Laércio Boratto de Paula
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia e professor – IF Sudeste MG, campus Barbacena
laercio.boratto@ifsudestemg.edu.br
As opções de plantio no inverno, época tradicionalmente mais propícia ao cultivo de cenoura no Brasil, são bem variadas. Existem cultivares e híbridos que atenderão muito bem este período específico de plantio.
A escolha de uma cultivar ou de um híbrido irá depender do sistema de produção adotado. Híbridos têm maior potencial produtivo, são mais estáveis em termos de qualidade e padronização. Porém, exigem tratos culturais mais refinados, um investimento maior.
Já as cultivares são menos exigentes em termos de tratos. Contudo, têm um menor potencial produtivo e são menos uniformes, em se tratando do produto final, a raiz.
Entre as cultivares indicadas estão aquelas do grupo Nantes (cultivar lançada no século retrasado), ainda hoje um padrão em termos de qualidade, a Forto, mais usada no Sul do Brasil, e outras menos conhecidas, como Esperanza, Ferracini e Tamires.
Já entre os híbridos, entre outros, podem-se citar: Maestro, Melissa, Tellus, Belgrado, Concerto, Romance e Baltimore.
É possível plantar cenoura em outras épocas do ano?
Sim, é possível. No Brasil, temos duas safras distintas de cenoura, a de inverno e a de verão. Ao longo dos anos, foram lançadas cultivares e híbridos que permitem o cultivo desta hortaliça em diferentes estações.
A cenoura é um dos maiores exemplos de sucesso no programa de melhoramento vegetal. Mesmo sendo uma cultura de clima ameno, desenvolveu-se, com êxito, cultivares e híbridos que se adaptam também a um clima mais quente. Assim, estão disponíveis no mercado opções que se encaixam em climas mais amenos ou mais quentes.
A época em que se encontra maior dificuldade de se fazer o semeio são os meses de transição entre as estações, como agosto, por exemplo.
A título de curiosidade, neste ano a Embrapa lançou o primeiro híbrido de cenoura, indicado para o verão, desenvolvido por empresa pública, no Brasil, a BRS Carmela.
Condições de clima e solo
De maneira geral, como já foi dito e sabido, a condição em que a cenoura está mais adaptada é de um clima ameno. Entre os fatores climáticos, o que mais afeta a cultura, sem dúvida, é a temperatura. O ideal é que esta varie entre 15 a 24°C.
Temperaturas mais altas desfavorecem a formação do pigmento alaranjado, que é característico desta hortaliça. A saber, existem dois tipos de cenoura: a asiática, que não é comum no Brasil, e a europeia ou ocidental, que é plantada por aqui.
No caso da cenoura ocidental, a coloração mais comum é a alaranjada, e o pigmento que propicia esta cor deriva, especialmente, de um carotenoide chamado betacaroteno, que é o precursor da vitamina A. Quanto mais colorida for a cenoura, melhor será sua qualidade nutricional.
Raízes mais compridas
Já temperaturas mais baixas induzem a formação de raízes mais compridas e finas. Outras condições da planta também sofrem interferência da temperatura, como a indução ao florescimento e a incidência de patógenos.
Outra variável climática que costuma interferir bastante na produção é a luminosidade. Embora, de maneira geral, fotoperíodos maiores costumem resultar em produtividades maiores, no caso de plantas com a fisiologia da cenoura (plantas C3) esta relação não é direta.
Neste caso, e pensando apenas na sua fase vegetativa, que é o que de fato interessa ao produtor, a planta não apresenta maior sensibilidade.
Solo
Já com relação ao tipo de solo ideal, deve ser de textura média, bem drenado, profundo e com bons teores de matéria orgânica. A cenoura não tolera solos com pH baixo e deficiente em nutrientes.
Há que se destacar o fato de que a parte comercial da cenoura, sendo uma raiz, precisa de um solo leve, que favoreça a formação de uma raiz lisa. Solos muito argilosos e compactados podem prejudicar o formato da raiz, ocasionando maior incidência de defeitos (como bifurcações, por exemplo) que prejudicam sua comercialização.
