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Plantas espontâneas

Madelaine VenzonPesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) e coordenadora do Programa Estadual de Pesquisa em Agroecologiamadelainevenzon@gmail.com

O manejo das plantas espontâneas promove o controle biológico das pragas – Crédito: Juliana Martinez

O manejo das plantas espontâneas nas áreas de cultivo pode promover o controle biológico das pragas nas plantas cultivadas. Isso ocorre porque as plantas espontâneas fornecem diversos recursos para predadores e parasitoides das pragas, tais como pólen, néctar, honeydew e presas.

Além disso, a presença de plantas espontâneas proporciona áreas de refúgio, locais para oviposição e microclima adequado para esses inimigos naturais. Esse incremento da população de inimigos naturais já existentes no campo, sem a necessidade de liberações, é o controle biológico conservativo.

Uma das técnicas do controle biológico conservativo é o manejo das plantas espontâneas, que por ser uma prática de fácil compreensão e sem grandes custos pode ser adotada por agricultores, especialmente os familiares.

Proteção e manejo

As plantas espontâneas podem ser manejadas por meio da manutenção de áreas não cultivadas próximas aos cultivos, ao redor dos plantios e nas suas entrelinhas. Seu manejo pode ser facilmente implantado em sistemas agroecológicos, por não ser necessária a aquisição de sementes e a introdução de plantas diferentes da realidade dos agricultores.

Para evitar a competição entre o cultivo e as plantas espontâneas, recomenda-se impedir a associação das plantas no período crítico da cultura (geralmente no primeiro terço de desenvolvimento), permitir o crescimento em faixas alternadas com plantas espontâneas e promover o espaçamento maior nas entrelinhas da cultura principal.

Quando se conhece as plantas espontâneas que são mais atrativas aos inimigos naturais chave, pode-se realizar a capina seletiva para aumentar a efetividade do controle biológico. Algumas plantas espontâneas podem também abrigar artrópodes indesejáveis ou patógenos de plantas. Nesse caso, recomenda-se monitorar, principalmente no período da entressafra, e realizar o controle dessas plantas.

Controle biológico conservativo

Diferente do controle biológico aumentativo, onde macro e/ou microrganismos são liberados nos plantios, no controle biológico conservativo são usadas técnicas que aumentam as populações e a eficiência de predadores e parasitoides já existentes nos cultivos.

O manejo do ambiente, pela diversificação estratégica da vegetação, pode incrementar a sobrevivência e o desempenho dos inimigos naturais, resultando na redução populacional das pragas. A diversificação pode ser obtida por meio dos policultivos, uso de coberturas verdes nas entrelinhas, sistemas agroflorestais de cultivo e manejo de plantas espontâneas.

A cultura da pimenta foi usada como modelo para os estudos da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerias (EPAMIG), em projetos do Programa Estadual de Pesquisa em Agroecologia, para o controle biológico conservativo por meio do manejo de plantas espontâneas.

Pesquisas

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A escolha da cultura foi devido a sua importância econômica, social e cultural e à necessidade de estratégias de manejo de pragas. O conhecimento das espécies de plantas espontâneas mais eficientes na promoção do controle biológico e quais são os mecanismos específicos que garantam a presença de inimigos naturais foi estudado em laboratório, casa de vegetação e em campo.

Nos estudos realizados em laboratório e em casa de vegetação pela Epamig, foi avaliado o potencial de espécies comuns de plantas espontâneas para incrementar o controle biológico conservativo por meio da provisão de recursos para predadores comumente encontrados em diversos agroecossistemas.

O picão-preto (Bidens pilosa), o mentrasto (Ageratum conyzoides) e a serralha (Sonchus oleraceus) aumentaram a sobrevivência de joaninhas e de crisopídeos (bicho-lixeiro), mesmo na ausência de suas presas, (pulgões, ácaros e moscas-brancas). Isso significa que na presença dessas plantas no campo, esses predadores podem sobreviver e permanecer nos plantios mesmo antes da chegada das pragas.

Assim, já poderão agir sobre a população inicial das pragas, impedindo seu aumento e o consequente dano às culturas. Além disso, o picão-preto e a serralha hospedam espécies de pulgões que não atacam a pimenta, mas que servem de presas alternativas para predadores e de hospedeiros para parasitoides de pulgões que atacam as plantas cultivadas.

As aranhas foram também positivamente influenciadas pelas plantas espontâneas. O mentrasto atrai um grande número de aranhas, que utilizam as plantas como substrato para construção de teias, usam suas inflorescências como local de captura de presas e também se alimentam do pólen e do néctar.

Em estudo realizado em campo, na cultura de pimenta-malagueta, em Piranga (MG), verificou-se que cada espécie de planta espontânea tem associação com diferentes aranhas, tais como: aranhas caçadoras de solo ou de folhas; construtoras de teias orbiculares ou tridimensionais; saltadoras e de tocaia.

As plantas espontâneas, mantidas nas bordas dos cultivos de pimenta, aumentaram a abundância total de aranhas dentro da área de cultivo, bem como provocaram redução no ataque de pulgões.

Mais estudos

Em outro estudo coordenado pela Epamig, em Paula Cândido (MG), em áreas de produção de pimenta de agricultores familiares, avaliou-se como práticas agrícolas a eliminação da vegetação espontânea e o emprego de agrotóxicos que afetam a diversidade e a riqueza de joaninhas, importantes predadores de pulgões e ácaros que atacam a pimenta.

A abundância e a riqueza desses predadores foram maiores em áreas de plantio de pimenta com presença da vegetação espontânea nas bordas, seguido por áreas sem vegetação espontânea e sem controle químico e, finalmente, uma menor abundância e riqueza de joaninhas foi encontrada em áreas com uso de agrotóxicos.

Foi verificado, também, em Oratórios (MG), que as áreas de pimenta-malagueta manejadas com a manutenção de plantas espontâneas tiveram maior abundância de besouros predadores que vivem no solo e se alimentam de pulgões e lagartas, quando comparadas com áreas de monocultura.

Os estudos foram realizados com a cultura da pimenta como modelo, no entanto, todos os inimigos naturais estudados são frequentes em vários cultivos. Portanto, a técnica pode ser adaptada para outros plantios. Além do controle biológico, outro importante serviço prestado pelas plantas espontâneas é o aumento da abundância de polinizadores e o consequente aumento na produção.

Programa em Agroecologia

O Programa Estadual de Pesquisa em Agroecologia da EPAMIG tem como objetivo o desenvolvimento rural sustentável e o aumento da produtividade, aliado à conservação da biodiversidade e dos recursos naturais.

As ações incluem também o desenvolvimento de tecnologias adequadas à legislação aplicada aos sistemas orgânicos em diferentes agroecossistemas e o fortalecimento das parcerias entre a EPAMIG, agricultores e instituições pesquisa, ensino e extensão rural, com vistas à integração e aperfeiçoamento do processo de geração de conhecimento e de disseminação de tecnologias por meio de metodologias participativas.

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