Maurício Siqueira dos Santos
Engenheiro agrônomo, mestrando em Engenharia Agrícola (UFSM) e integrante da Equipe Mais Soja
O cultivo do trigo no Sul do Brasil apresenta alguns desafios quanto ao manejo fitossanitário da cultura. O elevado tempo de molhamento foliar aliado a temperaturas amenas em algumas regiões de cultivo do grão favorecem o surgimento e desenvolvimento de doenças fúngicas.
Dentre as principais doenças fúngicas de ocorrência na cultura do trigo destacam-se as manchas foliares. Duas são as principais manchas foliares de maior ocorrência nas lavouras tritícolas do Sul do Brasil – a mancha amarela (Drechslera tritici-repentis) e a mancha marrom (Bipolaris sorokiniana).
Mancha amarela
Conforme destacado por Santana et al. (2012), os sintomas da mancha amarela são mais perceptíveis em plantas adultas, entretanto, podem aparecer em plantas jovens; o que irá definir o momento são as condições favoráveis ao desenvolvimento do patógeno.
Os autores destacam que os sintomas iniciais característicos são pequenas lesões (pontuações escuras), que evoluem para necroses com coloração marrom e halo amarelado, uma característica resultante da produção de toxinas do fungo.
Conforme relatado pelos autores, as lesões nas folhas do trigo reduzem a área fotossinteticamente ativa e, com isso, ocorre a redução de fotoassimilados e, consequentemente, redução da produtividade de 3,0 a 15%, entretanto, podem chegar a valores de 40%, dependendo da severidade da doença.
O patógeno sobrevive em resíduos culturais, sendo assim, é facilmente encontrado em áreas de plantio direto, sendo essas mais propensas ao desenvolvimento da doença. Temperaturas amenas, variando de 18 a 28°C, assim como tempo de molhamento foliar variando de 12 a 30 horas são excelentes para o desenvolvimento do fungo.
Mancha marrom
Os sintomas iniciais da doença são pontuações escuras nas folhas, aumentando de tamanho, adquirindo formato oval e coloração marrom escura. Os sintomas podem ser observados em folhas e bainhas, podendo atingir as espigas do trigo, causando escurecimento das glumas.
Os grãos atingidos pelo fungo ficam enrugados com aspecto de ponta preta. Quando no estádio inicial do desenvolvimento da cultura, o patógeno pode afetar a germinação, causando a morte de plântulas.
Quando a ocorrência se dá no período de florescimento da cultura, perdas de produtividade variando de 20 até 80% podem ser observadas. O patógeno pode estar presente nas sementes do trigo ou nos resíduos culturais, assim como a mancha amarela.
A temperatura ideal para o desenvolvimento do fungo varia entre 20 e 28°C e é preciso tempo de molhamento foliar de pelo menos 15 horas contínuas, período relativamente logo, mas facilmente alcançado em algumas regiões do Sul do Brasil durante o período de inverno, condições de dias nublados ou precipitações prolongadas.
Manejo
Dentre as práticas de controle para ambas as manchas foliares, recomenda-se a rotação de culturas com espécies não hospedeiras dos patógenos, a utilização de sementes com boa sanidade e livres dos patógenos, o tratamento de semente com fungicidas e a utilização de cultivares resistentes às doenças.
Quanto ao controle químico, em regiões com elevado período de molhamento foliar, histórico de incidência das doenças e temperaturas favoráveis ao desenvolvimento dos patógenos, recomenda-se a utilização de fungicidas de forma preventiva ou ao menos no início dos sintomas de ocorrência das doenças, favorecendo o controle dos fungos.
Avaliando o controle de doenças na cultura do trigo, observaram resultados de controle eficiente da mancha amarela quando utilizados piraclostrobina + epoxiconazole, azoxistrobina + ciproconazole e trifloxistrobina + tebuconazole. Os resultados obtidos pelos autores apontam controle acima de 70% da mancha amarela.
Alternativas como o uso de indutores de resistência também podem ser empregadas no manejo de doenças do trigo. Avaliando a interferência dos indutores acibenzolar-S-metil, mananoligossacarídeo fosforilado e Bacillus cereus na atividade de peroxidases, no controle de mancha marrom em trigo e a interferência desses sobre o Azospirillum brasilense, observaram que os indutores de resistência proporcionaram diminuição da severidade de mancha marrom na cultura do trigo, além do mananoligossacarídeo fosforilado estimular a atividade de peroxidases em folhas de trigo.
Os autores também observaram que o uso dos indutores de resistência testado no estudo não prejudicam o desenvolvimento do Azospirillum brasilense.
Outras estratégias como o posicionamento das linhas de semeadura (sentido Leste –Oeste), assim como a utilização de cultivares com maior resistência e adaptáveis a uma menor densidade de semeadura são ferramentas que podem auxiliar indiretamente no controle das doenças, favorecendo a interceptação da radiação solar e aumentando o fluxo de ar entre as plantas.