26.6 C
Uberlândia
quarta-feira, maio 1, 2024
- Publicidade -
InícioArtigosANAC amplia capacidade dos drones nas lavouras

ANAC amplia capacidade dos drones nas lavouras

A simplificação e facilitação do uso de drones na aplicação de agrotóxicos e outros produtos agrícolas em áreas desabitadas, independentemente do peso máximo de decolagem da aeronave, desde que operando dentro dos limites estabelecidos, é vista como um estímulo ao desenvolvimento do agronegócio.

Vitor Carvalho Ribeiro de Araújo
Engenheiro agrônomo e doutor em Engenharia Agrícola (FCA/UNESP)
Vicente Márcio Cornago Júnior
Doutor em Engenharia Agrícola (FCA/UNESP), professor na FATEC Botucatu e Jahu e responsável pelo curso CAAR (Curso de Aplicação Aeroagrícola Remota) pela FEPAF
vicente.cornago@unesp.br

Desde 2017 a Regulamentação Brasileira da Aviação Civil Especial (RBAC-E) n°94 está em vigor. Ela aborda os requisitos para aeronaves não tripuladas, estabelecendo as condições para sua operação no Brasil.
Seu objetivo é regular questões técnicas relacionadas à segurança da aviação civil. O RBAC-E possui uma vigência limitada no tempo e aplica-se a um número restrito de requisitos e pessoas, até que sejam incorporados em um RBAC apropriado ou revogados definitivamente.
O regulamento visa promover um desenvolvimento sustentável e seguro para o setor de drones, com restrições operacionais consideradas necessárias, especialmente em relação a áreas próximas a terceiros.
Espera-se que a experiência prática nos próximos anos permita uma melhor compreensão e superação dos desafios para uma integração ampla dessas aeronaves no sistema de aviação civil.
Além disso, é importante observar as regulamentações de outras entidades governamentais, como a ANATEL, o DECEA e o Ministério da Defesa, bem como as leis que se referem à responsabilidade civil, administrativa e penal relacionadas ao uso de drones, com destaque para a proteção da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas.

Classificação

O Brasil possui aproximadamente 111.034 drones Classe 3 e 2 (até 150 kg) registrados na ANAC em levantamento realizado em Junho de 2023, sendo maior parte deles destinados a lazer.
Para uso profissional, boa parte desses registros partem de profissionais autônomos, empresas de imagens aéreas, cinematografia e do setor agrícola. Na agricultura, eles são utilizados principalmente para atividades de mapeamento aéreo, como o monitoramento de pragas no campo, detecção de falhas de plantio, obtenção de mapas de variabilidade, pulverização, controle biológico, combate a incêndio e monitoramento de áreas (Figura 1).

Figura 1. Registros das atividades de uso dos drones classe 3 e 2 (Até 150 kg) (ANAC, 2023).

Os equipamentos classificam-se de acordo com o peso de operação, divididos em três classes de acordo com a RBAC-E Nº 94 item E94.5:

  • Classe 3 (até 25 kg): engloba drones mais leves, com peso máximo de decolagem de até 25 kg. Eles são geralmente usados para fins recreativos, hobby, pequenas operações comerciais e atividades de baixo risco. Drones dessa classe estão sujeitos a regulamentações menos restritivas em relação aos requisitos de registro e autorizações de voo.
  • Classe 2 (de 25 kg a 150 kg): abrange drones de médio porte, com peso máximo de decolagem entre 25 e 150 kg. Esses drones são frequentemente utilizados para fins comerciais, como inspeções, mapeamento, monitoramento agrícola e fotografia aérea profissional. Os operadores de drones nessa classe precisam cumprir requisitos mais rigorosos em termos de registro, treinamento de pilotos e obtenção de autorizações de voo específicas.
  • Classe 1 (acima de 150 kg): inclui drones de grande porte, com peso máximo de decolagem acima de 150 kg. Esses drones são geralmente utilizados em operações complexas, como monitoramento de fronteiras, transporte de cargas pesadas e atividades de pesquisa científica. A operação de drones dessa classe está sujeita a regulamentações mais rigorosas, incluindo requisitos específicos de segurança, treinamento de pilotos altamente qualificados e obtenção de autorizações especiais da ANAC.

