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Ácidos húmicos provocam efeitos protetores no cafeeiro

Os ácidos húmicos reduzem a bienalidade típica da cultura, além de aumentar a produtividade e qualidade da bebida.

Nilva Teresinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora e professora de Bioquímica, Nutrição de Plantas e Produção Orgânica – UniPinhal
nilva@unipinhal.edu.br

O cafeeiro é uma cultura extremamente importante para a economia brasileira. O País é o maior produtor e exportador do produto no mundo e a qualidade de bebida está em destaque, sendo muito valorizada na comercialização.

Foto: Shutterstock

Assim, tecnologias que melhorem a produtividade e a qualidade da grãos de café, com mínimo impacto ambiental e protegendo a saúde do consumidor e dos colaboradores das propriedades estão, cada vez mais, sendo adotadas pelos cafeicultores.

E a inclusão dos ácidos húmicos e fúlvicos no cultivo da referida cultura é uma delas, já que tais produtos beneficiam os atributos dos solos e, também, o metabolismo da planta.

Quem são eles

Mas, o que são os ácidos húmicos e fúlvicos? São substâncias derivadas da decomposição de matéria orgânica pela atividade microbiológica. São componentes das substâncias húmicas que apresentam três frações: as huminas, os ácidos húmicos e os ácidos fúlvicos. Tais ácidos são os mais importantes das três, por serem reativos no solo e nas plantas.

Os ácidos húmicos e fúlvicos beneficiam as propriedades físicas, químicas e microbiológicas dos solos. Com suas partículas coloidais, permitem a agregação das partículas do solo, melhorando a estrutura do perfil, o que beneficia solos arenosos e muito argilosos, melhorando a aeração e retenção de água.

Também propiciam maior resistência à erosão devido às suas partículas coloidais, que são capazes de formar uma emulsão em contato com a água. Os ácidos húmicos e fúlvicos apresentam alta Capacidade de Troca de Cátions (CTC).

Benefícios

A inclusão de tais insumos nas áreas de cultivo pode elevar a CTC do solo, aumentando, portanto, a capacidade de retenção de nutrientes. Aumentam, também, o poder tampão dos solos, o que auxilia na manutenção da reação do solo.

Outro aspecto das chamadas substâncias húmicas é a capacidade, devido à natureza de suas cargas, de complexar partículas de herbicidas, de alumínio e outros elementos metálicos, como o ferro e demais elementos pesados, diminuindo os potenciais prejuízos que tais agentes podem causar às plantas.

Agem, também, em outros atributos químicos do solo: aumentam a disponibilização de fósforo às plantas, o que ocorre devido à sua capacidade de complexar o Fe+2 e Al+3 em solos ácidos e do Ca+2 em solos alcalinos.

Também promovem redução de perdas de nitrato, melhoram a dinâmica do nitrogênio amoniacal (são materiais ácidos, o que estimula a conversão da amônia em amônio e proporciona menores perdas do nitrogênio por volatilização).

Dentro das plantas

Os ácidos húmicos e fúlvicos ainda agem direto sobre o metabolismo das plantas: aumentam as taxas fotossintética e respiratória, dois processos fundamentais para os vegetais.

Agem positivamente na vida da planta, inclusive estimulando a germinação de sementes e a defesa vegetal contra estresses. A síntese das auxinas pode ser estimulada em presença dos ácidos em questão, o que causa maior desenvolvimento das raízes.

Estimulam, ainda, a absorção de nutrientes, o que propicia benefícios na biomassa e na produção.

Os atributos microbiológicos do solo também recebem benefícios: a inclusão de tais ácidos incorpora carbono no solo, que é matéria-prima para o desenvolvimento dos microrganismos e promovem formação de substâncias análogas aos hormônios vegetais, estimulando o desenvolvimento radicular das plantas.

A melhoria das propriedades físicas dos solos, como as propiciadas na estrutura e porosidade e consequente aeração e armazenamento de água, também influenciam positivamente a atividade dos microrganismos de solo.

Recomendações para o cafeeiro

Os ácidos húmicos e fúlvicos podem ser aplicados no solo, quando apresentam efeito condicionador de solo e bioestimulante, e via aérea, quando agem como bioestimulantes. Qualquer das duas formas de uso se apresentam como meios de melhora do desenvolvimento vegetal, resistência ao estresse, floração, frutificação e produção.

