Willian Ricardo Monesi da Silva
Engenheiro agrônomo e mestrando em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
willian.monesi@gmail.com
Franciely S. Ponce
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Horticultura e professora do Departamento de Agronomia – UNIPAR/Umuarama-PR
O cultivo do morangueiro pode ocorrer de modo orgânico, tendo como premissa o respeito ao ambiente de cultivo no sentido de integração e preservação. Dentro do cultivo orgânico, as práticas de adubação utilizam adubos de origem natural, como esterco bovino, cama de frango e adubação verde.
Já no controle de pragas e doenças, as alternativas implementadas utilizam inimigos naturais, extratos de plantas e calda bordalesa.
Na forma convencional, se utiliza de todo um pacote de ferramentas, que garante o bom desenvolvimento da planta, assim como a redução de perdas na produção, utilizando desde os adubos químicos aos agrotóxicos, que proporcionam um rápido desenvolvimento do fruto. Em contrapartida, se torna mais suscetível a danos e menos saboroso, em comparação ao morango orgânico.
Segurança alimentar
Os morangos, em geral, são consumidos in natura devido ao seu sabor, aroma, atratividade e aspectos nutricionais. Nesse contexto, os morangos orgânicos entregam mais qualidade em todos esses quesitos, com a vantagem de ser um produto seguro ao consumo humano, por não conter traços de agrotóxicos e seu cultivo ser menos agressivo ao meio ambiente.
Desta forma, este nicho de mercado paga mais pela qualidade associada. O modelo de cultivo orgânico, com seus benefícios ambientais, a segurança alimentar e até mesmo o cultivo por agricultores familiares e locais, agrega tradicionalidade e confiança para quem compra e consome esse produto.
Desafios persistem
A cultura do morangueiro precisa de condições edafoclimáticas mais amenas. Além disso, o fruto é sensível a doenças, como o mofo cinzento (Botrytis cinerea), e suscetível ao ataque de pragas.
Desta forma, no cultivo orgânico o grande desafio é produzir com qualidade, sem o aporte de agrotóxicos. O ideal, portanto, é fazer amostragens três vezes por semana, buscando identificar a presença de pragas e doenças, assim como a remoção de focos iniciais, a partir da remoção de folhas e frutos que apresentem danos causados por microrganismos ou insetos.
Ao contrário do cultivo convencional, em que os produtos são de fácil aquisição e aplicação, as estratégias utilizadas no cultivo orgânico dependem de disponibilidade do recurso a ser utilizado. No caso do controle de insetos-praga, é comum o uso de extratos vegetais e uma combinação de alho e pimenta. Ambos criam uma proteção repelente a insetos.
Com relação às doenças causadas por fungos, o método de controle recomendado é utilização da calda bordalesa, uma mistura de cal virgem, sulfato de cobre e água. Seu uso é permitido em cultivos orgânicos, por ser de baixa toxicidade ao meio ambiente e por controlar os fungos causadores da antracnose no morangueiro.
Mesmo se tratando de um método utilizado nos cultivos orgânicos, alguns cuidados devem ser tomados para evitar danos às plantas, como respeitar a concentração de 1% na calda e não aplicar em plantas e tecidos jovens, para evitar o surgimento de manchas.
DESTAQUE
Dentre outras práticas, recomenda-se:
• A utilização de mudas sadias;
• Escolha correta da variedade (adaptada à região de cultivo);
• Adubação balanceada e adequada;
• Escolha correta da área, evitando áreas de encharcamento;
• Eliminação de plantas doentes e/ou atacadas por pragas;
• Limpeza das folhas e flores atacadas por pragas e/ou doentes.
• Plantio em época adequada.
Quando plantar
Por se tratar de uma cultura responsiva ao fotoperíodo, o período de plantio deve ser respeitado, para garantir o bom desenvolvimento das plantas (Tabela 1).
Tabela 1. Recomendação de período de implantação da cultura do morangueiro conforme a altitude.
