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Adubação de plantas frutíferas

Pedro Maranha Peche Engenheiro agrônomo, mestre, doutor e pós-doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)pedmpeche@gmail.com

Atemoia – Créditos: Shutterstock

A adubação racional e equilibrada é uma importante ferramenta para a produção de frutos em quantidade e qualidade, além de propiciar a perenidade produtiva do pomar, ou seja, produção estável por vários anos. Outro aspecto a ser considerado em relação ao manejo da adubação de plantas frutíferas é o econômico, pois essa prática corresponde a 30 a 50% do custo de produção total. 

Para construirmos um bom plano de manejo de adubações, precisamos responder quatro perguntas: O que adubar? Quanto adubar? Quando adubar? Como adubar?

O que adubar?

Tem a ver com a nutrição das plantas frutíferas, ou seja, os nutrientes que são essenciais para que elas cresçam e se desenvolvam. Caso ocorra a falta de um ou mais nutrientes a planta frutífera terá seu desenvolvimento comprometido.

A planta necessita de 17 nutrientes essenciais, os quais são adquiridos por meio do ar e da água, no caso do carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), e o restante é adquirido via solo. Nesse sentido, podemos dividir os nutrientes absorvidos pelo solo em dois grupos, de acordo com a quantidade que as plantas necessitam:

; Macronutrientes: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S). São os que a planta necessita em maior quantidade e normalmente a quantidade que aplicamos é em quilos do nutriente por hectare (kg/ha).

; Micronutrientes: boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e zinco (Zn). São igualmente importantes aos macronutrientes, porém, a planta precisa desses nutrientes em quantidades menores – normalmente aplicamos gramas por hectare (g/ha).

Agora que já sabemos o que a planta necessita, precisamos de ferramentas para verificar a nutrição do nosso pomar. De maneira geral, um pomar sadio (bem nutrido e sem problemas com pragas e doenças) deve apresentar as seguintes características:

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ð Folhas verdes e brilhantes, em número adequado durante todo o ciclo produtivo;

ð Não murchar demasiadamente na estação seca ou veranico, sinal que tem raízes vivas, abundantes e profundas;

ð Vegetar e florescer na primavera e vegetar no verão;

ð Segurar boa parte da florada e não derrubar muitos frutos;

ð Ter altas produções como média de quatro anos;

ð Produzir fruta de boa qualidade condizente com as características da frutífera cultivada;

ð Dar lucro.

Caso o pomar não esteja como descrito anteriormente, podemos suspeitar que ele está desnutrido ou com sua nutrição desequilibrada, e nesse caso temos duas ferramentas para avaliar seu estado nutricional: 

No caso de desnutrição ou deficiência severa, podemos utilizar a técnica da diagnose visual, que se baseia no princípio que o sintoma de deficiência é típico de cada nutriente. A seguir estão descritos os sintomas de deficiência mais corriqueiros em plantios de frutíferas (adaptado de Malvolta et al 1994).

A1. Sintomas que se originam folhas novas

B1. Folhas com coloração uniforme; crescimento reduzido; internódios curtos, causando aparência arbustiva

C1. Folhas novas verde-pálidas, tornando-se amarelo-esverdeadas quando crescem; vegetação rala; ausência ou poucos frutos de cor pálida ð Nitrogênio

C2. Vegetação nova de cor verde sem brilho, rala e com algumas folhas deformadas, às vezes com cortiça nas nervuras; queda excessiva de frutos novos; sementes abortadas ð Boro

C3. Folhas novas verde-amareladas, às vezes com nervuras verdes destacadas ð Enxofre

B2. Folhas com clorose localizada

C1. Folhas de tamanho reduzido, estreitas e pontudas (lanceoladas), com malhas amarelo-brilhantes que contrastam com o fundo verde; frutos pequenos e pálidos ð Zinco

C2. Folhas aproximadamente normais em tamanho e forma

D1. Malha verde-pálido na folha toda; a malha pode mostrar-se como um reticulado grosso (as nervuras e uma faixa de tecido ao longo das mesmas permanecem verdes) ð Manganês

D2. Nervuras verdes sobre fundo verde-pálido ou amarelo (reticulado fino); em casos severos as folhas podem ficar totalmente pálidas e com o tamanho reduzido; raminhos podem morrer na ponta externa dos galhos ð Ferro

A2. Sintomas se originando em folhas velhas.

