Bernardo Melo Montes Nogueira Borges
Engenheiro agrônomo, doutor em produção vegetal e gerente técnico na BRQ Brasilquímica
Desafios antigos, soluções atuais e novos entendimentos do funcionamento das plantas e do papel dos nutrientes na sua fisiologia impulsionam positivamente desenvolvimento, sanidade e produtividade.
A agricultura contemporânea enfrenta desafios complexos relacionados à intensificação da produção de alimentos, considerando a crescente demanda global e a necessidade de práticas sustentáveis.
Dentro desse contexto, a aplicação de fertilizantes foliar à base de enxofre e potássio na cultura do milho surge como uma estratégia promissora, capaz de conferir benefícios substantivos para a produtividade, a sanidade das plantas e a qualidade dos grãos.
Não confunda
Acredito que seja importante, desde o início, deixar muito bem claro de que esse tipo de manejo hora alguma toma como fundamento substituir adubações de base. Isso seria irresponsabilidade demasiadamente grande e feriria todo o princípio da extração, exportação, acúmulo, nível crítico e lei do mínimo.
Entretanto, muitos autores, em diversos trabalhos, têm mostrado um grande e positivo efeito fisiológico da aplicação de macronutrientes em períodos estratégicos em diversas culturas.
Do básico ao básico; enxofre e o potássio são nutrientes fundamentais para o desenvolvimento saudável das plantas de milho. O enxofre desempenha um papel crucial na síntese de aminoácidos e proteínas, contribuindo para processos metabólicos essenciais, como a formação de clorofila e a regulação do crescimento.
Por outro lado, o potássio é um macronutriente vital para a regulação osmótica, a ativação de enzimas e o transporte de nutrientes. E é mais do que válido destacar que em alguns cultivares de milho absorve-se e acumula-se mais potássio do que até mesmo nitrogênio.
Assim, a combinação desses elementos, quando aplicada de forma foliar, proporciona uma fonte direta e imediata de nutrição para as plantas. Isso é particularmente relevante em fases críticas do ciclo de crescimento do milho, como o período de desenvolvimento vegetativo e a fase de enchimento de grãos, quando as demandas nutricionais são mais intensas.
É curioso como híbridos modernos são agressivos em crescimento vegetativo e as vezes temos breves deficiências nutricionais, devido a raiz não conseguir acompanhar o desenvolvimento da parte aérea.
Inovação
A aplicação foliar de fertilizantes contendo enxofre e potássio está associada a um aumento na produtividade da cultura de milho. A presença equilibrada desses nutrientes promove uma melhoria significativa na eficiência fotossintética, com maior capacidade de fixar carbono e converter a luz solar em biomassa.
Essa eficácia aprimorada contribui diretamente para um maior rendimento de grãos por unidade de área cultivada, atendendo às crescentes demandas por produção agrícola. Esse incremento na capacidade fotossintética do milho está diretamente associado a um aumento direto da capacidade da planta de absorver mais nutrientes via raiz e de maneira mais eficiente.
De maneira geral, esse efeito ainda não está totalmente elucidado pela ciência, mas muito se fala na capacidade do potássio atuar como um carreador de fotoassimilados durante períodos de estresse nos quais a planta, por motivos fisiológicos, paralisa essas atividades pelas vias convencionais.
Outro ponto que é importante destacar é que um desses fotoassimilados são as proteínas, e então temos uma ligação direta desse nutriente com outro que confere qualidade e estabilidade para essas moléculas, o enxofre.
A aplicação de enxofre e potássio via foliar não apenas influencia a quantidade/produtividade, mas também a qualidade dos grãos. A presença equilibrada desses nutrientes contribui para a formação de grãos mais saudáveis, densos e pesados.
O enxofre, ao influenciar a síntese de aminoácidos, impacta diretamente a qualidade proteica dos grãos. O potássio, por sua vez, influencia a textura e o teor de amido dos grãos.
Quantidade ou qualidade?
Entendo que o questionamento de todos seria de que não recebemos pela qualidade, sim de fato é verdade. Contudo, grãos com maior qualidade expressam menores perdas, maior densidade e, consequentemente, mais carga. Não se vende milho por volume, e sim por peso!
Evidentemente que não só a parte nutricional influencia nessa qualidade de grãos. Manter a sanidade da lavoura durante o seu desenvolvimento e maturação influenciam diretamente na produtividade e qualidade de grão que chega ao armazém.
Assim, a resistência a doenças e pragas é uma preocupação constante para os agricultores, e a aplicação de fertilizantes foliares à base de enxofre e potássio desempenha um papel crucial na promoção da sanidade da lavoura.
O enxofre, ao ativar enzimas de defesa, fortalece a resposta imunológica das plantas, tornando-as menos suscetíveis a patógenos. A presença adequada de potássio contribui para a resistência ao estresse biótico e abiótico, conferindo robustez às plantas diante de condições adversas.
Via foliar
A aplicação de fertilizantes foliares à base de enxofre e potássio na cultura do milho emerge como uma estratégia multifacetada, proporcionando benefícios substanciais para a produtividade, a sanidade da lavoura e a qualidade dos grãos.
Essa abordagem inovadora não apenas atende às demandas crescentes por alimentos, mas também promove práticas agrícolas sustentáveis, contribuindo para a resiliência do setor e para a oferta de alimentos nutritivos à sociedade.
Ao considerar o papel estratégico desses nutrientes na nutrição das plantas, a aplicação foliar surge como uma ferramenta valiosa para os agricultores modernos que buscam otimizar suas práticas e enfrentar os desafios da agricultura contemporânea.