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Algodão: Como está o mercado brasileiro?

Autora

Paula Almeida Nascimento Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)paula.alna@yahoo.com.br

Colheita de algodão – Fotos: Shutterstock

O Brasil registra recordes na exportação do algodão, sendo que, de julho de 2019 a fevereiro de 2020 exportamos 1.555 milhões de toneladas de algodão em pluma. Não é à toa que o produto é chamado também de ouro branco

O algodoeiro, planta da família Malvaceae, é cultivado no Brasil em várias regiões, e encontram-se diferentes sistemas de produção, desde pequenas glebas, de agricultura familiar até culturas empresariais de alto nível tecnológico.

O algodão é um produto de extrema importância socioeconômica para o Brasil. Além dos fornecedores de insumos, esse produto passa pela indústria de fiação, tecelagem, pela confecção de vestuário e finalmente pelo comércio de roupas.

Acrescenta-se, ainda, a indústria da moda e do design, as quais possuem suas peculiaridades e alto potencial de agregação de valor. Os subprodutos do algodão, como o caroço e o óleo, possuem papel relevante na indústria química e como alimento animal, integrando-se às cadeias produtivas do leite e da proteína animal.

Desta forma, o algodão em pluma é destinado à indústria têxtil. O caroço é usado na produção de óleo comestível, biodiesel e em misturas para rações animais e adubos. O óleo de algodão pode ser usado no preparo de saladas, maioneses, molhos e frituras. Também pode servir como lubrificante e ingrediente de margarinas, biscoitos, cosméticos, remédios, sabões e graxas. Ainda, é rico em vitamina E.

O caroço é esmagado e vira subprodutos como a torta (indústria de corantes e fertilizantes) e o farelo (que serve de ração animal, para bois e carneiros). O farelo de algodão é o terceiro farelo proteico mais produzido no mundo, perdendo apenas para o de soja e o de canola.

O algodão hidrófilo, desengordurado, branqueado e esterilizado, tem maior capacidade de absorção. É utilizado em curativos, cirurgias, produtos de higiene e limpeza da pele. Já na indústria bélica, o algodão é empregado na preparação de pólvora e em explosivos como o TNT. A celulose da planta serve para a fabricação de papel-moeda – na nota de dólar, por exemplo, compõe 75% de todo o material.

Mercado brasileiro

O algodão é destaque no agronegócio brasileiro e participa ativamente na indústria têxtil nacional e internacional. Segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), o País registra recordes na exportação do produto — de julho de 2019 a fevereiro de 2020 exportamos 1.555 milhões de toneladas de algodão em pluma.

Somente no mês de janeiro de 2020, a exportação atingiu 308 mil toneladas. O Brasil está entre os maiores produtores de algodão do mundo e ocupa a quinta posição. Assim, o primeiro produtor mundial de algodão é a Índia, e na segunda posição estão os Estados Unidos. A China ocupa o terceiro lugar, e em seguida o Paquistão.

Receita

No ano 2019, a produção e exportação de algodão no Brasil geraram uma receita de US$ 2,6 bilhões, superando o ano anterior em quase US$ 1 bilhão. Essa vitória se relaciona com a qualidade do algodão nacional, que possui 85% de toda a produção certificada pelo programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), incluindo clima favorável, variedades adequadas de plantas e manejo adequado, resultando somando em alta produtividade.

Desta forma, os principais destinos da exportação do algodão brasileiro são o continente asiático, com cerca de 97,5% da produção. A China, considerado um país produtor, importa algodão brasileiro.

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O mercado chinês depende da produção de algodão brasileira, pois sua produção não supre a alta demanda de sua indústria têxtil. Outros países asiáticos que importam algodão brasileiro são o Vietnã, Bangladesh, Turquia e Indonésia.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2019 a área cultivada do algodão teve um crescimento de 37,8%, resultando na produção de 1,61 milhão de toneladas, um aumento de 36% em relação à safra anterior.

Desafios da cadeia

As perspectivas para a produção de algodão no Brasil em 2020 são bastante promissoras. A estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) para a safra 2019/20 é que o País atinja 2,74 milhões de toneladas, com 1,636 milhão de hectares plantados. A Conab prevê um aquecimento de 43% nas exportações, atingindo 2,0 milhões de toneladas e um consumo doméstico de 720 mil toneladas para 2020.