B1. Padrão definido pelo amarelecimento em áreas localizadas, com aumento gradual com o passar do tempo.

C1. Amarelecimento gradual, iniciando-se da base até o ápice da folha, causando morte descendente de ramos novos ð Magnésio

C2. Amarelecimento começa ao longo das margens laterais, progredindo para dentro até alcançar a metade da distância até a nervura principal, com uma frente irregular; a planta é extremamente pequena, com sistema radicular mal desenvolvido ð Cálcio

C3. Amarelecimento em manchas na metade distal da folha; as manchas inicialmente amarelo-pálidas tornam-se bronzeadas à medida que se espalham e coalescem; as folhas podem se enrolar; as pontas das folhas podem ficar pardas; as folhas velhas são persistentes, ao contrário das deficientes em cálcio, com as quais podem se assemelhar; folhagem sem brilho, a planta parece seca; frutos de tamanho muito diminuído, porém de boa qualidade; queda excessiva de frutos; rachaduras e sulcos nos frutos, menor resistência à seca ð Potássio

B2. Desaparecimento não localizado da clorofila

C1. A folha toma uma cor verde escura e depois amarelo-laranja; em casos extremos podem aparecer pontas ou manchas queimadas; frutos ásperos, esponjosos, com o centro oco excessivamente ácidos ð Fósforo

C2. Folhas com cor de verde-pálido a amarelado com nervuras esbranquiçadas; frutos ralos de cor pálida tanto externa como internamente; boa qualidade, porém baixo conteúdo de suco ð Nitrogênio

Apesar de ser um método fácil e prático a diagnose visual apresenta duas características que limitam seu uso. O primeiro é o fato de que se ocorrer o aparecimento de algum sintoma de deficiência, a produção já foi comprometida. O segundo é o fácil confundimento com sintomas caudados por patógenos ou intempéries.

Para que não haja dúvidas, os sintomas de deficiência nutricional sempre devem apresentar três características:

1) Generalizado no pomar;

2) Gradiente, isto é, dependendo do elemento, as folhas mais velhas ou as mais novas devem ser mais afetadas;

3) Simétrico, ou seja, toda a planta apresentará o sintoma e o sintoma será uniforme no órgão utilizado, na maioria das vezes, utiliza-se folhas.

Quando não temos sintomas de deficiência aparentes ou de desequilíbrio nutricional, devemos fazer a análise foliar que, diferente da diagnose visual, é um método químico que quantifica o teor de cada nutriente na amostra. Para que possamos confiar nos resultados da análise foliar, temos que nos atentar a dois fatores: padrão de coleta e de interpretação.

Padrão de coleta

Devem ser coletadas em torno de 100 folhas por talhão homogêneo, sendo quatro folhas do terço médio, uma em cada quadrante da planta. Para a maioria das plantas, a época de coleta é o início de floração, porém, devemos consultar se existe um padrão diferente para a cultura a qual estamos trabalhando. Uma vez coletadas as folhas, estas devem ser armazenadas e encaminhas ao laboratório que fará a análise e, caso não seja possível o envio imediato, deve-se armazenar as folhas em geladeira.

Importante lembrar que, para definir o talhão homogêneo, devemos dividir a área em tipos de solos, cor, idade de plantas, combinação copa porta-enxerto, variedade de copa, mesmos tratos culturais e expectativa de produção.

Padrão de interpretação

Deve ser condizente com o padrão de coleta, ou seja, se as folhas foram coletadas na plena floração, o padrão dever ter sido elaborado para essa fase da planta, pois a demanda nutricional é distinta de acordo com as fases do ciclo produtivo.

A interpretação da análise foliar é muito simples: compare-se os valores obtidos com o padrão e verifica-se se o nutriente está deficiente, adequado ou em excesso.     

