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A Embrapa desenvolveu uma tecnologia que permite ao produtor de alho manter bancos de multiplicação de sementes de alta qualidade em sua propriedade e, assim, garantir lavouras sadias e produtivas. É uma boa notícia para o agricultor, porque as viroses acarretam grandes danos econômicos à cultura do alho e impedem a maior produtividade nacional.
Estimativas apontam que, por ano, cada brasileiro consome cerca de 1,5 kg de alho. A produção nacional na safra 2014/15 respondeu por apenas 40% do volume comercializado, sendo a quantia restante importada da China (40%) e, em menor escala, da Argentina (20%). Nesse período, o País precisou de 300 mil toneladas de alho para o abastecimento nacional, ou seja, 2,5 milhões de caixas de dez quilos por mês.
A tecnologia gerada pela Embrapa inclui um sistema que possibilita ao agricultor multiplicar o alho-semente livre de vírus (ALV) e, assim, gerar um fluxo contÃnuo de produção de sementes sadias. A utilização de alho-semente livre de vírus assegura a qualidade da lavoura e, com isso, o agricultor diminui as perdas no campo e consegue colher alho com melhor classificação comercial, o que vai lhe garantir uma maior renda.
Francisco Vilela Resende, pesquisador da Embrapa Hortaliças na área de produção vegetal, conta que esse projeto começou não só na Embrapa, mas em diversas instituições de pesquisas do Brasil, e teve início na década de 80. “O projeto começou com parceria entre Brasil e Argentina, com o INTA, que é o Instituto de Tecnologia Agropecuária de lá, e com a UnB (Universidade de BrasÃlia)“, conta.
O projeto
Nesse projeto os pesquisadores primeiramente se dedicaram a identificar os principais vírus da cultura do alho, desenvolver métodos sorológicos mais eficientes para detecção dos vírus na planta e estudar uma tecnologia de laboratório para obtenção do alho livre de vírus. O projeto ficou dez anos nessa primeira etapa básica.
A partir de 2002, um sistema foi elaborado para fazer a tecnologia chegar aos produtores, mas desta vez com critérios. “Fizemos dessa forma porque antes o produtor levava o alho livre de vírus para a propriedade, começava a usar, e com o tempo o material era infectado novamente por viroses, perdendo as características que a limpeza havia propiciado, que eram maior produtividade e qualidade. Foi nessa época que desenvolvemos um sistema de produção de alho-semente em telado antiafÃdeo“, relata o pesquisador.
O alho-semente era produzido em uma situação que evitava definitivamente que o vetor do vírus, que são os pulgões, recontaminasse o material.
Desde a aprovação inicial, a tarifa antidumping foi revisada por três vezes, sendo a última em 2013, quando a sobretaxa foi estabelecida em US$ 0,78/kg. “A tarifa representa maior segurança para os produtores brasileiros ao garantir que as quatro mil famílias que dependem da produção de alho permaneçam no campo, assim como os mais de 100 mil empregos gerados pelo setor”, contextualiza Cristina Neiva, gerente-executiva da Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa).
A tarifa antidumping estará em vigor por cinco anos, contudo, o cenário a longo prazo preocupa porque, com o reconhecimento da China como economia de mercado em 2016, o cenário de investigação para renovação da tarifa será alterado, e isso pode inviabilizar a sobretaxa para o alho importado deste país. “O setor deve aproveitar esse período para fortalecer a cadeia nacional, que tem plenas condições de abastecer o mercado interno com produto de qualidade durante todo o ano”, aconselha Cristina, para quem as importações chinesas de alho devem ser complementares à produção nacional, e não o contrário.
Livre de vírus
Viroses são doenças que acarretam grandes danos econômicos à cultura do alho porque, em virtude da reprodução vegetativa (que acontece por meio de bulbilhos), ocorre o acúmulo de vírus de um ciclo de produção para outro e, com isso, há redução no rendimento e na qualidade do produto.
Para reverter esse cenário e tornar o plantio de alho mais competitivo, a Embrapa desenvolveu uma tecnologia que permite ao agricultor manter bancos de multiplicação de sementes de alta qualidade em sua propriedade e, assim, garantir lavouras sadias e produtivas.
O alho-semente livre de vírus é uma tecnologia baseada em um processo de limpeza clonal, isto é, uma técnica de cultura de tecidos em laboratório para eliminação de vírus e outros microrganismos presentes na planta. Após essa etapa ocorre a multiplicação em casas de vegetação e o processo de indexação, que são testes para comprovar a efetiva erradicação do vírus. “Por lidarmos com um patógeno intracelular, é preciso realizar um verdadeiro processo cirúrgico na planta de alho para assegurar a sanidade. O processo completo pode levar até três anos”, estima o pesquisador Francisco Vilela, ao informar que, em seguida, a planta livre de vírus é cultivada em telados para gerar toda uma população sadia de onde sairá o alho-semente para os agricultores.
 O sistema, que possibilita ao agricultor multiplicar o alho-semente livre de vírus, consiste basicamente em produzir sob a proteção de um telado especial à prova de insetos transmissores de vírus. “Tendo esse cuidado, o produtor sempre terá bulbilhos sadios para gerar novas sementes e conduzir a lavoura comercial”, explica Vilela.
O pesquisador também ressalta a importância de manter a área de produção de alho-semente separada da lavoura comercial para retardar a reinfecção por vírus do material plantado fora do telado.