Allana Katiussya Silva Pereira
Engenheira florestal, mestra e doutoranda em Recursos Florestais – ESALQ/USP
allana.florestal@gmail.com
Tamíres Partélli Correia
Engenheira florestal, mestra, doutora em Ciências Ambientais e Florestais e professora – Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG)
tamirespartelli@gmail.com
Ananias Francisco Dias Júnior
Engenheiro florestal, doutor em Recursos Florestais e professor – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
ananias.dias@ufes.br
Você consegue imaginar como seria a vida do planeta sem água? Esse questionamento traz à tona inúmeras reflexões e apenas uma resposta: a vida não seria possível se não tivéssemos água disponível e o ponto mais crítico dessa afirmação está no fato dela, ligeiramente, exigir que alteremos o tempo verbal para o futuro. A vida não será possível quando os recursos hídricos entrarem em colapso.
Por aqui
O Brasil é o país que apresenta a maior quantidade de água doce disponível para uso do mundo. O Rio Amazonas, situado na região norte, é o maior em termos de extensão e volume, e ainda assim encontra-se na maior crise hídrica já registrada em 91 anos.
Além disso, estudos apontam que o Brasil perdeu 15,7% de superfície de água nos últimos 30 anos, o equivalente a 3,1 milhões de hectares de superfície hídrica. A nível mundial, dados das Nações Unidas mostram que atualmente mais de 2 bilhões de pessoas vivem em países em situação de estresse hídrico.
Um bilhão e 200 milhões de pessoas (cerca de 35% da população mundial) não têm acesso à água tratada e, até 2025, cerca de 1,8 bilhão de pessoas enfrentará o problema da escassez de água.
Alerta geral
A situação atual dos recursos hídricos no Brasil e no mundo evidencia a necessidade de reconhecer e mensurar o valor da água e buscar meios de melhoria da crise hídrica afim de alcançar uma gestão sustentável e equitativa.
As preocupações com o gerenciamento dos recursos naturais e os efeitos das mudanças climáticas na qualidade e quantidade de água no planeta têm sido pautas em muitas discussões. Nesse contexto, em 2015 a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu um pacto global, intitulado Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
São 17 objetivos e 193 metas estabelecidas para alcançar um futuro sustentável para o planeta. Dentre eles, o Objetivo 6 – “Água potável e saneamento” – possui foco pautado na garantia da disponibilidade e do manejo sustentável da água e do saneamento para todos, mostrando a necessidade de ampliar as discussões sobre os recursos hídricos e a apresentação de alternativas que visam a melhor gestão da água.
Diante desse cenário caótico, muitas perguntas surgem: “o que podemos fazer para preservar a água do nosso Planeta?”; “como evitar a escassez de água?”; “como proteger nascentes e bacias hidrográficas?”. Para além da questão relacionada à gestão dos recursos, essas são algumas das questões hídricas mais urgentes do mundo e a resposta está na natureza: as florestas.
Água e floresta: dois recursos indissociáveis
Boa parte da água do planeta permeia bacias hidrográficas florestadas que agem positivamente na qualidade da água e na proteção do recurso hídrico. Nesse contexto, a enorme quantidade de água liberada pela Floresta Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, é conhecida como “rios voadores”.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), uma árvore de 10 metros de altura lança uma média de 300 litros de água por dia, mais do que o dobro do total de água consumida por uma pessoa durante o dia para atividades básicas, como hidratação, cocção de alimentos e higiene pessoal.
Como a floresta pode fazer renascer água?
Existem várias maneiras de a floresta fazer renascer água. A forma mais adequada é por meio do manejo da bacia hidrográfica, ou da bacia piloto em que a área esteja inserida, como indica a Política Nacional dos Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997).
Em uma propriedade, o primeiro passo é a setorização das áreas de acordo com as suas vocações, determinando o zoneamento da propriedade. Existem áreas com maiores vocações hídricas, ou seja, aquelas que com menores intervenções se tem uma maior produção de água.
Todo produtor rural deveria pensar a sua propriedade como uma grande caixa d’água. Desse modo, a água da chuva é a principal entrada de água nessa caixa, e quanto mais ficar armazenada, melhor será a disponibilidade hídrica.
É importante pensar em medidas como reservatórios, bacias de retenção, valas de infiltração e caixa seca para aumentar o tempo de permanência da água dentro da propriedade, ou melhor, a perenidade dos recursos hídricos, a fim de que em nenhuma época falte água na propriedade.
Como diz o proprietário rural do programa Produtores de Água no Estado do Espírito Santo, o Sr. Newton Campos: “Produzir água não é só plantar árvores, é segurar a água da chuva dentro da propriedade”.
É importante que as áreas de florestas sejam alocadas nos espaços destinados às APP’s (Área de Preservação Permanente), que de acordo com nosso atual Código Florestal (Lei 12651/2012) são os topos de morro (maior que 100 metros de altura e inclinação média maior que 25º), margem de nascentes (com raio mínimo de 50 metros), faixa marginal dos rios (variando de tamanho de acordo com a largura do rio), encostas ou partes destas (declividade superior a 45º). Outro local muito importante para o reflorestamento são as áreas de recarga das nascentes, que vão abastecer os lençóis freáticos.