O que muda

Recentemente, houve uma alteração no uso de drones para pulverização com a Resolução nº 710, de 31 de março de 2023. A emenda inclui a classificação das aeronaves remotamente pilotadas (RPAS) como Classe 3 quando estiverem aplicando agrotóxicos, adjuvantes, fertilizantes, inoculantes, corretivos e sementes em áreas desabitadas, independentemente do peso máximo de decolagem da RPA, desde que operem em linha de visada visual (VLOS) ou em linha de visada estendida (EVLOS) e até 400 pés acima do solo (AGL).
Além disso, os operadores e fabricantes devem informar à ANAC qualquer possível saída da área de voo autorizada. Disposições do RBAC-E 94.701.
Assim todos os drones para pulverização são classificados como classe 3 e não há necessidade de Seguro RETA, que é um seguro obrigatório e que pretende apenas a proteção de terceiros (passageiros, tripulantes, pessoas e bens no solo), no caso de acidentes aeronáuticos. Sendo assim, não se aplicam as disposições do RBAC-E 94.103 e do RBAC-E 94.701.

Vantagens da nova resolução da ANAC para o agro

A simplificação e facilitação do uso de drones na aplicação de agrotóxicos e outros produtos agrícolas em áreas desabitadas, independentemente do peso máximo de decolagem da aeronave, desde que operando dentro dos limites estabelecidos, é vista como um estímulo ao desenvolvimento do agronegócio.
Essa flexibilização visa permitir a escalabilidade e expansão do agronegócio nacional, por meio do aumento do uso de drones no setor. Com as novas regras, espera-se um aumento na aquisição de drones por parte dos produtores rurais e um maior interesse de fabricantes internacionais, o que irá contribuir para a consolidação do país como um dos mais importantes polos de negócios nesse mercado.

Operação dos drones durante a noite

O uso de luzes nos drones visa atender os voos permitidos com menos restrições pela ANAC, que são:
VLOS, quando o piloto mantém contato visual direto com o drone (sem auxílio de binóculos, lentes ou qualquer outro tipo de equipamento).
EVLOS: O piloto remoto guia o drone com auxílio de algum observador em terra. Assim, com as luzes, estende-se o campo de visada dos operadores. As regras para a operação de drones durante a noite estão geralmente incluídas nas regulamentações gerais da ANAC.
Essas regulamentações estabelecem requisitos básicos de segurança que se aplicam a todas as operações, independentemente do horário. Para operar drones sem luzes de navegação e iluminação durante a noite, pode ser necessário obter uma autorização específica da ANAC, apresentando um plano de voo detalhado.
Além disso, os drones devem estar equipados com luzes adequadas para garantir a visibilidade e evitar colisões. Os operadores devem adotar medidas de segurança e manter distâncias seguras em relação a pessoas, propriedades e outras aeronaves. É importante ressaltar que essas informações são baseadas nas regulamentações.

Modelos

No Brasil, a pulverização com drones acontece através as aeronaves de asas rotativas. A estrutura pode ser comparada à de um helicóptero, possuindo um corpo central com braços equipados por motores elétricos nas pontas.
A indústria chinesa de drones domina o mercado nacional, com destaque para a DJI, que possui 815 drones registrados (72% do mercado), seguido pela Joyance, com 58 drones. Existem também fabricantes nacionais, destacando-se as empresas: VOA com 40 drones, a Skydrones com 30 drones, Xmobots com 29 drones e ARPAC com 24 drones (Figura 2).

Figura 2. Registros dos drones classe 3 e 2 (até 150 kg) para pulverização (ANAC, 2023).

O peso máximo de decolagem (PMD) é algo de bastante relevância para os drones. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) aprovou a emenda ao Regulamento da Aviação Civil Especial (RBAC-E) nº 94, que trata dos requisitos gerais para operação de drones no Brasil. O Programa Voo Simples, presente nessa emenda, visa simplificar o processo de cadastro dos drones.
Com a alteração normativa, os drones da classe 3 e 2 passarão a ser cadastrados no sistema SISANT e não mais no RAB, proporcionando aos pilotos mais velocidade no cadastro, menos burocracia na apresentação de documentos e a isenção de Taxa de Fiscalização da Aviação Civil (TFAC).
A maior parte dos drones de pulverização registrados na ANAC apresentam PMD de 25 kg e 73 kg (Figura 3).

Figura 3. Registros do PMD dos Drones Classe 3 e 2 (Até 150 kg) para pulverização, ANAC 2023.

Pelo Brasil afora

A importância do PMD do drone infere diretamente em seu rendimento operacional. Segundo a empresa Agridrones, de Vitória (ES), o modelo Agras T20 (Classe 2), da fabricante DJI, com 20 litros de calda embarcada e uma faixa efetiva de 7 metros de aplicação, pode realizar até 2,0 hectares, com uma bateria, e leva de 10 a 12 minutos de operação, em uma região plana.
Em regiões montanhosas este valor cai para 1,3 hectares, pois devido à topografia, sobrevoa-se mais lento e a pulverização é realizada entre oito a 10 minutos. Na divisão por estado, o destaque fica para o estado de São Paulo, com 377 drones e o estado do Paraná, com 139 drones (Figura 4).