Cuidados no cultivo da cenoura
A produtividade de qualquer cultura é dependente de vários fatores. No cultivo de cenoura, podemos elencar alguns:
– Escolha de uma cultivar ou híbrido mais adaptado às condições locais de clima e solo;
– Uso de semente de qualidade;
– Bom preparo do solo, já que a cenoura será semeada diretamente no solo e terá sua parte comercial desenvolvida sob ele;
– Boa calagem, baseada em análise de solo prévia (lembrando que a cenoura é bastante sensível a solo ácido);
– Boa adubação orgânica, de forma a manter a capacidade produtiva do solo;
– Adubação mineral equilibrada que atenda, efetivamente, a demanda nutricional da cultura e que esteja em conformidade com a expectativa de produtividade;
– Semeio adequado, de forma a garantir a população ideal de plantas;
– Execução de tratos culturais importantes, como o desbaste, por exemplo, que assegura o devido espaçamento entre plantas;
– Manejo correto de plantas invasoras, considerado um dos principais problemas da cultura;
– Manejo adequado de pragas e doenças, que devem ser constantemente monitoradas;
– Emprego de irrigação que atenda a demanda hídrica da cultura, aplicando água na quantidade e momento certos;
– Colheita que seja feita de forma criteriosa e cuidadosa, evitando possíveis injúrias mecânicas na raiz.
Sementes adequadas
A escolha de uma boa semente é fator importante para obter uma boa produtividade. Não há dúvidas de que o sucesso do cultivo passa pelo uso de uma boa semente.
E qual seria a mais indicada? É importante que o produtor compre sempre de empresas idôneas, com credibilidade. Ademais, todo lote de sementes deve apresentar informações com relação ao seu poder germinativo e pureza, que devem ser as mais altas possíveis.
Sobre a data de validade, geralmente sementes mais novas são mais propícias ao semeio. Caso haja a possibilidade, deve-se verificar, também, o vigor das sementes. Este, porém, é um dado que não se obtém corriqueiramente, necessitando de análises laboratoriais complementares.
A semente, muitas vezes, receberá tratamentos que podem se tornar aliados no sucesso do semeio. Por exemplo, a peletização é uma prática que permite um semeio mecanizado, mais aprimorado, inclusive usando semeadoras pneumáticas.
Pode-se, também, adquirir sementes que tenham sido tratadas com fungicidas e/ou inseticidas, que permitirão um controle maior de patógenos e pragas na fase inicial de desenvolvimento. A escolha por sementes tratadas, ou não, dependerá da avaliação por parte dos responsáveis técnicos.
Irrigação
Como em qualquer hortaliça, uma boa irrigação, baseada em critérios técnicos e atendendo as reais exigências da cultura, é fundamental. A escolha do método de irrigação mais adequado irá depender de avaliações técnicas/agronômicas.
O tipo de irrigação mais usado é por aspersão, seja com aspersores convencionais ou por pivô central. Irrigações localizadas, embora mais eficientes, são de implementação mais difícil, no caso da cenoura, dado o espaçamento reduzido.
De maneira geral, deve-se aplicar lâminas mais leves (de 2,0 a 4,0 mm) e frequentes (intervalos de um a dois dias) nas primeiras semanas após o semeio. Numa fase mais adiantada da cultura, normalmente após cerca de 30 dias após a sua emergência, aplicar lâminas maiores, em torno de 20 mm, em intervalos de quatro a cinco dias.
Ressalta-se, porém, que estes são valores gerais. O ideal é que se faça estudos mais aprimorados, que considerem as condições locais. A demanda hídrica da cultura, por ciclo de cultivo, gira em torno de 350 a 550 mm.
Cultivo orgânico
A corrente orgânica de produção faz parte de um modelo diferenciado de produção, que é a chamada agroecologia.
A opção pela produção orgânica tem aumentado nos últimos tempos, por ser um sistema que traz menos prejuízos ao ambiente, ao produtor e ao consumidor, permitindo a obtenção de produtos de melhor qualidade nutricional e com menos resíduos.
No cultivo orgânico são necessários ajustes, como a não utilização de agrotóxicos e fertilizantes minerais. Valorizam-se solos que tenham teores maiores de matéria orgânica, com uma maior biodiversidade.
Já no manejo fitossanitário são adotadas medidas preventivas, em que a biodiversidade tem papel fundamental. Estimula-se a ação de inimigos naturais e, eventualmente, práticas complementares, como extratos vegetais, caldas e biofertilizantes, com fins específicos.
Em 2020, a Embrapa lançou, no mercado, uma variedade indicada especificamente para cultivo em sistema orgânico, a BRS Paranoá.