Mauricio Paulo Batistella Pasini
Engenheiro agrônomo, doutor, entomologista e estatístico – Intagro – Consultoria Pesquisa e Treinamentos
mauricio.pasini@gmail.com
Insetos-praga em sistemas de cultivo têm levado uma parte significativa do potencial produtivo das diferentes culturas, seja se alimentando de parte das plantas, como lagartas e besouros, seja sugando as plantas, como percevejos, mosca-branca, pulgões e cigarrinhas, ou ainda introduzindo agentes patogênicos, que posteriormente irão causar doenças como viroses, enfezamento, entre outras.
Danos
De fato, insetos-praga, quando vinculados às plantas, podem representar entre 20 a 30% de redução do potencial produtivo, os quais estão atrelados não só ao descrito anteriormente, mas também a um custo fisiológico que a planta tem para se recuperar dos impactos decorrentes da alimentação do inseto.
Os danos envolvem: modificações de rotas metabólicas para a produção de metabólitos secundários; contenção de infecções e agentes patogênicos; contenção de ferimentos; comunicação entre plantas visando alerta e outros organismos, principalmente controladores biológicos.
Essa complexa interação entre plantas e insetos, como destacado, gera um custo energético cumulativo, o qual impacta não só a cultura, mas toda a sucessão de cultivos, visto que há persistência e aumento populacional de sua prole.
Embora a percepção de que insetos são manejados na cultura, deve-se ressaltar que esses organismos são pragas de sistema, e a sucessão de cultivos só favorece seus aumentos populacionais.
Insetos-praga de sistemas
Quando determinada espécie de inseto tem a capacidade de persistir ao longo da sucessão de cultivos, tendo apenas o ambiente como fator limitante e gerando impacto econômico, esse organismo passa a ser considerado praga de sistema.
Nesse contexto, não são muitas as espécies de insetos que se enquadram, porém, o que preocupa é que essas espécies são as que apresentam as maiores densidades, como por exemplo Spodoptera frugiperda, Caliothrips ssp., Frankliniella ssp. e Diceraeus melacanthus.
Contudo, outras espécies têm se adaptado a essas condições, não gerando impacto econômico ao longo da sucessão, mas persistindo nas diferentes plantas, como Bemisia tabaci, Dalbulus maidis, complexo de pulgões e lagartas Heliotinae.
Em destaque
A lagarta-do-cartucho está presente em praticamente todos os cultivos, como soja, milho, trigo, sorgo, milho, algodão, entre outras. Nessas duas últimas culturas destacadas, em muitas situações não se tem respeitado as biotecnologias expressas em plantas.
Os tripes constituem, hoje, um grande desafio para o manejo, pois, além de estarem presentes nas culturas citadas, algumas espécies podem ser vetores de viroses.
Ressalta-se que, por serem insetos de tamanho menor, suas densidades só são percebidas quando estão em níveis elevados.
O percevejo barriga-verde é a espécie que tem mais se beneficiado dos sistemas de cultivo. Além de ser o principal inseto-praga para início do desenvolvimento da cultura do milho, em soja e outras culturas tem passado a gerar impactos relevantes, sendo, entre as espécies de percevejo, a de maior dificuldade de controle.
A mosca-branca, embora presente em algodão e soja, nas últimas safras tem chamado a atenção em milho, pela atividade alimentar e reprodutiva.
Já a cigarrinha-do-milho, embora mais específica nesta cultura, observações em soja, algodão, sorgo e milheto são constantes, o que reforça a preocupação com a persistência em outras plantas. Por outro lado, o complexo de pulgões e lagartas Heliotinae, embora de ocorrências específicas nas diferentes culturas, tem presença mais constante.
Estratégias de manejo
O manejo de insetos em sistemas de cultivo tende a buscar ferramentas no estabelecimento das populações nos ambientes, quando estas em baixas densidades populacionais causam reduzidos impactos econômicos, e manejos realizados impactam na cultura e na sucessão.
Uma estratégia simples, que deve ser vista como “investimento a longo prazo”, busca alocar ferramentas que entregam suas maiores performances, por exemplo: lagartas Spodoptera com hábito de rosca em uma cultura que se estabelecem na cultura anterior exigem investimentos abaixo de US$ 10,00.