Desafios de mercado
Produção têxtil Concorrência com o mercado de fibras sintéticas, como o poliéster.
Produção no campo Altos custos, como uso de defensivos, maquinários pesados, transporte até os portos e mercado interno, que recebe muitas roupas produzidas fora do País.

O Brasil é um país tropical, beneficiado pelo clima e pelas grandes áreas territoriais destinadas para a agricultura. Possui vantagens competitivas em relação a outros países produtores de clima temperado. A exploração da terra ao longo de todo ano no Brasil é possível, enquanto que nos países de clima temperado há uma estação fria, o inverno, em que a agricultura é pouco significativa.

Visão econômica

Segundo a Abrapa, o algodão está entre as mais importantes culturas de fibras do mundo. Todos os anos, uma média de 35 milhões de hectares de algodão é plantada em todo o planeta. A demanda mundial tem aumentado gradativamente desde a década de 1950, a um crescimento anual médio de 2%.

O comércio mundial do algodão movimenta anualmente cerca de US$ 12 bilhões e envolve mais de 350 milhões de pessoas em sua produção, desde as fazendas até a logística, descaroçamento, processamento e embalagem. Atualmente, o algodão é produzido por mais de 60 países, nos cinco continentes (Abrapa, 2018).

Os principais exportadores de algodão são Estados Unidos, Índia, Brasil e Austrália. Esses países, juntos, representam 76% de toda a exportação mundial. Os principais países importadores são Bangladesh com 1,6 milhão de toneladas, Vietnã com 1,5 milhão de toneladas e China com 1,2 milhão de toneladas em 2017/18.

Área plantada e produção anual

A área plantada com o algodão no Brasil cresceu de 949 mil hectares, no ano de 2016, para 1,6 milhão, em 2019, um crescimento de 68,5% nesse período, segundo o Levantamento – Safras 2018/19 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Esse crescimento tem sido alavancado por boas produtividades, preços atrativos e o aumento do consumo mundial e nacional, um sinal de que a cultura do algodão está deixando rentabilidade ao produtor.

Com uma colheita estimada em 2,7 milhões de toneladas nesta safra de algodão, o Brasil detém o quinto lugar no ranking mundial de produção da pluma, graças ao aumento significativo das áreas dessa cultura, com destaque para o Mato Grosso, responsável por 70% de todo o algodão produzido no País.

Em volume

De acordo com Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Cepea, da Esalq/USP, o volume de algodão a ser colhido no Brasil na safra 2019/20 será quatro vezes superior à quantidade estimada para a demanda doméstica. O Brasil tem condições de atender à demanda mundial durante todo o ano de 2020. Esse cenário é resultado da manutenção da área plantada com a pluma no País.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou uma produtividade média de 1.658 kg/ha, o que deve elevar em 1,1% a produção nacional, chegando a 2,76 milhões de toneladas. O maior Estado produtor do Brasil é o Mato Grosso, que representa cerca de 70% da produção brasileira de algodão e deve aumentar em 2,3% a área, para 1,12 milhão de hectares, mas a produtividade pode cair 1,1% (1.643 kg/ha), resultando em produção de 1,84 milhão de toneladas.

Investimento envolvido

O cultivo de algodão demanda maior investimento inicial, sendo um desafio para pequenos e médios produtores. Em Mato Grosso, segundo o IMEA (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), em boletim de julho de 2019, o custo por hectare da fibra supera os R$ 9.200,00 em todas as regiões do Estado. A soja, como exemplo comparativo, tem um custo que varia de R$ 3.473,69 a R$ 4.101,39 dependendo da região e tipo de cultivo. 

A média de produtividade da lavoura colhida em Canarana (MT) ficou em torno de 300 @/ha. O número ainda não é absoluto, pois os fardos da fibra precisam passar pelo processo de pesagem na Algodoeira (indústria de beneficiamento), que depois de processado deve alcançar mais de 40% do peso colhido (120@ de pluma) em produto pronto para comercialização. Regiões tradicionais no cultivo, como de (MT), apresentaram uma média, na safra 2018/19, de 290 @/ha.

