Autores
Jéssica Luana de Freitas – Graduanda em Agronomia – Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS – Vacaria) e estagiária na Drones For Agro – jessica.freitas@drones4agro.com.br
Felipe Floriano Motta – Graduando em Agronomia – IFRS – felipe.agroifrs2017@gmail.com
Gerarda Beatriz Pinto da Silva – Engenheira agrônoma, doutora e CTO em – Drones For Agro – gerarda.silva@drones4agro.com.br
Com a rápida evolução da agricultura, principalmente no pós Revolução Verde, as propriedades rurais passaram por um processo de grande especialização de suas atividades, impulsionada pela maior demanda por alimentos e aumento da competitividade entre os ramos do agronegócios.
Nesse contexto, surgiu a necessidade de aliar as novas tecnologias que o mercado dispunha a fim de aumentar a eficiência/produtividade das fazendas.
Muito utilizada em países de alta tecnologia, a Agricultura de Precisão (AP) é uma importante ferramenta para aumentar a eficiência das propriedades rurais e, consequentemente, sua rentabilidade.
Mas o que é AP? Agricultura de precisão é um sistema de gestão agrícola que considera a variabilidade espacial da lavoura, seja ela do solo ou da cultura. Ao contrário da agricultura convencional, em que manejos e doses médias de insumos são aplicadas uniformemente em todo o campo, na AP os insumos são aplicados de forma variada e direcionada, de acordo com a demanda local, em cada porção da área, aliando, assim, mais sustentabilidade e rentabilidade aos cultivos.
Acessível a todos os produtores
As tecnologias voltadas para a AP são acessíveis a todos os produtores rurais, uma vez que existem diversos meios de adotar a AP nas propriedades agrícolas, sejam elas de pequeno, médio e/ou grande porte.
Atualmente, existem diversas empresas e startups envolvidas no agronegócio brasileiro, as quais desenvolvem ferramentas e serviços que visam maximizar a produtividade das lavouras, integrando tecnologia à produção vegetal. Desta forma, nos últimos anos ocorreu o barateamento da AP, tornando-a acessível aos mais diversos públicos.
De modo geral, podemos dizer que a AP pode tratar de diferentes componentes do ciclo produtivo, atuando desde análises qualitativas do solo até o uso de insumos e fertilizantes de modo pontual. Isso quer dizer que as aplicações de produtos químicos e/ou fertilizantes podem ser realizadas em taxas variáveis.
Entretanto, este caso em específico é direcionado a médios e grandes produtores, que disponham de maquinário especializado para este fim.
Além disso, é necessário ter em mente que, para garantir que as cultivares expressem todo o seu potencial produtivo, faz-se necessário que diversos fatores atuem em sincronia. Partindo do pressuposto de que as áreas de cultivos apresentam diferentes características químicas e físicas, alguns serviços dentro da AP buscam contribuir para garantir a rentabilidade do produtor, uniformizando ao máximo as áreas da lavoura.
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Sensoriamento remoto
Uma ferramenta que tem ganhado atenção de pequenos e médios produtores nas últimas décadas é o sensoriamento remoto. Esta tecnologia auxilia no monitoramento de áreas de lavoura, utilizando os mecanismos da AP.
Os métodos mais empregados envolvem a utilização de sensores embarcados em satélites, como o Landsat 8 e Sentinel 2, e em drones/VANT’s. Essa tecnologia tem como objetivo gerar mapas ou índices de toda a área cultivada, os quais servem como indicadores da sanidade vegetal, umidade do solo, biomassa, etc.
Manejo
Devido ao crescimento populacional acelerado, a produção de alimentos requer gestão, precisão e proteção ao meio ambiente. Desta forma, existem diversas formas de se implantar a AP, sendo um dos primeiros passos para a adequação das propriedades rurais aos modelos de gestão, levando em consideração a importância de se conhecer todos os processos que ocorrem dentro a “porteira” para mensurar a viabilidade dos cultivos.
Somente desta forma o produtor terá a noção real de onde ele precisa evoluir, ou seja, onde estão ocorrendo as maiores perdas de eficiência e produção. No campo, a AP pode ser implantada nas mais diversas técnicas de manejo, indo desde análises georreferenciadas de solo, adoção de curvas de nível, plantio utilizando semeadoras com corte de secção, implementação de sistemas de posicionamento global (GPS) nos maquinários agrícolas, monitoramento via drones e/ou satélites, etc.
Deste modo, todos os agricultores das mais variadas culturas podem fazer uso da tecnologia para agregar produtividade.
