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Alternativa para alta produtividade da soja

Fabio Olivieri de Nobile
Doutor e professor de Fertilidade do Solo – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB)
fabio.nobile@unifeb.edu.br

A soja (Glycine max (L.) Merrill) é perfeitamente adaptada às condições brasileiras, dispondo de elevada tecnologia nacional, alcançando produtividades agrícolas em torno de 3.000 a 6.000 kg de soja por hectare, ou seja, de 50 a 100 sacas de 60 kg por hectare.

Créditos: Pexels


As principais regiões produtoras do Brasil são as que recebem abundantes quantidades de energia solar, temperatura e precipitação.
Segundo a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), na safra 2021/22 o Estado mato-grossense, líder nacional na produção de soja, produziu mais de 39 milhões de toneladas, com uma área plantada de 10.909,4 milhões de hectares. Mas ele não está sozinho.
As regiões brasileiras centro-oeste e sul também se destacam, sendo responsáveis por cerca de 70% da produção do grão. No Paraná, por exemplo, a produção dessa mesma safra foi de 12.104,1 milhões de toneladas.
Já no Rio Grande do Sul, 9.727,7 milhões de toneladas. O Estado de Goiás, apesar de ter a menor produção entre esses Estados citados, merece destaque por sua produtividade. De acordo com esse mesmo levantamento da CONAB, o Estado obteve produtividade de 3.958 kg/ha, a maior entre os quatro Estados líderes produtivos do País e acima da média da produtividade brasileira, que é de 3.026 kg/ha.
Outros Estados expressivos na produção de soja são Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e a região conhecida como “MaToPiBa”, que engloba os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia

Tetos produtivos

Os altos resultados de produtividade acima apresentados só foram possíveis devido a estudos baseados na interação entre os fatores fisiológicos e nutricionais, principalmente.
O manejo nutricional começa pelo monitoramento e levantamento nutricional necessários para a cultura da soja. Define-se a produtividade esperada, observam-se os níveis de elementos no solo e o que deve ser feito para atingir o objetivo traçado.
São 17 elementos que as plantas utilizam, sendo três deles (carbono, hidrogênio e oxigênio) obtidos naturalmente e os 14 são nossa responsabilidade fornecer.
O manejo correto da adubação da soja é um dos fatores que contribui para maximizar a produtividade. Além disso, uma nutrição balanceada contribui para proteger a planta do ataque de pragas e doenças.
É importante fornecer esses nutrientes para as plantas nos períodos de maior demanda nutricional. Por isso, ter conhecimento da marcha de absorção de nutrientes da soja permite melhorar a eficiência da adubação.

Absorção de nutrientes

A soja apresenta uma taxa inicial de absorção de nutrientes bastante reduzida, devido ao seu pequeno crescimento nessa fase. A etapa de maior exigência nutricional inicia-se por volta dos 30 dias e se mantém elevada até o início do enchimento dos grãos, quando a fixação de nitrogênio e a atividade fotossintética são elevadas e produzem um desenvolvimento mais acelerado.
Uma intensa translocação de nutrientes, acumulados nas partes vegetativas, ocorre à medida que o enchimento de grãos evolui, diminuindo a demanda por nutrientes do solo. Posteriormente, as atividades fisiológicas apresentam redução sensível, encerrando com a maturação da planta, a absorção e o processo fotossintético.
Sabe-se que a ordem decrescente de exigências nutricionais da soja é N, K, Ca, Mg, P e S. Sabe-se ainda que o acúmulo máximo dos nutrientes ocorre entre 82 e 92 dias de idade, que a maior taxa de absorção dos macronutrientes ocorre entre 39 e 58 dias, e que 50% do total de nutrientes já foi absorvido entre 20 e 39 dias.

Nutrição equilibrada para alcançar altas produtividades
Foto: Shutterstock

Funções dos nutrientes

Os nutrientes desempenham funções estruturais e metabólicas nas plantas. Sua disponibilidade correlaciona-se ao rendimento de grãos. As desordens nutricionais ocasionam redução de produtividade e estão associadas a sintomas característicos da falta de cada nutriente.
Antes mesmo do surgimento dos sintomas, o crescimento e a produção já foram limitados, situação denominada fome oculta. Apesar da sintomatologia de cada desordem nutricional ser característica, a diagnose visual é apenas a primeira etapa do diagnóstico nutricional, e deve ser confirmada pelas análises do solo e de tecidos.
Considerando as áreas destinadas à produção de grãos, os solos brasileiros apresentam baixa fertilidade natural e elevada acidez. É mais comum que apareçam sintomas decorrentes da deficiência nutricional do que do excesso.
A deficiência de NPK diz respeito à carência de nitrogênio, fósforo e potássio nas plantas. Cada um desses elementos desempenha um papel na cultura, e sua deficiência pode comprometer a produtividade e a qualidade do produto.

Nitrogênio

O nitrogênio é o nutriente demandado em maior quantidade pela cultura da soja. A maior parte desse elemento é obtida pelo processo de fixação biológica. Há controvérsias quanto ao uso de nitrogênio mineral na soja.
A recomendação para o manejo do nitrogênio é a inoculação das sementes com bactérias do gênero Bradyrhizobium. É importante frisar a importância da presença de cobalto e molibdênio para a eficiente fixação biológica do nitrogênio.
A deficiência de nitrogênio afeta primeiro as folhas mais velhas da soja. Elas apresentam clorose seguida de necrose. A clorose pode ser distribuída de forma uniforme ou em áreas internervais da folha.

