Éder Jr de Oliveira Zampar – Engenheiro agrônomo e mestrando em Solos e Nutrição de Plantas – Universidade Estadual de Maringá (UEM) – eder_zampar@hotmail.com
Priscila Angelotti Zampar – Engenheira agrônoma e doutoranda em Proteção de Plantas – UEM
Carolina Fedrigo Coneglian – Engenheira agrônoma e doutoranda em Solos e Nutrição de Plantas – UEM
Anne Caroline Araujo Sand – Graduanda em Agronomia – Estagiária no Grupo de Estudos em Solos e Nutrição de Plantas (GESSO-UEM)
O Brasil apresenta uma grande diversidade climática, tendo um território extenso e grande diversidade de culturas agrícolas. Nesse contexto, o girassol (Helianthus annuus L.) vem sendo expandido pelo território nacional.
Sendo utilizado principalmente em grandes áreas, o girassol pega carona com o sistema de rotação de culturas, além do aumento do seu consumo e utilização no mercado. O girassol é uma planta dicotiledônea de ciclo anual, pertencente à família Asteraceae, de origem do continente norte-americano.
É uma oleaginosa que pode ter sua utilização desde a produção de óleo, alimentação animal direta, biocombustível e produção de produtos secundários. Além dos usos anteriormente citados, o óleo de girassol pode também ser utilizado nas indústrias farmacêuticas, de cosméticos, tintas e limpeza.
Por possuir um sistema radicular pivotante, apresenta boa adaptabilidade a situações de estresse hídrico, desde que haja uma boa condição química e física para o seu desenvolvimento, tendo assim uma boa oportunidade de expansão na agricultura. A produtividade do girassol gira em torno de 1.500 a 2.000 kg ha-1, com uma área de 100 mil hectares.
Visando manter uma boa produtividade por meio de uma suplementação foliar ou via tratamento de sementes, a utilização de aminoácidos de forma isolada ou até mesmo complexados com alguns nutrientes, vem sendo uma excelente ferramenta para as culturas no Brasil, especialmente no girassol.
Nutrição do girassol
O crescimento e o desenvolvimento das culturas são condicionados pela ação interativa de fatores genéticos e ambientais e estes, por sua vez, ocasionam desempenho diversificado das plantas. Entre os principais fatores ambientais, se destacam o suprimento nutricional e o hídrico como os mais importantes no desenvolvimento das culturas.
A cultura do girassol, assim como as demais, não tolera alumínio no solo, necessita de uma qualidade física, ou seja, um sistema sem compactação, e com relação a nutrientes, necessita de uma saturação de base com no mínimo de 50% e pH adequado.
Ele acumula grandes quantidades de nutrientes, principalmente nitrogênio, fósforo e potássio, porém, a exportação para os grãos é baixa. Dessa forma grande parte desses nutrientes retorna ao solo após a colheita, por meio dos restos culturais (Vilalba, 2008). O girassol acumula o total de 41 kg de N; 17,1 kg de P2O5 e 171 kg de K2O para produzir uma tonelada de grãos. A ordem de extração de macronutrientes pelas plantas de girassol é K>N>Ca>Mg>P=S.
Dentre os micronutrientes, a cultura do girassol é considerada exigente em boro, sendo utilizada como planta indicadora de deficiência deste nutriente no solo (Souza et al., 2004). Exerce função primordial na germinação dos grãos de pólen e crescimento do tubo polínico, na divisão celular, na estrutura e integridade da parede celular no metabolismo de carboidratos e de RNA, respiração e metabolismo de AIA.
Mas, além do B, os demais micronutrientes são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento da cultura.
Aminoácidos nas plantas
Embora a planta seja capaz de sintetizar todos os aminoácidos que são necessários para a síntese de proteínas, a suplementação de campos de produção com componentes primários de proteínas e ácidos nucleicos é uma estratégia inteligente para aumentar a produtividade da lavoura.
A aplicação de aminoácidos em cultivos pode ativar o metabolismo fisiológico da planta. Cada estágio de crescimento da planta requer quantidades específicas de diferentes aminoácidos, e caso seja aplicado o aminoácido mais requerido pela planta naquele momento, causará benefícios para seu crescimento e desenvolvimento.
Aminoácidos são moléculas orgânicas que contêm nitrogênio, carbono, hidrogênio e oxigênio, e uma cadeia orgânica lateral na sua estrutura, utilizada para distinguir um aminoácido dos demais. Glutamato, glutamina e aspartato são os primeiros aminoácidos formados pelas plantas na via de assimilação de nitrogênio.
A partir destes, outros são formados através da atividade de aminotransferases. Os aminoácidos podem desempenhar diferentes funções nas plantas, podendo atuar como agentes redutores de estresse, fonte de nitrogênio e precursores hormonais (Dudareva, 2012).