Controlar lagartas em primeiros instares resolveria o problema de sucessão, mas a presença de lagartas com hábito rosca exige investimento em manejo que passa dos US$ 15,00. Portanto, o desafio está em acertar o “time” em que essas lagartas ainda estão nos primeiros instares.
Com ciclo curto, em poucos dias já se tem a presença de indivíduos de maior tamanho, cabendo aqui a estratégia de monitorar mariposas, seja com armadilha luminosa ou feromônio. A captura delas há pelo menos nove dias permite ferramentas de baixo investimento, mas de elevado retorno.
Embora traga-se o case de Spodoptera, outras espécies de insetos destacadas também possuem formas de controle que impactam em suas manutenções em densidades baixas, mitigando os impactos na sucessão.
Nesse contexto, o uso de ferramentas biológicas passa a ser uma estratégia de encaixe para essa lógica de manejo, pois fungos entomopatogênicos, nematoides entomopatogênicos, virus entomopatogênicos e parasitoides de insetos tendem a persistir nos ambientes.
Embora não sejam agentes de controle principal, eles passam a atuar na manutenção das densidades populacionais de insetos-praga em níveis aos que estariam sem a presença das ferramentas.
Fungos entomopatogênicos
Fungos que atuam sobre insetos têm ação generalista, necessitando de insetos para que sua persistência e variabilidade genética ocorram. É sempre importante considerar a espécie de fungo, a cepa e a formulação, características que influenciam em suas persistências e efetividade sobre os insetos.
Destaca-se que, no uso de fungos, diferente de ferramentas químicas, sua ação é mais lenta, mas sua persistência no ambiente e maior, sendo sinérgica a associação entre elas.
O Metarhizium anisopliae é um fungo com agressiva ação, principalmente para insetos que estão em solo, ou que parte de seu ciclo persistem nesse ambiente. Pode ser muito bem empregado sobre o complexo de tripes (soja, milho e algodão), além de ter ação efetiva sobre a larva-alfinete (fase imatura da Diabrotica speciosa).
Além desses alvos, estudos mostram sua performance em lagartas (Heliothinae em milho) e percevejos (sistemas soja e milho – percevejo barriga-verde).
Beauveria bassiana é um fungo que se consolidou no manejo da mosca-branca, podendo também ser utilizado para controle de pulgões (milho, algodão e sorgo), percevejos (em maior concentração), além de servir como alternativa para manejo de cigarrinha-do-milho.
Cordyceps (Isaria) fumosorosea se destaca como a principal ferramenta biológica para a cigarrinha-do-milho, contudo, tem se obtido bons resultados no manejo de percevejos, mosca-branca, pulgoes e tripes, ressaltando a versatilidade desse fungo para outros alvos.
Nematoides entomopatogênicos
Nematoides, embora sejam mais conhecidos aqueles que atacam plantas, recentemente o uso da ferramenta para controle de insetos passou a ser difundida.
Entre os benefícios de Steinernema carpocapsae, destaca-se sua persistência no ambiente, ação sobre um grupo amplo de espécies, como Spodoptera frugiperda e Heliothinae, além do seu efeito em pragas que ocorrem em solo, como larva-alfinete e corós.
Vírus entomopatogênicos
O Brasil tem o maior case de sucesso com a ferramenta Baculovírus anticarsia. Contudo, nos últimos anos o desenvolvimento dessa ferramentas tem agregado ao controle de um maior número de espécies de insetos, como Spodoptera frugiperda e Heliothinae, se encaixando muito bem no manejo de sistemas.
Parasitoides de insetos
A Spodoptera frugiperda e Heliotinae ganham aqui um importante agende de controle, pois o uso dessa ferramenta agrega a longo prazo na diminuição de densidades populacionais.
Cabe aqui uma estratégia em função do alvo na liberação de Trichogramma pretiosum. Para Spodoptera frugiperda, que apresenta massas de ovos, a liberação deve acontecer no início dos primeiros fluxos populacionais, pois embora Trichogramma não consiga atingir todos os ovos, gradativamente ocorrerá uma redução nas densidades.
Já para Heliothinae, em especial Helicoverpa zea, sua liberação deve estar atrelada ao monitoramento, e a partir da constatação de mariposas, as liberações devem acontecer em três dias, coincidindo a liberação com as posturas, aumentando assim a efetividade do controle.
Em resumo, são inúmeras as estratégias que se somam para auxiliar no manejo de insetos em sistemas, destacando-se as ações feitas em uma cultura que se refletem na seguinte.