Fósforo

Na adubação da soja, o fósforo é o elemento que tem o maior custo para o produtor. Algumas fontes de fósforo utilizadas na agricultura são o superfosfato simples (20% de P2O5) e o fosfato monoamônio (48% de P2O5).
Os sintomas de deficiência desse elemento são visíveis primeiro nas folhas mais velhas, em razão da alta mobilidade do fósforo na planta.
As plantas com sintomas de deficiência de fósforo apresentam folhas de tamanho reduzido, além de terem seu crescimento prejudicado. Nesse caso, também há presença de clorose e necrose internerval. As folhas podem exibir coloração que varia do verde-escuro ao azulado.

Potássio

Depois do nitrogênio, o potássio é o elemento mais exigido pela soja. A principal fonte de potássio utilizada na agricultura é o cloreto de potássio.
Os sintomas da deficiência desse elemento incluem clorose internerval seguida de necrose das folhas mais velhas. Esse sintoma tem início na margem foliar e, com o avanço da deficiência, a clorose-necrose avança para o centro dos folíolos.
Além disso, a deficiência de potássio afeta diretamente a qualidade dos grãos. Plantas carentes desse elemento produzem grãos de menor tamanho e peso, enrugados e deformados.
A carência desse elemento também pode levar à redução do porte da soja, aumentar a suscetibilidade das plantas ao ataque de pragas e doenças, além de diminuir os teores de proteínas nos grãos.

Máximo potencial

Para atingir o máximo potencial no uso dos nutrientes para melhorar o funcionamento da planta, se faz necessário o conhecimento do manejo fisiológico, que apresenta alguns desafios, tais como: entender que em cada etapa de desenvolvimento a planta tem uma necessidade específica; no estabelecimento inicial, por exemplo, o objetivo é formar raiz, estruturar a planta.
No vegetativo, há algumas etapas críticas como fixação de flores e enchimento de grãos. Precisamos entender qual processo a planta está realizando e como podemos favorecê-lo.
Para se trabalhar em conjunto o manejo fisiológico e o manejo nutricional, é preciso ter primeiro a nutrição balanceada, para que a planta tenha os nutrientes para crescer e se desenvolver.
A partir daí, trabalha-se com outras ferramentas, como os bioestimulantes, que são substâncias que favorecem a planta, melhorando suas características fisiológicas e nutricionais, da germinação ao enchimento de grãos, para obter melhor performance.
Com uma base bem nutrida, a planta fica mais forte e vigorosa. Assim, é possível estimulá-la para entregar mais produtividade.
Entretanto, é fundamental saber o objetivo da aplicação que será feita. Existem diversas ferramentas. Se o desejo é estimular enraizamento é uma aplicação, se é para atenuar estresses é outra específica. Entendendo o objetivo é que será definido o que utilizar, quanto e quando aplicar e o que se espera desse manejo.

Eficiência

Foto: Shutterstock

Para um melhor aproveitamento das aplicações de nutrientes, se faz necessário identificar os estádios fenológicos da cultura, conhecendo assim as máximas exigências, relacionando o elemento químico com a melhor época de aproveitamento pela planta.
O sistema para identificação da fase fenológica da cultura da soja divide os estádios de desenvolvimento em estádios vegetativos e estádios reprodutivos. Os estádios vegetativos são designados pela letra “V” e os reprodutivos pela letra “R”. Com exceção dos estádios VE (emergência) e VC (cotilédone), as letras “V” e “R” são seguidas de índices numéricos que identificam estádios específicos, nessas duas fases do desenvolvimento da planta.
O crescimento das raízes ocorre durante toda a fase vegetativa do ciclo de vida da planta, cessando a partir do início do florescimento. A formação de nódulos tem início normalmente aos sete a 10 dias após a emergência da planta (estádio VC), tornando-se visíveis e mais capazes de lhe fornecer nitrogênio, a partir do primeiro trifólio expandido (V2).
A partir do quarto trifólio expandido, a planta acelera o acúmulo de matéria seca e de nutrientes em sua parte aérea, o que justifica algumas estratégias de manejo adotadas entre os estádios V2 e V4, como, por exemplo, a pulverização foliar de cobalto e molibdênio, essenciais ao processo de fixação biológica do nitrogênio.

Avaliação da planta

A análise foliar é uma importante ferramenta auxiliar no manejo nutricional da cultura da soja. Ela permite inferir sobre a fertilidade do solo, uma vez que há relação entre os nutrientes acumulados nos tecidos foliares e os nutrientes disponíveis no solo para as plantas.
A avaliação do estado nutricional da planta é feita pela análise química de uma amostra de folhas, coletadas entre o início do florescimento e a plena floração da cultura (R1 – R2). De acordo com o ciclo fenológico da soja, a amostragem deve ser realizada no estádio R1 (início do florescimento).
É nesse período que ocorre o máximo acúmulo de nutrientes pela cultura. As folhas apresentam maiores concentrações de nutrientes que serão expressos na análise foliar.

Inovações

Em relação aos avanços nessa área nos últimos anos está a participação de alguns nutrientes, como o magnésio e o selênio, na redução do estresse foto-oxidativo; o papel de biorreguladores na mudança do porte e da arquitetura da planta; estratégias para a produção de enzimas destruidoras de radicais livres; uso de nitrogênio foliar no enchimento de grãos; a participação dos microrganismos do solo no aumento da disponibilidade de nutrientes e na defesa de plantas; o uso de filtros solares na redução da temperatura da folha; entre outros.

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