Quanto adubar?

Conhecer as necessidades nutricionais das frutíferas que vamos cultivar é o primeiro passo para definirmos a quantidade de adubos que utilizaremos. O segundo passo é realizar a análise de solos, que visa quantificar os nutrientes que estão disponíveis para a utilização das plantas. Os critérios para a coleta da análise são os seguintes:

a) Frequência e profundidade

• Anual: 0 a 20 cm, no meio da faixa adubada

• Bienal: 0 a 20 e 21-40 cm, no meio da faixa adubada e no meio da rua.

b) Época de amostragem: abril/maio, pelo menos um mês depois da última adubação.

c) Número de amostras: uma (1) amostra composta de, no mínimo, 20 sub amostras, para gleba homogênea (solo e planta) de até 10 hectares.

Obs: Sempre que se realiza a primeira amostragem na área, é conveniente solicitar na análise a aferição de textura do solo. Após a interpretação da análise de solos, o primeiro passo para manejar a adubação é realizar as correções de solos. As operações mais comuns para esse fim são a calagem e a gessagem.

Quando adubar?

A época de adubar depende muito da fase em que a planta frutífera se encontra, devido à exigência nutricional ir mudando ao longo do ciclo de produção. Basicamente as fruteiras, principalmente as lenhosas, a presentam cinco fases:

Figura 1 – Ciclo de produção geral das plantas frutíferas e distribuição dos nutrientes de acordo com a demanda por fase.

Repouso ou dormência

Tem início no final do outono e dura até o final do inverno, início da primavera. É caracterizada pela paralisação (frutíferas temperadas) ou redução (subtropicais e tropicais) do crescimento visível da planta, para superar um período sob algum tipo de estresse (frio ou estresse hídrico). Nessa fase é habitual a adubação com base orgânica e fosfatada.

Rotação

Com o final do repouso a fins do inverno e início da primavera as plantas frutíferas iniciam um novo ciclo, emitindo novas brotações, que irão sustentar a produção do ciclo atual e serão responsáveis por formar as novas gemas que garantirão o próximo ciclo.

Nessa fase, é necessário estimular o crescimento dos ramos, por isso se faz adubações com mais ou menos 25% da dose total de N e K, além da aplicação de micronutrientes que auxiliem o crescimento da brotação, como o Mg e o Zn.

Floração

É uma das fases mais importantes, pois é nela que garantimos a produção. Nessa fase, é importante que não ocorra nenhuma competição por nutrientes e reservas da planta. Por isso, evitamos tratos culturais que estimulem o crescimento dos ramos ou de outras partes do vegetal.

Na pré-florada e início de florada são muito usuais aplicações de B, pois o mesmo ajuda no pegamento efetivo dos frutos, em conjunto com Ca, que irá contribuir no fortalecimento das paredes dos mesmos.

Desenvolvimento dos frutos

É nessa fase que garantimos a qualidade e tamanho dos frutos, por isso é muito importante adubações com N para com que os frutos cresçam; K para ajudar na concentração de açúcares e aromas; além do Ca, que fará que os frutos fiquem mais firmes, consequentemente possuam uma vida pós colheita maior.

Recuperação

É uma fase crítica e importantíssima da planta frutífera, pois é nela que ocorre o acúmulo de reservas e a diferenciação das gemas vegetativas em floríferas, garantindo assim o potencial produtivo do ciclo seguinte. Por isso, nessa fase não podemos descuidar da adubação, priorizando micronutrientes, os quais são fundamentais no processo de diferenciação das gemas, e do K, que auxilia a planta a acumular reservas.

No final da fase é recomendada a calagem, uma vez que a mesma corrige o pH do solo e fornece Ca e Mg, preparando o solo para o próximo ciclo. É realizada neste momento porque o calcário demora normalmente três meses para ser solubilizado.

Dicas

A forma de adubar depende muito do tipo de adubo a ser utilizado, porém, em fruticultura, quando não se faz aplicação em área total para beneficiar as plantas entrelinha, realizamos a operação somente na faixa adubada, que compreende a área em que a copa se projeta.

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