De posse dessas informações, os produtores podem, por exemplo, realizar análises de solo georreferenciadas a fim de gerar grids de aplicação de fertilizantes em taxas variáveis. Além disso, a partir dos mapas gerados de NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) é possível a verificação do estado fitossanitário da lavoura, gerar mapas de aplicação nitrogenada direcionados para locais com baixa cobertura vegetal, etc.
Mais produtividade
O uso da AP está fortemente associado à constante evolução das estruturas genéticas das cultivares voltadas à produtividade, permitindo que os agricultores potencializem de forma significativa a sua produtividade. Segundo dados do IBGE, a produção de soja aumentou cerca de 123% entre as safras 2006 e 2017, apesar da área produtiva não ter aumentado no mesmo ritmo.
Grande parte deste incremento deve-se às tecnologias transgênicas presentes nas cultivares mais modernas e às estratégias de AP cada vez mais presentes nas lavouras.
O ataque de pragas e doenças nas culturas comerciais reduzem consideravelmente a sua produtividade. Em se tratando da soja, a sua incidência compromete o desenvolvimento da cultura, pois conforme o nível de infestação, pode-se desencadear uma série de problemas, como a desfolha precoce, fator que resulta na redução de fotoassimilados na planta que, consequentemente, reduz a formação de vagens e o enchimento de grãos. Sendo assim, se estes problemas puderem ser detectados mais cedo, as ações de manejo serão mais rápidas e eficientes.
Desta forma, a utilização de drones no monitoramento das lavouras permite que problemas sejam detectados antes mesmo que eles reduzam a produtividade. Isso ocorre devido à evolução dos sensores embarcados nos drones, os quais possibilitam a identificação de estresses de modo pontual.
Em campo
A implementação de tecnologias de AP nas lavouras comerciais vem ganhando força nos últimos anos, maximizando a lucratividade e produtividade. A utilização de AP nos solos agrícolas é uma alternativa para uniformização da sua fertilidade, já que boa parte dos solos brasileiros apresenta elevada variabilidade espacial, o que influencia negativamente na produtividade das culturas, (acidez do solo, baixa saturação por bases e elevados teores de alumínio). Desta forma, a coleta de dados e geração de mapas de fertilidade por meio da AP vem uniformizando estas áreas e elevando o teto produtivo.
Do mesmo modo, a utilização de AP no controle de plantas daninhas é outra alternativa, mesmo que ainda seja pouco conhecida por muitos agricultores. Por meio de voos com drones é possível a identificação das plantas daninhas e a sua distribuição no talhão, permitindo um manejo direcionado e mais assertivo.
Este método, associado aos pulverizadores autopropelidos mais modernos, permite ao produtor inserir os mapas de aplicação, direcionando o herbicida no local preciso da distribuição da planta daninha e na quantidade exata.
Para facilitar esta operação, diversas empresas têm investido, inclusive, no desenvolvimento de drones de aplicação, os quais têm o intuito de atingir locais de difícil acesso, como áreas de reflorestamento, por exemplo, otimizando o tempo, facilitando e reduzindo os riscos eminentes nestes locais.
Dificuldades
A maior dificuldade encontrada para a popularização do uso da AP, atualmente, é a desinformação acerca das tecnologias existentes. Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), tal desconhecimento dificulta a análise e a interpretação das informações geradas para utilizá-las em tempo hábil.
Trabalho realizado na Universidade Federal de Pelotas revela que existe uma certa limitação na assimilação a respeito da tecnologia e seus benefícios por parte de produtores mais experientes. Em complemento, outro trabalho da USP/ESALQ destaca a complexidade do sistema, que necessita da compreensão de muita informação para a sua aplicação.
Neste contexto, as dificuldades relacionadas ao acesso às informações poderiam ser contornadas com iniciativas público-privadas de disseminação de conhecimento, como seminários, congressos e dias de campo, por exemplo.
Custo envolvido
O custo para se implementar ferramentas da AP pode variar de acordo com o objetivo do produtor, como por exemplo, o tipo de investimento que o produtor quer fazer na área, cultura a ser trabalhada, tamanho e relevo da propriedade, entre outros.
A aplicação de corretivos de solo em taxa variável já faz parte do calendário agrícola de inúmeros produtores brasileiros. Devido à necessidade da complexação do Al³+, empresas do agronegócio terceirizam os serviços com custos que variam de R$ 160,00 a R$ 200,00 por hectare.
No que diz respeito às culturas propriamente ditas, o monitoramento da lavoura via imagem de drones e satélites tem custo variado de aproximadamente R$ 10,00 a R$ 50,00 por hectare.
Levando em consideração esses aspectos, entende-se que custo está vinculado diretamente à necessidade do produtor e que estes alternam-se de acordo com a localização geográfica.