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Algas marinhas em rabanetes: estimulação na produção

Agem como protetores em situações de estresse hídrico, promovem maior crescimento dos tubérculos e auxiliam na prevenção de rachadura e do aspecto esponjoso

Rafael Simoni
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
rafaelsimoni@agronomo.eng.br

Nos últimos anos, agricultores e pesquisadores têm se voltado cada vez mais para práticas agrícolas que sejam ao mesmo tempo eficientes e sustentáveis. Uma prática que tem se mostrado muito satisfatória é o uso de extratos de algas marinhas como bioestimulantes e também como fonte de nutrientes.

Esses extratos oferecem uma série de propriedades benéficas que podem transformar a maneira de praticar a agricultura.

Pontos importantes

Dentre os principais benefícios, os destaques são:

Importante fonte de nutrientes minerais para as plantas: as algas possuem praticamente todos os macro e micronutrientes necessários para as culturas agrícolas. Além disso, são ricas em substâncias quelantes naturais, que regulam e facilitam a absorção dos nutrientes pelas plantas;

Fontes de hormônios vegetais: importantes para promover o bom crescimento das espécies cultivadas. Por crescerem e se desenvolverem em ambientes onde podem ocorrer mudanças bruscas de condições, as algas naturalmente produzem hormônios para amenizar esses efeitos, e tais hormônios promovem o desenvolvimento das plantas;

Reduzem os efeitos de estresses climáticos e ataques de pragas e doenças: as algas produzem muitos aminoácidos importantes, como a prolina, que reduz o estresse de plantas submetidas às condições de geadas e também da alta exposição à luz solar, a alanina, que promove a regulação de água e outros solutos no interior da célula, a glicina, que funciona como um protetor das células em situações de falta de água, entre outros;

Podem ser usadas como condicionantes de solo: devido à alta qualidade da matéria orgânica que produzem, são uma excelente alternativa na reestruturação de solos compactados, e além de melhorarem a capacidade de retenção de água, auxiliam no reestabelecimento dos organismos necessários para a ciclagem dos nutrientes.

Potencializadoras de nutrientes e defensivos: em alguns casos, as algas podem contribuir para uma melhor absorção dos nutrientes, dos inseticidas e fungicidas aplicados. Isso se deve ao fato de os compostos nelas encontrados reduzirem o estresse em aplicações. Assim, a planta mantém os estômatos abertos por mais tempo, melhorando a absorção.

Proteção e estimulação dos rabanetes

Algas marinhas, como o próprio nome sugere, crescem em ambiente marítimo, com eventuais variações de temperatura, de alterações na salinidade da água, entre outras condições extremas que tornam o ambiente inapropriado para a maioria das plantas terrestres.

Essa adaptação que elas possuem se dá graças à produção de diversos compostos bioativos, como fito-hormônios, aminoácidos, flavonoides, polissacarídeos, ácidos algínicos, betaínas, entre outros, compostos estes que, quando extraídos, podem ser usados como biofertilizantes, precursores de fito-hormônios, protetores contra estresses e estimulantes de crescimento.

Os polissacarídeos – compostos elaborados a partir da união de várias moléculas de açúcares e carboidratos – na maioria das espécies de algas, são os componentes mais abundantes.

Os polissacarídeos agem como transportadores dos compostos descritos. Quando incorporados ao solo, permitem que a planta possa absorver esses compostos de forma gradual, evitando flutuações de disponibilidade ao longo do ciclo de cultivo.

Ainda, agem como agregadores de partículas do solo, reduzindo a compactação e aumentando a porosidade e a capacidade de retenção de água. Essas condições são fundamentais para o bom desenvolvimento dos tubérculos do rabanete.

Outro ganho é que os microrganismos benéficos do solo são beneficiados nessas condições, diminuindo assim o risco de infestações de nematoides, bactérias e fungos de solo prejudiciais à produção.

Esses meios de ação, combinados, permitem que a produção de rabanete seja otimizada, já que melhora as características do solo, permitem maior e melhor crescimento de tubérculos e mitigam os efeitos do estresse por fatores climáticos e de ataques de pragas e doenças.

Foco no rabanete

Os fitohormônios desempenham um papel fundamental no desenvolvimento das culturas. No rabanete, os hormônios regulam aspectos como crescimento e divisão celular, promovem o crescimento equilibrado entre a parte aérea e os bulbos e também evitam que o florescimento ocorra antes da formação completa do tubérculo.

Já os aminoácidos auxiliam na síntese de proteínas das células, regulam os processos metabólicos, como respiração, absorção de nutrientes e também a fotossíntese. São muito importantes na amenização dos efeitos de estresse por fatores ambientais.

Para a cultura do rabanete, os aminoácidos agem como protetores em situações de estresse hídrico, promovem maior crescimento dos tubérculos e, por serem reguladores de crescimento, auxiliam na prevenção de rachadura e do aspecto esponjoso, características essas que diminuem a qualidade comercial da cultura.

Os flavonoides atuam tanto como reguladores de crescimento, protetores contra estresse de origem ambiental, falta de irrigação, alta temperatura, contra estresse causado por ataque de algumas pragas e doenças, bem como têm a função de “filtro solar”, barrando parte da radiação ultravioleta.

