Ademilson de Oliveira Alecrim
Engenheiro agrônomo, mestrando em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e membro do Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia (GHPD)
Pedro Menicucci Netto
Graduando em Agronomia pela UFLA e membro do GHPD
pedromenicucci2010@hotmail.com
Itamar Ferreira de Souza
PhD em Plantas Daninhas e Herbicidas, professor titular da UFLA e tutor do GHPD
As plantas daninhas, se não manejadas corretamente, interferem de forma negativa no desenvolvimento das culturas, pois elas competem por luz, água e nutrientes. Atualmente, uma espécie de planta daninha está causando grande preocupação entre os produtores e a comunidade científica.
Esta espécie, a Amaranthuspalmeri, conhecida popularmente como caruru gigante, é uma planta daninha originária de regiões áridas do Centro-Sul dos Estados Unidos e Norte do México, e está presente em vários países do mundo.
Inicialmente, ela ocorria principalmente em olerícolas, mas nos últimos anos se tornou a principal daninha do algodoeiro nos Estados Unidos, em função de suas características biológicas e da resistência a herbicidas de diferentes sÃtios de ação. Recentemente, a espécie foi identificada no Brasil, mais especificamente no Mato Grosso do Sul.
Biologia da espécie
As espécies de caruru já identificadas no Brasil têm flores masculinas e femininas na mesma planta.Já na A. palmeri, parte das plantas produzirão apenas flores femininas (planta fêmea) e a outra parte flores masculinas (planta macho). As sementes são produzidas somente nas plantas de flores femininas, mas há um detalhe importante e agravante de reprodução da espécie: flores femininas podem produzir sementes mesmo sem ocorrência de polinização (apomixia facultativa).
Elas possuem metabolismo fotossintético do tipo C4, sendo muito eficiente na utilização de água, gás carbônico e luz para a produção de açúcares. As maiores taxas de fotossíntese ocorrem entre 36 e 46°C, com máximo a 42°C, o que lhe dá vantagens competitivas em regiões de clima quente.
O crescimento é muito rápido (médias de 2 a 3 cm por dia). Dependendo das condições de desenvolvimento, uma única planta pode produzir de 200 mil a 600 mil sementes, mas há casos em que esse número pode ultrapassar um milhão de sementes.
As sementes possuem tamanho extremamente reduzido, em formato de discos ou arredondados, medindo de 1 a 2 mm, o que facilita muito sua dispersão.
Disseminação
Aves e mamÃferos têm sido relatados como meios de disseminação da espécie, mas, uma vez estabelecido o problema, assumem grande importância as atividades humanas, destacando-se o transporte de máquinas, insumos, resíduos e colheitas, tanto dentro quanto fora das propriedades.
Prejuízos
A combinação da taxa de crescimento rápido, adaptação ao calor e à seca e volume de raízes grandes faz da A. palmeri um concorrente agressivo contra as culturas de estação quente e um incômodo grave na época da colheita. Elas provocam reduções significativas de produção em todas as culturas agronômicas, especialmente quando surgem antes ou com a cultura.
Elas podem se sobrepor à maioria das culturas agrícolas, em muitos casos até plantas de milho, e com isso há maior competição por luz solar. Além disso, resíduos de A. palmeri podem suprimir o crescimento das culturas. Em alguns estudos realizados nos Estados Unidos, pesquisadores observaram que a incorporação dessa planta ao solo antes do plantio pode dificultar significativamente o crescimento de mudas de cenoura, cebola, repolho e sorgo, o que ocorre provavelmente devido a algum efeito alelopático que a planta exerce sobre as culturas.
Quando não é feito o controle da população de A. palmeri, perdas no rendimento das culturas podem atingir até 91% em milho, 79% em soja e 77% em algodoeiro, segundo bibliografia norte-americana.
Resistência a herbicidas
Existem populações com biótipos de A. palmeri que apresentam resistência simples a herbicidas de cinco mecanismos de ação: inibidores da ALS, inibidores da EPSPs, inibidores da HPPD, inibidores da tubulina e inibidores do fotossistema II.
O manejo dessas populações se torna ainda mais complexo com a ocorrência de resistência múltipla, a qual já foi detectada para dois ou três desses mecanismos (ALS/ EPSPs; ALS/EPSPs/FSII e ALS/FSII/HPPD).
Fora dos Estados Unidos já foram relatados biótipos com resistência a inibidores da ALS em Israel e da EPSPs na Argentina.
Também é importante a hibridação natural, comum nos carurus. Cruzamentos entre espécies do gênero Amaranthus são muito citadas na literatura, sendo possível a transferência da resistência a herbicidas de A. palmeri para outras espécies de caruru, e também o contrário.