Figura 4. Registros dos drones classe 3 e 2 (Até 150kg) para pulverização por estado, ANAC 2023.

As regiões brasileiras sudeste e sul apresentam a maior concentração dos drones de pulverização. Este fato pode estar relacionado ao tamanho das áreas, tamanho de talhões, tipos de culturas, áreas montanhosas, pesquisas no setor e empresas pessoa jurídica e/ou pessoa física em busca por oportunidades relacionadas as inovações tecnológicas do setor.
Embora a pesquisa apresente um bom número de registros na ANAC, os dados de importações de drones pelo Ministério da Economia (Siscomex 2023) é seis vezes maior do que os dados da agência aeronáutica.

Figura 5. Registros de importações de drones para pulverização acumulado dos anos de 2020 a 2023, SISCOMEX 2023.

Muitos usuários de drones de pulverização podem optar por não registrar seus equipamentos na ANAC devido a várias razões. Algumas delas incluem o desconhecimento sobre a necessidade de registro, a preocupação com os custos e a burocracia envolvidos no processo, o uso considerado não comercial e a priorização de outros requisitos, como licenças específicas ou conformidade com regulamentações ambientais.
No entanto, é importante destacar que a falta de registro não significa operação ilegal, uma vez que cada país possui suas próprias regulamentações e requisitos para o uso de drones. É essencial que os usuários estejam cientes e cumpram todas as regras aplicáveis para garantir a segurança e conformidade, atendendo a Portaria nº 298 do MAPA.

Operações via drones

O uso de drones na agricultura está se tornando cada vez mais comum, oferecendo uma variedade de operações e benefícios para o setor. Eles podem ser utilizados para mapeamento e monitoramento de culturas, pulverização de defensivos agrícolas, liberação de inimigos naturais das pragas agrícolas, contagem e monitoramento de animais de produção, monitoramento de irrigação, detecção de danos por desastres naturais e monitoramento de crescimento e produtividade das culturas.
Essas operações auxiliam na detecção precoce de problemas, tomada de decisões precisas, redução do uso de produtos químicos, gestão de rebanhos, ajuste eficiente da irrigação, recuperação pós-desastres, avaliação de produtividade e otimização de práticas de manejo.
A tecnologia dos drones continua a evoluir, prometendo melhorar a eficiência e sustentabilidade do setor agrícola.

Ascenção

Os drones de pulverização representam uma tecnologia em plena ascensão na agricultura e geram inúmeras vantagens em relação aos métodos tradicionais. A pulverização com drones pode reduzir a quantidade de insumos aplicados, diminuir o tempo de aplicação e aumentar a precisão na distribuição dos produtos, resultando em economia de recursos e aumento da produtividade.
Além disso, essa tecnologia também tem o potencial de reduzir o risco de contaminação ambiental e humana, por permitir a aplicação precisa dos produtos apenas nas áreas necessárias.
Outra vantagem é a possibilidade de pulverização em áreas de difícil acesso ou terrenos acidentados, que muitas vezes são deixados de lado na aplicação de insumos. Com a utilização de drones, é possível atingir essas áreas de maneira eficiente e precisa, contribuindo para a melhoria da qualidade dos cultivos e redução de custos.

Mais produtividade no campo

Os drones têm o potencial de contribuir significativamente para aumentar a eficiência e a produtividade no campo por meio de várias aplicações. Eles podem fornecer monitoramento rápido e preciso das culturas, detectando problemas precocemente e permitindo ações corretivas direcionadas.
Além disso, os drones podem criar mapas precisos do terreno, auxiliando no planejamento agrícola e na otimização dos recursos. Eles também podem realizar a aplicação precisa de insumos agrícolas, reduzindo desperdícios e melhorando a cobertura nas plantações.
Os drones são úteis para inspecionar infraestruturas agrícolas e monitorar animais de produção em pastagens extensas. A coleta de dados pelos drones permite uma análise detalhada e a tomada de decisões informadas. Enfim, eles proporcionam uma coleta de dados mais rápida e precisa, permitindo que os agricultores maximizem sua produtividade e tomem decisões mais assertivas.

