Nilva Teresinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora do Curso de Engenharia Agronômica do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (UNIPINHAL)
As algas marinhas são fontes de antioxidantes, substâncias produzidas a partir do metabolismo secundário das algas, que estimulam a proteção natural dos vegetais contra pragas e doenças e favorecem a vida microbiológica do solo, tornando as plantas menos vulneráveis às variáveis abióticas, como temperaturas desfavoráveis, raios ultravioletas, salinidade, seca, etc.
Contra pragas e doenças
As algas marinhas representam uma abundante e natural fonte de potenciais elicitores, que apresentam atividade direta contra fungos e bactérias, inibindo o desenvolvimento de micélios e a multiplicação de bactérias, estimulando a formação de fitoalexinas e aumentando a produção de antagonistas no solo.
A produção de fitoalexinas é mecanismo comum de resistência a microrganismos patogênicos de plantas. Entretanto, diferentes famílias botânicas usam distintos produtos secundários como fitoalexinas. Por exemplo, os isoflavonoides são fitoalexinas comuns em leguminosas, enquanto em solanáceas, como batata, tabaco e tomate, vários sesquiterpenos são produzidos como fitoalexinas.
Em geral, as fitoalexinas não estão presentes nas plantas antes da infecção, mas são sintetizadas muito rapidamente após o ataque de microrganismos. Dentre os elicitores existem os elicitores bióticos (endógenos e exógenos) e abióticos. Os elicitores bióticos são, por exemplo, ácido jasmônico, Trichoderma, Sacharomyces, Rizobactérias, etc. Os elicitores abióticos são, por exemplo, ácido salicílico e óxido nÃtrico. Estes últimos levam também a resistência quanto ao estresse hídrico.
Mas, o que são fitoalexinas e elicitores?
Fitoalexinas nada mais são do que substâncias produzidas ou ativadas em resposta à presença de patógenos. Acumulam-se nas células vegetais em resposta a uma infecção bacteriana ou fúngica. Já elicitores são substâncias que induzem a formação de fitoalexinas.
Como já se citou, as algas marinhas são ricas em elicitores. Como exemplo, pode-se citar a λ-carragenana, um polissacarÃdeo sulfatado encontrado na parede celular de algas marinhas vermelhas que induz o acúmulo de ácido salicílico e de outros compostos, aumentando a expressão de genes relacionados às defesas contra patógenos.
O ácido salicílico representa papel central como um sinalizador envolvido na defesa das plantas contra o ataque de microrganismos. O ácido salicílico pode ser considerado um mensageiro que ativa a resistência contra patógenos, incluindo a síntese de proteínas relacionadas com a destruição dos agentes estranhos.
Extratos de algas Ascophyllum nodosum, por exemplo, são eficientes para induzir resistência à alternariose, à cercosporiose e a podridões de raízes. Estudos bioquímicos com plantas tratadas com extrato de A. nodosum revelaram aumento da atividade de peroxidase (destrói peróxidos que são agentes oxidantes) e síntese de fitoalexinas, aumentando a resistência das plantas a fungos e bactérias.
Um polímero linear de β-1,3-glucana, chamado de laminarana, extraÃdo e purificado da alga marrom Laminaria digitata, estimula a formação de ácido salicílico. Ainda, derivados de Fucanas sulfatadas, componentes estruturais de paredes celulares de algas marinhas marrons, têm atividade elicitora, estimulando a formação de ácido salicílico e da fitoalexina escopoletina.
Para as hortaliças
O uso de algas marinhas durante o cultivo de hortaliças (ou de outras espécies vegetais) certamente propiciam melhor produção (em quantidade e qualidade). Considere uma hortaliça (alface, tomate, pimentão, etc.) colhida de plantas conduzidas com o uso de extratos de algas marinhas.
O produto terá, certamente, uma consistência melhor e maior quantidade de antioxidantes naturais, o que proporcionará maior resistência aos problemas de armazenamento: a consistência mais firme minimizará os problemas causados por deslocamentos. Já a presença de antioxidantes retardará muitos dos processos bioquímicos que ocorrem em pós-colheita, aumentando, assim, o tempo de prateleira do vegetal.
Veja, ainda, que o tratamento com algas marinhas, com os seus elicitores presentes, proporcionarão produtos mais sadios, o que certamente se refletirá na pós-colheita – no armazenamento, transporte e comercialização.
Manejo
As doses e épocas de aplicação dependem do produto a aplicar e da cultura. Para plantas de frutos (como tomate, berinjela, pimentão…) pode ser indicado o uso pós-transplante e no início do florescimento e a cada 15 dias. A dose a empregar está entre 0,5 a 1,0 l ha-1. O custo varia com a escolha do produtor.
Considerem-se, agora, os benefícios propiciados pelas algas marinhas no cultivo de plantas: raízes mais vigorosas, melhor desenvolvimento das plantas, produção mais abundante e de melhor qualidade, mais resistência às pragas e doenças (menor uso de inseticidas e redução de custos), etc. Assim, a viabilidade da inclusão de tal insumo nas lavouras só pode ser favorável.