Altitude (m) | ||||
Acima de 700 | 600 a 700 | 500 a 600 | Menor que 500 | |
Mês para implantação | Fev a Mar | Abril | Maio | Não recomendado |
Alternativas
O uso de ambiente protegido e manejo de pragas a partir da utilização de túneis também são práticas compatíveis com a agricultura orgânica.
Neste tipo de cultivo, a cobertura do ambiente de cultivo visa a melhoria das condições edafoclimáticas, mas também auxilia na redução de pragas e doenças. Contudo, é preciso cuidado quanto à escolha do material de cobertura para que o morangueiro se desenvolva bem, além de observar a eficiência na proteção da cultura.
Adubação orgânica
Os adubos utilizados no cultivo de morango orgânico devem respeitar os preceitos do cultivo, sendo utilizados produtos derivados de fontes renováveis. Estes são produzidos a partir de esterco bovino e cama de frango, biomassa de plantas, farinha de osso, torta de mamona, cinza, dentre outros.
Devem ser incorporados ao solo cerca de 30 dias antes do plantio, com o objetivo de evitar a intoxicação das mudas, seguindo uma recomendação de três litros de adubo/m² da área cultivada. Este método melhora a retenção de água no solo, incorporando matéria orgânica.
Recomenda-se a aplicação de 4.200 kg/ha de torta de mamona como fonte de nitrogênio e 46,2 kg de potássio, sendo necessária a suplementação de mais 44 kg de K, que poderá ser suprida a partir de outra fonte, como cinzas.
Estas fontes de adubo também podem ser utilizadas para constituição da adubação de cobertura.
Após a primeira colheita a adubação dever ser fornecida novamente por meio da irrigação. Há a necessidade de os resíduos serem curtidos com antecedência, para reduzir os níveis de nitrogênio e patógenos presentes.
Após esta fase, o esterco deve ser coado, com auxílio de peneiras e/ou tecido, para posteriormente ser diluído, evitando assim o entupimento dos gotejadores e a aplicação excessiva de nutrientes. Esta fertirrigação garante a produtividade e deve ser realizada de forma intercalada com a irrigação.
Rotação de culturas
A rotação de cultura é uma ótima estratégia de manejo da área, otimizando a fertilidade e controle de pragas e doenças. No primeiro momento, a área rotacionada promove a diversificação do cultivo com outras espécies, seja de valor comercial, como outras hortaliças, seja por vantagens ambientais, como refúgio de inimigos naturais ou barreiras a insetos-pragas.
Além disso, há a manutenção do solo com reposição de matéria orgânica, melhoria nos atributos físicos e químicos.
Atenção!
O morango se desenvolve em uma camada superficial do solo, utilizando recursos disponíveis na faixa de 30 cm. Abaixo desse nível, temos perda de nutrientes que percolam ou lixiviam para camadas mais profundas do solo.
Uma forma de reaproveitar esses nutrientes perdidos se dá a partir da implantação de culturas com sistema radicular mais desenvolvido.
A diversificação do sistema de cultivo promove o melhor aproveitamento dos recursos, além de auxiliar na redução de pragas e doenças. Vale ressaltar que é importante utilizar plantas que sejam de famílias diferentes do morango e que não compartilhem as pragas e doenças-chave, para proporcionar os benefícios de barreira e quebra de ciclo destes patógenos.
Benefícios ambientais
Como o sistema orgânico prioriza a proteção do solo, diversificação do ambiente de cultivo, além da presença de biomassa, isso faz com que o solo perca menos água. Além disso, a presença da matéria orgânica auxilia na fertilidade, microbiota e reduz a amplitude térmica.
Ainda, o cultivo orgânico de morango proporciona uma série de benefícios ambientais, principalmente por abolir o uso de agrotóxicos, proporcionar maior segurança dos alimentos e ambiental, além de auxiliar na preservação da entomofauna benéfica, como abelhas.