Desafios e limitações do uso de drones na agricultura

Apesar das vantagens e do potencial dos drones na agricultura, existem desafios e limitações a serem consideradas. Regulamentações governamentais impõem restrições, como requisitos de licenciamento e limitações de voo.
O investimento inicial na aquisição de drones e equipamentos relacionados pode ser significativo, além dos custos contínuos de manutenção e risco de deriva pelos drones de pulverização.
É necessário treinamento adequado para operar os drones de forma eficaz. A autonomia e a duração do voo são limitadas pela capacidade da bateria, exigindo planejamento cuidadoso. Condições climáticas adversas podem afetar a capacidade de voo e a qualidade dos dados coletados. O processamento e a análise dos dados requerem infraestrutura adequada.
Especificamente sobre o uso dos drones de pulverização, há limitações na capacidade volumétrica do tanque químico, na autonomia de bateria desses equipamentos e, principalmente, na tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas.
É evidente que esse não foi um assunto que preocupou os fabricantes de drones de pulverização nos primeiros modelos lançados no Brasil e ainda continua a não preocupar muitos deles.
Alguns parâmetros críticos da aplicação de defensivos agrícolas que se tem observado falhas são: deposição, cobertura, deriva excessiva, impossibilidade de configurar pontas de pulverização, espectro de gotas incompatível com a operação, ausência de sistema de agitação de calda e dificuldade de limpeza do sistema hidráulico.
Aliado a esses problemas, está a falta de conhecimento em tecnologia de aplicação por grande parte dos operadores dos drones. O avanço da tecnologia de aplicação em drones é crucial para o seguimento de investimentos e pesquisa e desenvolvimento por parte da indústria de defensivos agrícolas na elaboração de bulas específicas e novas formulações para aplicação de seus produtos via drones.
Um dos principais desafios no uso de drones na agricultura é garantir que todos os profissionais envolvidos, desde o piloto do drone até o responsável pela aplicação, estejam devidamente treinados e capacitados.
Para solucionar essa questão, é possível contar com o Curso de Aplicação Aeroagrícola Remota (CAAR), regulamentado pela Portaria MAPA Nº 298, que oferece capacitação adequada para profissionais que desejam trabalhar com essa tecnologia. Com um treinamento completo e atualizado, é possível reduzir os riscos de erros e garantir uma aplicação mais eficiente e precisa.

Requisitos de segurança

Ao operar drones no campo, é fundamental considerar os requisitos de segurança para garantir uma operação segura e minimizar os riscos envolvidos. Isso inclui cumprir as regulamentações locais, realizar inspeções pré-voo, verificar as condições climáticas, escolher locais apropriados, respeitar a privacidade, manter distâncias seguras, manusear adequadamente as baterias, monitorar constantemente o voo, garantir treinamento adequado dos operadores e obter seguro adequado.
Esses requisitos são essenciais para proteger pessoas, animais, propriedades e outras aeronaves durante as operações com drones no campo.

Futuro promissor

As perspectivas para o uso de drones na agricultura são promissoras, com o potencial de causar um impacto significativo no setor. Acredita-se que haverá uma maior adoção dos drones à medida que os agricultores reconheçam os benefícios e se familiarizem com as tecnologias.
Além disso, são esperados avanços tecnológicos, como drones mais eficientes e avançados, drones de asa fixa semelhantes a aeronaves com maior autonomia de voo e carga de produto, integração com outras tecnologias agrícolas, automação e eficiência operacional, aprimoramento da agricultura de precisão, monitoramento em tempo real e acesso a áreas remotas.
Em relação aos drones de pulverização, é esperado que os fabricantes invistam mais em tecnologia de aplicação a fim de fornecer aos clientes, equipamentos que gerem maior qualidade de aplicação, menor potencial de deriva e maior homogeneidade de calda no tanque de pulverização.
Esse avanço é crucial para que a indústria de defensivos agrícolas tenha confiança necessária para seguir com investimentos em atualizações de bulas para os drones e desenvolvimento de novas formulações.
Embora esses desafios existam, o potencial dos drones para melhorar a eficiência e a produtividade na agricultura continua sendo significativo, com avanços tecnológicos e esforços contínuos para superar essas limitações.

ARTIGOS RELACIONADOS

Uso de culturas de cobertura na entressafra traz ganhos em produtividade e qualidade para as lavouras

Adotar estratégias que otimizem o sistema de cultivo ao longo do ano é fundamental para a melhora dos resultados, seja em quantidade ou qualidade.

Crotalária: redução de nematoides

Suzeth Carvalho Sousa - Graduanda em Agronomia – Unicerrado - suzecarvalho10@gmail.com Pauletti K. Rocha - Engenheira agrônoma, mestra em Agronomia e diretora do curso de...

Mais produtividade em grãos

Uma técnica de plantio aplicada nas terras baixas gaúchas foi capaz de garantir uma ...

Com avanço da safra de grãos, aumenta preocupação com ataque de lagartas

Com a safra de soja caminhando para o fim e o plantio da safrinha de milho, aumenta a possibilidade de ataque das lagartas, principalmente a do gênero Spodoptera, uma das mais resistentes.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!