O processo de formação dos aminoácidos está totalmente ligado ao processo de assimilação e absorção do nitrogênio, pois quando a planta absorve o nitrogênio na forma de nitrato do solo, ele é reduzido a nitrito nos plastídios das raízes, ou até mesmo na parte aérea. Posteriormente, esse nitrito é reduzido a amônio e, por fim, esse amônio será incorporado aos aminoácidos pela atividade de duas enzimas a glutamina sintetase (GS) e a glutamato sintetase (GOGAT).
Assim, temos a formação de duas moléculas de glutamato, que é o primeiro aminoácido formado na planta, utilizado como base para a formação dos demais aminoácidos de acordo com a necessidade fisiológica da cultura.
Essencialidade
As plantas possuem em torno de 20 aminoácidos essenciais, dentre eles: triptofano, glicina, metionina, serina, tirosina, valina, prolina, fenilalanina, arginina, leucina, histidina, ácido aspártico, lisina, treonina, ácido glutâmico e isoleucina.
Os aminoácidos podem ser fornecidos por tratamento de sementes, via pulverização foliar ou até mesmo por meio de jato dirigido no sulco de plantio, podendo ser aplicados em conjunto com nutrientes ou de forma isolada.
Quando utilizados no tratamento de sementes, os benefícios alcançados com o uso de aminoácidos estão associados à melhora do enraizamento, que tem como resultado plantas mais vigorosas e uniformes. Com um sistema radicular maior, teremos uma maior absorção de nutrientes e exploração do solo, sofrendo menos com estresses hídricos.
Por exemplo, uma planta que recebeu um tratamento com aminoácidos no plantio tem maior velocidade de recuperação e diminuição de danos causados por algum fator como clima ou fitotoxidez.
Novidade
A aplicação foliar de produtos contendo aminoácidos é uma técnica que está sendo utilizada nos últimos anos, melhorando a forma de dispor os nutrientes para as plantas e agregando mais aos fertilizantes.
Assim, aminoácidos promovem uma maior eficiência nas atividades metabólicas da planta e, consequentemente, resulta em aumento da produtividade (Braga, 2016).
Os compostos formados pela associação entre um aminoácido e um nutriente são chamados no meio agronômico de “quelatos”, mas na verdade esse tipo de composto deve ser chamado de complexo. Ou seja, um agente complexante, um íon, uma molécula ou um grupo funcional que pode se ligar com um íon metálico através de um ou vários átomos de moléculas diferentes para formar um grande complexo, enquanto um agente quelante é um composto que pode se ligar com um íon de metal para produzir um quelato por meio de vários átomos na mesma molécula.
Os aminoácidos têm grande permeabilidade na cutícula via pulverização foliar, e dessa forma, aumentam a eficiência da absorção foliar. O fornecimento de aminoácidos por meio de aplicações foliares proporciona uma resposta rápida, pois sua incorporação na planta pode passar de 25% de produto aplicado em 24 horas.
A importância dos aminoácidos para as plantas está ligada aos metabolismos primário e secundário. Os aminoácidos complexados com nutrientes têm sido utilizados muitas vezes no manejo de situações de estresse abióticos, como déficit hídrico, altas temperaturas, salinidade, entre outros, com a finalidade de mitigar os efeitos desses estresses.
Benefícios e resultados para o girassol
A utilização de complexos na cultura promove sempre ganhos positivos, pois além de fornecer nutrientes para a suplementação, temos também a presença de aminoácidos, ou compostos que tenham a capacidade de produzir ou induzir a planta à produção de aminoácidos.
Seus benefícios vão desde um melhor estabelecimento das plantas, com um melhor arranque via tratamento de sementes, ou até mesmo em complementação foliar, ainda mais quando esses aminoácidos estão associados a elementos como o boro na cultura do girassol, devido à sua alta demanda.
A utilização desses complexos vai acarretar em melhorias na produtividade, como um melhor diâmetro de capulho ou até mesmo na qualidade e no peso dos aquênios.
Mesmo o girassol sendo uma cultura que possui certa rusticidade, a utilização de aminoácidos promove um saldo positivo a essa cultura, atuando na mitigação de estresses e manutenção da atividade fotossintética, além da sua atuação no metabolismo secundário.
Em tratamento de sementes, os ganhos com os aminoácidos foram consideráveis, promovendo um melhor enraizamento e, consequentemente, uma maior absorção de nutrientes devido à melhor exploração do solo.
Nas aplicações foliares, além de um aumento na taxa fotossintética, observou-se incrementos na massa de aquênios e, consequentemente, na produtividade.
De forma resumida, a utilização de aminoácidos na agricultura sempre promove ganhos positivos, mas sempre devemos manejar as culturas afim de manter um equilíbrio entre a nutrição da cultura e fertilidade do solo, a parte estrutural e biológica do solo, além do manejo e da genética. A combinação e o equilíbrio de todos eles nos leva a altos tetos produtivos e produção de qualidade.