Jesus G. Töfoli
Ricardo J. Domingues
Josiane T. Ferrari
Pesquisadores da APTA ” Instituto Biológico
Considerada o grande “tesouro enterrado“ dos povos andinos, a batata (Solanum tuberosum) é tida como um dos alimentos com maior potencial para sanar a fome no mundo. Altamente produtiva, essa solanácea é uma importante fonte de carboidratos, fósforo, potássio, vitaminas do complexo B e C, proteínas de boa qualidade, fibra alimentar e outros nutrientes, podendo ser consumida “in natura“ ou industrializada na forma de palitos congelados, chips, amidos, féculas e farinhas.
A cultura da batata possui grande importância econômica e social no cenário agrícola brasileiro. Considerada em outros tempos uma atividade de pequenos produtores, hoje a cadeia produtiva da batata assume características empresariais bem definidas, com avanços tecnológicos constantes, mudança fundiária e gerenciamento avançado de todo o processo produtivo.
São Paulo e o Sul de Minas Gerais, no Sudeste, e Paraná e Rio Grande do Sul, na região Sul, são os principais Estados produtores, sendo responsáveis por 90% da produção nacional.
A requeima
A requeima, causada pelo oomiceto Phytophthora infestans, é considerada uma das doenças mais importantes e destrutivas da cultura da batata. Afeta drasticamente toda a parte área da planta e tubérculos, podendo causar prejuízos significativos quando interagem fatores como: cultivar suscetÃvel, condições climáticas favoráveis e equívocos no controle.
Nas folhas, os primeiros sintomas são caracterizados por manchas de tamanho variável, coloração verde-clara ou escura e aspecto úmido. Ao evoluírem, elas se tornam pardo-escuras a negras, necróticas e irregulares, podendo ou não apresentar halo clorótico.
Na face inferior das lesões observa-se um crescimento branco-acinzentado, de aspecto aveludado, localizado principalmente ao redor das lesões, nos limites entre o tecido sadio e o necrótico. Esse é composto por esporângios e esporangióforos do patógeno e forma-se, especialmente, em condições de alta umidade e temperaturas amenas.
Àmedida que as lesões coalescem, o tecido foliar exibe um aspecto de queima generalizada. Nas brotações, a doença causa a morte das gemas apicais e ponteiros, comprometendo o desenvolvimento das plantas. Nas hastes e pecíolos as lesões são pardo-escuras a negras, alongadas, aneladas, e quando muito severas podem causar a quebra desses órgãos ou a morte das áreas posteriores ao ponto de infecção.
Nos tubérculos, as lesões são castanhas, superficiais, irregulares e com bordos definidos. No interior dos mesmos, a necrose geralmente é assimétrica, de coloração castanho-avermelhada, aparência granular e mesclada. Os sintomas em tubérculos são mais frequentes em regiões sujeitas à ocorrência simultânea de baixas temperaturas e alta incidência de chuvas.
Condições para a doença
A requeima é favorecida por temperaturas que variam de 12 e 24°C. Quanto à umidade, a doença é favorecida por períodos de molhamento foliar superiores a 12 horas e ambientes de névoa e chuva fina. Em algumas situações a altitude associada à presença de orvalho e à queda da temperatura noturna são suficientes para epidemias severas da doença.
Fosfito de potássio
Classificado no Brasil como fertilizante, o fosfito de potássio é um composto versátil que pode atuar como fonte de nutrientes, inibidor de oomicetos e indutor de resistência na cultura da batata.
A suplementação de fósforo e potássio é fundamental para o metabolismo e crescimento das plantas. Plantas tratadas com fosfito de potássio, em geral, apresentam melhoras significativas no estado nutricional, no vigor, na produtividade e na qualidade da produção.
Aplicado de forma preventiva em plantas de batata, o fosfito apresenta ação protetora, sendo fungitóxico aos oomicetos e reduzindo de forma direta o crescimento micelial, a formação de esporângios e a liberação de zoósporos. No patógeno o fosfito age rompendo as paredes e membranas celulares, comprometendo a morfologia e os processos fisiológicos.
Mais que benefícios
Outra característica marcante do fosfito é a capacidade de induzir os mecanismos de defesa da planta a produzir fitoalexinas, substâncias naturais de autodefesa capazes de suprimir patógenos e imunizar a planta, enquanto ativas.
Sabe-se, também, que ao induzir resistência os fosfitos são capazes de bloquear o desenvolvimento de necroses (hipersensibilidade), promover a lignificação de tecidos e aumentar a síntese de algumas enzimas que dificultam o processo infeccioso.
O fosfito de potássio apresenta alta solubilidade e mobilidade, o que facilita a sua rápida absorção pelas folhas, raízes e translocação pelo xilema e floema. A sistemicidade ascendente e descendente do produto permite que esse se distribua de forma uniforme por toda a planta, podendo proteger, inclusive, os tubérculos.