Fernando Simoni Bacilieri
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – ICIAG-UFU
Roberta Camargos de Oliveira
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia
José Geraldo Mageste
Engenheiro florestal e professor – ICIAG-UFU
No Brasil, os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, e Paraná destacam-se por possuÃrem as melhores condições naturais para produção comercial do pêssego, entretanto, São Paulo e Minas Gerais apresentam as maiores produtividades, provavelmente atribuÃdas ao nível de tecnologia empregada, demonstrando que se trata de uma cultura responsiva ao manejo.
O estresse
Por ser uma cultura perene, o pessegueiro constantemente fica sujeito a condições de estresse durante seu ciclo. Estresse de plantas pode ser definido como “um fator esterno que exerce influência desvantajosa para as plantas“.
Podem ser divididos em estresse abiótico (temperatura, água, luz, nutrientes, vento, geada, granizo, etc.), que normalmente é difícil de ser previsto e controlado, ou estresse biótico (doenças, pragas, ervas daninhas, animais, fitotoxicidez, etc.) que pode ser minimizado por um bom manejo nutricional e fitossanitário.
Sempre que as plantas ficarem expostas a situações de estresse, haverá gasto de energia para recuperação e os processos como brotação, floração e frutificação poderão ser afetados, impactando no crescimento, desenvolvimento e componentes de produção. Quanto maior a intensidade ou duração do estresse, maior será o prejuízo.
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Aminoácidos
Uma prática de manejo fisiológico do pessegueiro que visa à prevenção ou recuperação das plantas em situações de estresse e que tem sido difundida entre técnicos e produtores é a aplicação exógena de produtos compostos por aminoácidos via foliar ou via solo.
Os aminoácidos são moléculas formadas por um carbono central ligado a um grupamento carboxila (COOH), um grupamento amino (NH2) e um átomo de hidrogênio. Além destas três estruturas, os aminoácidos apresentam um radical chamado genericamente de “R“, que diferencia os mesmos.
As proteínas das plantas são formadas a partir de um grande número de aminoácidos: L-Fenillamina, L-Tirosina, L-Treonina, L-Hidroxiprolina, L-Leucina, L-Triptofano, L-Isoleucina, L-Xiprolina, L-Metionina, L-Ornitina, L-Alanina, L-Valina, L-Arginina, L-Aspartato, L-Aspargina, L-Cisteina, L-Glutamato, L-Glutamina, L-Glicina, L-Prolina, L-Serina, L-Histidina, L-Lisina e L-Hidroxilisina.
No mercado brasileiro de fertilizantes, os aminoácidos normalmente estão presentes em misturas com outros compostos ou nutrientes em produtos classificados e comercializados como fertilizantes foliares sem informações quanto à origem e composição, o que dificulta aos técnicos e agricultores escolherem o mais adequado para cada situação.
A aplicação de aminoácidos nas plantas possui basicamente duas funções: fornecer o aminoácido propriamente dito para as plantas, e a de agente complexante de macro e micronutrientes catiônicos.
Como forma de fornecer os aminoácidos, produtos que apresentem o aminoácido prolina podem auxiliar na recuperação de estresse hídrico, pois este aminoácido é um potente osmorregulador.
Na fase de crescimento ou novo fluxo vegetativo, o aminoácido triptofano, por ser um precursor do hormônio vegetal auxina, favorecerá o crescimento vigoroso das raízes para melhor explorarem o solo e absorverem água e nutrientes, que são fundamentais aos processos fisiológicos das plantas.
Produtos formulados com cisteÃnavão evitar o envelhecimento precoce das folhas, uma vez que este aminoácido é precursor de compostos como a glutationa, que atua na neutralização de radicais livres ou formas reativas de oxigênio que aceleram a senescência.
O aminoácido ácido glutâmico é considerado um “coringa“ para as plantas, porque é a partir dele que são produzidos aspartato, aspargina e demais aminoácidos para produção de proteínas. Seu fornecimento exógeno possibilita considerável economia de energia para as plantas.
Contra pragas e doenças
Na fase reprodutiva, o pessegueiro fica mais suscetÃvel ao ataque de pragas e doenças e o uso de aminoácidos como a tirosina e a fenilanina, que são precursores dos compostos fenólicos envolvidos na defesa das plantas, confere maior resistência ao ataque de pragas e doenças, além atuarem na síntese de lignina, que promove resistência das plantas ao acamamento.
A uniformização da maturação pode ser promovida pelo uso de produtos que contenham metionina no final da fase reprodutiva, pois este aminoácido é precursor da síntese do hormônio etileno, que regula a maturação de frutos nas plantas.
Via solo
O fornecimento de aminoácidos via solo tem ganhado destaque.Aproveita-se o tratamento fitossanitário do solo para controle de nematoides, pragas ou doenças e adicionam-se produtos à base de aminoácidos aos agroquímicos.
No solo, os aminoácidos podem potencializar o efeito dos defensivos agrícolas e proporcionar benefícios como estimular o crescimento das raízes, aumento da CTC e da atividade biológica na região de rizosfera, favorecendo a solubilização e absorção de alguns nutrientes.
O aumento no aproveitamento de nutrientes via foliar nas lavouras pode ocorrer devido à complexação dos elementos catiônicos K+, Ca++, Mg++, Fe++, Mn++, Zn++ e Cu++ com os aminoácidos, formando assim um quelato orgânico que possui alta capacidade de atravessar a cutÃcula das folhas, que é a primeira barreira para absorção foliar por apresentar propriedades de atração e repulsão onde os nutrientes aplicados na forma de cátions livres levariam maior tempo para serem absorvidos.