Segundo Rodrigo Piccinini, da Meta Consultoria Agrícola, a boa produtividade para a cidade de Canarana foi devido às condições climáticas serem boas. Assim, a qualidade da pluma da região se difere das demais, do Brasil, e ainda não choveu na época da colheita, então não houve perda de qualidade. Outro fator destacado na região foi o baixo índice de pragas e doenças, porque o plantio iniciou recentemente na região.

Na negociação para venda, a arroba de algodão no Estado do Mato Grosso fechou em agosto de 2019 em R$ 75,67 em Campo Verde, e em R$ 71,75 em Primavera do Leste. Mas esse preço é da pluma processada.

Considerada uma das culturas mais “caras”, exigindo investimentos que ultrapassam a casa dos R$ 8 mil por hectare (segundo o Imea), o cultivo do algodão requer atenção desde o chamado “pré-plantio”. Afinal, qualquer falha cometida nesta fase da safra pode colocar em risco o elevado investimento. Fatores como a tecnificação e um bom planejamento são peças-chaves para obter resultados satisfatórios na produção da pluma.

Vamos ao que interessa – a rentabilidade

O algodão é uma das culturas que mais gera rentabilidade econômica aos produtores do oeste da Bahia. A região de São Desidério, por exemplo, já obteve o maior Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário do País, com cerca de R$ 1,8 bilhão, segundo o IBGE.

A região é responsável por 96% da produção de algodão da Bahia, que é o segundo maior produtor da fibra no Brasil, atrás somente do Mato Grosso. Assim, é uma cultura que produz bem em altas temperaturas.

A Bahia é o segundo maior produtor de algodão do País e a colheita na safra 2019/20 iniciou a partir de junho/2020. Os cotonicultores da região terão alta produção, que deve girar em torno dos 1,5 milhão de toneladas (caroço e fibra).

O plantio foi iniciado em dezembro passado, e a safra ocupa uma área total de 313.566 mil hectares. A perspectiva é atingir a produtividade média de 300 @/ha, segundo a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa).

A Bahia contribui com a participação de 25% da safra nacional, sendo considerada a área agrícola com a maior produtividade de algodão não irrigado do mundo. O Estado tem uma estrutura técnica desenvolvida para o algodão somada às condições naturais da região oeste, como solos planos e férteis possibilitados pela tecnologia agrícola, por meio de fertilizações e do incremento da matéria orgânica, estações de chuvas regulares e bem definidas, disponibilidade de água para irrigação e clima propício para a cultura.

As pesquisas contribuem para a maior rentabilidade da cotonicultura brasileira. Os produtores, atualmente, produzem fibra de alta qualidade, com alta produtividade e perspectivas de crescimento. Esse resultado satisfatório é possível devido à inserção de novas tecnologias ao sistema de produção, como biotecnologias, melhoramento em genética de cultivares, nutrição e manejo fitossanitário.

Demanda  

As perspectivas para o cultivo de algodão nos próximos anos são promissoras. Há uma demanda mundial da população, principalmente da Ásia, por ser uma fibra natural.

O Brasil dispõe de áreas agrícolas e tecnologia para atender ao aumento do consumo mundial de algodão. A qualidade do produto, os avanços nos métodos para controle fitossanitário, obtenção de variedades mais produtivas e organização da cadeia produtiva dos produtores brasileiros de algodão são fatores decisivos para a conquista dos mercados nacional e internacional. O País exporta principalmente para Cazaquistão, Indonésia e Coreia do Sul.

No levantamento do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (ICAC), a produção mundial de pluma deve chegar a 26,89 milhões de toneladas durante a safra de 2019/20, enquanto a previsão para o consumo é de 26,66 milhões de toneladas. A estimativa é que o estoque final chegue a 18,33 milhões de toneladas no período.

O consumo mundial de algodão encontra-se em torno de 27 milhões de toneladas. O maior consumidor é a China, com demanda de 9,3 milhões de toneladas no ano de 2018/19. Também o consumo da Índia cresceu ao redor de 4% em 2018/19, em relação ao período anterior, para um recorde de 25,2 milhões de fardos.