Como se citou, os ácidos húmicos e fúlvicos melhoram a estruturação do solo, beneficiando a aeração e retenção de água pelo solo e otimização da vida microbiológica dos solos.

Assim, a inclusão deles na instalação do cafeeiro pode proporcionar formação de raízes mais abundantes, explorando com mais eficiência o solo e os nutrientes presentes e maior sustentação às plantas.

Ainda, os ácidos húmicos e fúlvicos produzem estimulantes à divisão das células das raízes e as partículas coloidais dos próprios ácidos, funcionando como hormônio semelhante às auxinas vegetais, que beneficiam a divisão e elongação das células. Esses efeitos positivos nas raízes certamente promovem maior desenvolvimento vegetativo e produtividade do cafeeiro.

Via solo ou foliar?

Nas etapas de formação e produção, os ácidos húmicos e fúlvicos, aplicados via foliar ou via solo, incrementam as taxas fotossintética e respiratória. Os citados ácidos aumentam a síntese de clorofila, pigmento responsável pela fotossíntese, e estimulam a ação das enzimas do Ciclo de Krebs, fundamental para a respiração da planta e para todas as atividades metabólicas das plantas.

A fotossíntese é a via produtora de açúcares, que é matéria-prima para a formação das outras substâncias orgânicas vegetais. E a respiração é a via que transforma a energia potencial dos açúcares em energia.

Assim, os ácidos húmicos e fúlvicos afetam os três processos fundamentais para a vida das plantas: absorção, fotossíntese e respiração, os quais permitem o desenvolvimento e produção, incluindo floração e formação de frutos no cafeeiro.

Outro aspecto a ressaltar é que, ao melhorar a retenção de água no solo, os insumos em questão melhoram a disponibilidade de água no solo e, em consequência, a capacidade das plantas na utilização de água, propiciando redução de estresse hídrico.

Os ácidos húmicos aumentam acapacidade de retenção de nutrientes
Foto: Shutterstock

Pesquisas

  Observações de literatura têm demonstrado benefícios do uso dos ácidos húmicos e fúlvicos no cafeeiro. Jesus; Oliveira; Orsini: Teixeira, em trabalho publicado nos Anais do Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras e disponível em .http://200.235.128.121/handle/123456789/9707) estudaram o emprego de formulado comercial aditivado com aminoácidos contendo os referidos ácidos, aplicados via solo e na implantação de cafeeiros no campo.

Os resultados demonstraram que, em avaliações aos 91 dias da instalação, houve benefícios do produto testado ao enfolhamento, altura, número de guias e diâmetro de colmo. Já aos 181 dias do plantio, observaram-se efeitos positivos no enfolhamento, altura e diâmetro de colmo. Tais achados podem indicar, provavelmente, melhorias na produção.

Há informações de que os ácidos húmicos melhoram a qualidade da bebida e reduzem a bienalidade típica da cultura, afetando positivamente a produtividade e qualidade dos grãos.

Os formulados comerciais contendo ácidos húmicos e fúlvicos têm na sua composição macro e micronutrientes. Tal associação costuma ser muito eficiente: os ácidos quelatizam os nutrientes metálicos, favorecendo a absorção deles.

Atenção

Os produtos contendo ácidos húmicos e fúlvicos podem ser aplicados na implantação, na formação e na fase de produção do cafeeiro. A forma de aplicação depende do produto comercial escolhido e dos objetivos do produtor.

Se a pretensão é melhorar os atributos do solo, usado como condicionador, pode ser aplicado via solo em área total ou localizada, como no sulco de plantio ou em culturas já instaladas na linha de plantio, por exemplo. Se o produto for líquido ou solúvel, pode-se indicar pulverizar o solo ou a fertirrigação. Pode-se também aplicar via foliar.

Com certeza, a relação custo-benefício indica a aplicação dos ácidos húmicos e fúlvicos em cafeeiro. Mas, tem que se lembrar que a inclusão dos referidos ácidos na lavoura não implica na substituição dos adubos pelos ácidos húmicos e fúlvicos.

Porém, o uso de tais ácidos no cultivo pode acarretar redução da quantidade de fertilizantes empregados.

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