Â
Nilva Teresinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora do Curso de Engenharia Agronômica do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (UNIPINHAL)
Para se compreender os benefícios dos insumos contendo ácidos húmicos e fúlvicos nos cultivos, como o de pêssegos, torna-se necessário definir o que são tais ácidos e como eles agem.
Ácidos húmicos e fúlvicos são originados da decomposição química e biológica de todo e qualquer sedimento encontrado no solo. Trata-se de componentes presentes na fração mais estável da matéria orgânica do solo, o húmus, em cuja composição encontramos o que se denomina substâncias húmicas.
As substâncias húmicas propriamente ditas representam cerca de 85 a 90% do carbono orgânico e apresentam três diferentes frações:
- Ø Humina: insolúvel em meio alcalino ou em meio ácido diluÃdo. Possui reduzida capacidade de reação.
- Ø Ácidos húmicos: fração escura solúvel em meio alcalino e insolúvel em meio ácido. Trata-se de materiais muito complexos, formados por estruturas com grupos carboxÃlicos, fenólicos, amÃnicos, entre outros, com elevado peso molecular e grande capacidade de troca catiônica. Podem se ligar aos elementos metálicos precipitando-os, (como por exemplo o cálcio, magnésio ou ferro) ou, então, formando com os metálicos monovalentes de dispersão coloidal (como o que ocorre com o sódio ou potássio).
- Ø Ácido fúlvico: fração colorida solúvel em meio alcalino ou em meio ácido diluÃdo. Na estrutura apresenta alto conteúdo de grupos carboxÃlicos. Combina-se com óxidos de Fe, Al, argilas e outros compostos orgânicos, e possuem propriedades redutoras, formando complexos estáveis com Fe, Cu, Ca e Mg.
Saiba mais
Os ácidos húmicos e fúlvicos representam as frações bioativas e reativas das substâncias húmicas e podem influenciar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.
Sabe-se que o plantio em solos com alta densidade aparente (relação entre a massa de amostra de solo seco a 110º C e o seu volume) tem a germinação das sementes, o enraizamento das plântulas e o pegamento das mudas muito prejudicado.
Tais solos têm a porosidade reduzida, o que não permite boa infiltração e distribuição de água. As substâncias húmicas podem auxiliar, pois agem como agentes cimentantes e podem promover a formação de agregados, o que melhora a estrutura do solo.
As substâncias húmicas agem como coloides, formando, assim, complexos estáveis com a fração inorgânica do solo, o que favorece sua estruturação. Em solos argilosos tal ação pode beneficiar a condução da lavoura.
Há, ainda, resultados que dão conta de que a adição de ácidos húmicos e fúlvicos à areia de rio pode propiciar até 80% de agregação das partículas, favorecendo a retenção de água e de nutrientes nessa condição.
Então, o cultivo em solos arenosos pode se beneficiar do emprego das referidas substâncias. Em relação à retenção de água, sabe-se que as substâncias húmicas puras apresentam capacidade excepcional de reter água: ou seja, de seis a oito vezes o seu peso.
Outras vantagens
As substâncias húmicas também beneficiam a Capacidade de Troca Catiônica (CTC) e a Capacidade de Troca Aniônica (CTA), o que aumenta a retenção de íons e sua disponibilização às plantas. Esta característica define a ação tampão de tais materiais nos solos.
Outro aspecto a se destacar é que os ácidos em questão podem formar complexos relativamente estáveis com cátions polivalentes, como Zn²+, Cu²+, Mn²+ e Fe²+, aumentando sua disponibilidade e absorção pelas plantas.
Nas plantas, os ácidos húmicos e fúlvicos estimulam a atividade e síntese das enzimas H+-ATPases da membrana plasmática, num efeito semelhante ao auxÃnico, o que resulta melhoria na translocação de íons e ativação dos transportadores responsáveis pela entrada dos íons na célula, o que estimula a absorção iônica.
Ainda, acidificando o meio celular propiciam promoção do aumento da plasticidade da parede celular, fator fundamental para o processo de crescimento e alongamento da célula vegetal, favorecendo o enraizamento das plantas.
Outros aspectos da ação de tais ácidos nas plantas são relevantes, refletindo-se na parte aérea vegetal: estimulam a síntese das clorofilas, dos carotenoides e de enzimas ligadas à respiração vegetal e ao processo fotossintético. Todos esses fatores resultam em incrementos da biomassa vegetal e da produção.