A forte demanda global por tecidos e roupas de algodão tem sustentado o recente crescimento observado na Índia. O Paquistão, por sua vez, consumiu por volta de 10,5 milhões de fardos em 2018/19, ligeiramente acima do ano anterior, e o maior em quatro anos.

Bangladesh processou 7,8 milhões de fardos em 2018/19, um aumento de 500.000 fardos, ou 7% em relação a 2017/18, uma vez que o seu consumo atinge novos recordes anualmente. O Vietnã também registrou um forte crescimento em 2018/19, de 12%, para um recorde de 7,4 milhões de fardos, um aumento de 800.000 fardos em relação à temporada anterior.

Ainda, o consumo na Turquia aumentou 3%, ou seja, 200.000 fardos, em 2018/19, e atingiu o valor recorde de 7,4 milhões de fardos, de acordo com o USDA (2018).

Maiores regiões produtoras

O Brasil está entre os maiores produtores mundiais de algodão e as regiões brasileiras que lideram a produção são Mato Grosso, na primeira posição, logo atrás o Estado da Bahia, Minas Gerais no terceiro lugar, na quarta posição Goiás e Mato Grosso do Sul é o quinto Estado produtor. Confira, a seguir, o ranking da produção nacional por Estado da safra 2018/19:

1º) Mato Grosso: 1.882.738 toneladas

2º) Bahia: 625.643 toneladas

3º) Minas Gerais: 75.100 toneladas

4º) Goiás: 70.686 toneladas

5º) Mato Grosso do Sul: 68.047 toneladas

6º) Maranhão: 47.507 toneladas

7º) Piauí: 29.228 toneladas

8º) São Paulo: 24.120 toneladas

9º) Tocantins: 6.273 toneladas

10º) Paraná – 780 toneladas

Fonte: Conab

Cerrado sai à frente

Na maioria das regiões brasileiras predomina a vegetação de Cerrado, onde os melhores resultados são por conta da topografia, que permite a mecanização da atividade, clima, estações definidas chuvosa e seca, e manejo da cultura adequado, que garante uma qualidade superior à fibra.

Além disso, as pesquisas das empresas públicas e privadas têm contribuído para o sucesso da produtividade dessas regiões. Por tudo isso, o algodão passou a ser produzido em larga escala no Cerrado.

Assim, o investimento em alta tecnologia na produção de algodão com sistemas de identificação e rastreamento da matéria-prima, além das inovações tecnológicas adotadas nas etapas de beneficiamento e armazenagem do algodão, são os maiores responsáveis pelos resultados alcançados.

Os grandes produtores realizam a análise e classificação de fibra segundo padrões internacionais e trabalham seguindo normas internacionais de sustentabilidade. Assim, a produção de algodão no Brasil é crescente, pois conta com alta demanda, especialmente no setor têxtil, tanto no mercado externo quanto interno.

Desta forma, um dos principais fatores para a obtenção de sucesso em uma lavoura de algodão é dar preferência a plantios em áreas planas, que facilitam os processos de drenagem e a mecanização. A realização de rotação de culturas na fase de pré-plantio da pluma ajuda a melhorar a estruturação do solo, e isso eleva sua capacidade de drenagem.

Com o solo mais forte, os custos com pragas e doenças são, consequentemente, reduzidos. Recomenda-se que nessa rotação as espécies utilizadas sejam aquelas de fácil condução e que produzam um alto volume de matéria seca, sempre cuidando para não usar espécies hospedeiras de nematoides, por exemplo.

Brasil – Safra 2019/ 20

Área plantada: 1,636 milhão de hectares

Produção: 2,74 milhões de toneladas

Custo de produção: R$ 9 mil por hectare

Consumo: 720 mil toneladas

Receita com exportação: US$ 2,6 bilhões

Custo de produção: R$ 9 mil por hectare

MUNDO

– O algodão é produzido por mais de 60 países

– Movimento anual:US$ 12 bilhões e envolve mais de 350 milhões de pessoas em sua

Os principais exportadores de algodão são:

 Estados Unidos, Índia, Brasil e Austrália. Esses países, juntos, representam 76% de toda a exportação mundial.

Os principais países importadores são:

– Bangladesh com 1,6 milhão de toneladas

 – Vietnã com 1,5 milhão de toneladas

– China com 1,2 milhão de toneladas

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