Os ácidos algínicos ou alginatos têm ação antioxidante, promovem crescimento e robustez das raízes e aumentam a longevidade em diversas espécies de plantas. Pela ação antioxidante, as plantas adquirem um aspecto mais vívido e brilhante, tanto nas folhas como nos frutos, melhorando o aspecto visual, cuja característica tem grande importância para comercialização.

As betaínas, por sua vez, são compostos que notadamente têm ação nematicida, visto que foram alvo de alguns estudos científicos envolvendo a redução de ovos de nematoides do gênero Meloidogyne spp.

Red radish plant in soil. Radish growing in the garden bed.

Cuidados necessários

Como qualquer produto para aplicação em culturas agrícolas, os principais cuidados são:

Escolha do produto de acordo com a necessidade nutricional: além de priorizar um produto de procedência idônea, deve atender às necessidades, problemas ou melhorias que se quer implantar na lavoura. Hoje, existem no mercado produtos de excelente qualidade e que são direcionados para famílias específicas de plantas, bem como especificidade do estádio fenológico da planta. No caso do rabanete, existem produtos específicos para otimizar a produção dos tubérculos, tanto na forma de fertilizante foliar quanto condicionador de solo;

Recomendações do fabricante do extrato: geralmente, extratos contêm quantidades moderadas de minerais, e dosagens acima do recomendado podem prejudicar a cultura por intoxicação, assim como dosagens abaixo do recomendado podem não surtir o efeito desejado;

Cuidados com armazenamento do produto: extratos são insumos com altos índices de processamento industrial, o que muitas vezes torna o produto suscetível às variações de temperatura e umidade e também às reações com outros produtos. A armazenagem correta, de acordo com as recomendações do fabricante, garante uma maior eficácia no momento da aplicação;

As dúvidas que porventura o produtor encontrar devem ser apresentadas ao engenheiro agrônomo de confiança ou ao serviço de atendimento do fabricante do produto.

Eficácia nos rabanetes

O produtor deve selecionar o produto mais adequado para resolver o problema específico que deseja abordar em suas culturas. Para tomar essa decisão, é essencial entender as necessidades específicas da planta e as condições do solo e do clima da região.

O mercado brasileiro oferece uma ampla variedade de produtos agrícolas à base de extratos de algas, incluindo fertilizantes, bioestimulantes e condicionadores de solo, cada um formulado para atender a diferentes problemas e culturas.

Com essa diversidade de opções disponíveis, os produtores têm a possibilidade de encontrar soluções adequadas, e que maximizem o crescimento, a saúde e a produtividade de suas plantações

Impacto ambiental

Por se tratar de produtos de origem biológica, o impacto ambiental negativo nas aplicações tende a ser baixo, já que são compostos naturais, sem uso de moléculas sintéticas. Isso os torna biodegradáveis naturalmente.

A longo prazo, a incorporação desses produtos no solo promove um habitat favorável ao crescimento de organismos benéficos nas áreas onde são feitas as aplicações. Além disso, o material depositado pode, em muitos casos, aumentar o teor de matéria orgânica do solo, melhorando as condições de porosidade e de retenção de água.

No caso do cultivo do rabanete, que é uma tuberosa, essa melhoria tem um forte impacto positivo na produtividade, já que é uma cultura exigente em solos descompactados e com boa retenção de água.

Um potencial efeito ambiental desfavorável diz respeito à eventual salinização do solo, quando a aplicação é feita excedendo as dosagens recomendadas e quando não forem realizadas análises e interpretações das condições do solo.

Para evitar que isso ocorra, o produtor precisa seguir as recomendações de dosagem, bem como respeitar a periodicidade e intervalos de aplicação.

Tendências

Os institutos de pesquisa agropecuária – tanto públicos como privados – têm aumentado a pesquisa acerca dos efeitos das algas marinhas nas mais variadas culturas agrícolas. A cada ano, novos artigos são publicados com novas descobertas de compostos presentes nas algas e seus respectivos efeitos nas plantas.

Em um cenário de constantes mudanças climáticas e aumento da demanda por alimentos produzidos de forma sustentável e que ofereçam segurança alimentar, as algas marinhas surgem como uma alternativa viável de insumos agrícolas.

Esses estudos têm demonstrado que os compostos das algas podem beneficiar as plantas de várias maneiras, incluindo o aumento da resistência a estresses ambientais, a melhoria da qualidade do solo, a diminuição do estresse causado por pragas e doenças, e o estímulo ao crescimento vegetal.

Essas características são especialmente valorizadas em um cenário onde a segurança alimentar e a sustentabilidade são preocupações crescentes.

Além disso, o potencial das algas marinhas como bioestimulantes agrícolas está sendo cada vez mais reconhecido pela sua capacidade de melhorar a eficiência no uso de nutrientes, reduzir a dependência de fertilizantes sintéticos e promover práticas agrícolas mais sustentáveis.

Tais práticas reduzem os riscos de contaminações para os trabalhadores envolvidos na produção, e garantem ao consumidor um produto de maior valor nutricional, com alta segurança alimentar e com ótima qualidade nas questões de sabor, de aroma e visual.

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