Valter Casarin
Coordenador Científico – NPV
Por incrível que pareça, a polaridade existente em muitos assuntos do nosso cotidiano também se aplica aos alimentos. Existem aqueles que defendem o consumo de alimentos orgânicos, considerando qualquer outro que não for orgânico não adequado. Mas, será mesmo que devemos pensar dessa forma?
Para iniciarmos a nossa análise, é importante entender a diferença entre o alimento orgânico e o convencional. A diferença está na forma de produção: enquanto no sistema orgânico defensivos agrícolas e fertilizantes minerais não são usados, no sistema convencional é permitido o uso desses insumos. Mas será que um alimento que usa defensivos e fertilizantes minerais deixa de ser orgânico? Ou todos os alimentos produzidos pela agricultura são orgânicos? Será que é possível produzir um tomate orgânico e outro não orgânico? A composição desses dois alimentos é diferente?
Devemos entender que as plantas são seres vivos, que respiram e transpiram,crescem e se reproduzem como nós. Os vegetais necessitam de nutrientes para que esses processos possam acontecer e tenham seu adequado desenvolvimento e produção. Esses nutrientes devem estar no solo, em formas assimiláveis. Aliás, as plantas absorvem os nutrientes em formas específicas, como por exemplo: o nitrogênio é absorvido nas formas de NH4+ e NO3–, o potássio na forma de K+ e o fósforo na forma de H2PO4–. Assim, independente do fertilizante aplicado, a planta exige os nutrientes exclusivamente nessas formas.
Os fertilizantes minerais têm sua origem a partir de fontes naturais. Nos casos do fósforo e do potássio, os fertilizantes contendo esses nutrientes são originados de minérios encontrados na natureza com alta concentração desses nutrientes. Já o nitrogênio, tem sua origem no ar atmosférico, que por processos químicos é transformado em formas de nitrogênio assimilável pela planta.
Isso nos faz afirmar que a composição de qualquer tipo de alimento será sempre orgânica. O tipo de fertilizante não fará um alimento ser mais orgânico do que outro. Sobre esse tema, existem vários levantamentos de pesquisa comparando os alimentos produzidos pelos dois sistemas de produção, orgânico e convencional, não havendo diferenças na composição nutricional dos alimentos gerados por esses sistemas.
Os adubos orgânicos, sempre que possível, devem ser a primeira opção de aplicação. Mas, não pelo fato de gerar um produto mais nutritivo, mas pela condição de sustentabilidade ambiental, por ajudarem na reciclagem de nutrientes, na redução da poluição ambiental, evitando descartes desnecessários. No entanto, em muitas condições, o uso do adubo orgânico é inviável, primeiro por ter baixas concentrações de nutrientes, o que inviabiliza o transporte para longas distâncias. Os adubos orgânicos têm sua viabilidade em polos agrícolas próximos à sua origem.
Vale aqui uma pequena, mas profunda reflexão: eu sou um ser orgânico? Se pensarmos no formato de um alimento orgânico, a resposta será negativa. Normalmente, a grande maioria, em algum momento da vida, teve que fazer uso de algum complemento nutricional. Seja pela ingestão de ferro para corrigir o sintoma de anemia ou a ingestão de cálcio para fortalecimento dos dentes ou ossos. As fontes desses nutrientes são semelhantes aos fertilizantes minerais usados na agricultura.
Por outro lado, é muito comum o uso de antibióticos para combater infecções bacterianas e vacinas para o tratamento ou prevenção de gripes, como a vacina contra o Covid-19. Outro exemplo são os inseticidas, os produtos para matar mosquitos e pernilongos, principalmente para aqueles transmissores da dengue. Enfim, todos esses produtos têm a mesma função dos agrotóxicos.
Isso nos permite entender que, se uma planta deixa de ser orgânica se são usados fertilizantes minerais e agrotóxicos, o que nos tornamos quando estamos tomando suplementos minerais e sendo vacinados? Deixamos de ser orgânicos? Pelo contrário, os suplementos e vacinas ajudam a controlar doenças, aliviar sintomas, ou seja, melhoram a nossa saúde e nos tornam pessoas saudáveis. Essa mesma resposta é válida quando o produtor rural aduba sua planta e usa os defensivos agrícolas: o objetivo é ter uma planta mais resistente e produtiva, com qualidade e livre de qualquer resíduo dos defensivos. Essa é a agricultura que zela pela segurança alimentar e a sustentabilidade do nosso planeta.
Sobre a NPV
A NPV – Nutrientes para a Vida – nasceu com objetivo de melhorar a percepção da população urbana em relação às funções e os benefícios dos fertilizantes para a saúde humana. Braço da fundação norte-americana NFL – Nutrients For Life – no Brasil, a NPV trabalha baseada em informações científicas. O uso de fertilizantes de forma responsável e correta é o caminho para oferecer à sociedade oportunidade para maior segurança alimentar e qualidade nutricional dos alimentos e, sobretudo, produzindo de forma sustentável e com total respeito ao ambiente. Nutrir o solo, através dos fertilizantes, é a forma mais sensata de produzir alimentos em quantidade e qualidade para as pessoas, além de valorizar a preservação de nossas florestas.
A missão da NPV é esclarecer e informar a sociedade brasileira, com base em estudos científicos, sobre a importância e os benefícios dos fertilizantes na produção e qualidade dos alimentos, bem como sobre sua utilização adequada.
A NPV tem sua sede no Brasil, é mantida pela ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos) e operada pela Biomarketing. A iniciativa conta ainda com parceiros como: Esalq/USP, IAC, UFMT, UFLA e UFPR.
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