado, irrigações insuficientes podem levar a concentrações excessivamente altas de nutrientes, o que pode prejudicar a absorção pelas raízes. Uma maneira de usar a irrigação a favor da nutrição é o emprego da fertirrigação, que fornece água na quantidade suficiente e nutrientes diluídos em contrações adequadas.
Matocompetição
Além da adubação e da irrigação, o controle de plantas espontâneas também pode aumentar a produtividade da área, pela redução da competição interespecífica por nutrientes, água e espaço.
Esse controle deve ser feito no início do desenvolvimento das plantas, pois uma competição acentuada nesse período pode aumentar o ciclo da cultura no campo, o que não é desejável, uma vez que quanto maior o período de permanência da cultura em campo, maiores são os custos com água e nutrientes.
Inovações
Em relação ao manejo nutricional do quiabo, o mercado agrícola continua a evoluir, com produtos e tecnologias inovadoras para melhorar a nutrição das plantas, a produtividade e a qualidade dos cultivos.
Entre esses produtos, destacam-se as novas fontes de nutrientes de liberação controlada, os adubos líquidos contendo micro e macronutrientes, além de bioestimulantes.
Os fertilizantes de liberação controlada são nanofertilizantes que incorporam polímeros semipermeáveis contendo exatamente a concentração necessária de nutrientes para as plantas. Eles garantem o fornecimento contínuo de nutrientes ao longo de um período estendido, diminuindo a necessidade de várias aplicações durante a estação de crescimento.
Essa abordagem ajuda a manter a oferta estável de nutrientes para o quiabo e pode reduzir o desperdício de fertilizantes devido à volatilização ou lixiviação.
Hormônios e outras técnicas
Bioestimulantes à base de microrganismos benéficos, como bactérias e fungos micorrízicos, podem ser aplicados para melhorar a absorção de nutrientes pelas plantas, aumentar a resistência a doenças e estresses, e melhorar a qualidade dos frutos.
Existe, no mercado, uma ampla diversidade de produtos biológicos para este fim, com eficiência comprovada sobre o desenvolvimento saudável e vigoroso das plantas.
Já os fertilizantes líquidos fornecem uma mistura equilibrada de macro e micronutrientes para o quiabeiro. Eles podem ser aplicados via fertirrigação, permitindo uma administração precisa de nutrientes diretamente às raízes das plantas.
É importante destacar que a escolha dos produtos e tecnologias dependerá das condições específicas dos cultivos, das necessidades das plantas e das práticas agrícolas que serão adotadas.
É aconselhável consultar um agrônomo ou especialista em cultivo de quiabo para orientações específicas com base nas suas circunstâncias locais e nas variedades que se deseja cultivar.