Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor e professor de fruticultura – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
lauciogenuncio@gmail.com
A indução floral é uma prática agronômica que associa técnica e tecnologia e, atualmente, é o que possibilita a produção de frutas com frequência, volume e padrão exportação.
O resultado é que, por vezes, conseguem-se duas colheitas por ano em regiões de adequadas latitudes e altitudes, como o semiárido nordestino (Juazeiro, BA e Petrolina, PE).
Conhecimento é fundamental
A indução floral se destaca como técnica agronômica demandante de treinamento e conhecimento técnico-científico de quem a domina. Já a tecnologia, conceitualmente, referencia-se pela ferramenta que possibilita a aplicação da técnica.
A indução floral mescla conceitos de ecofisiologia, nutrição mineral de plantas e tratos culturais (poda e irrigação). O uso de conhecimentos ecofisiológicos dar-se pela aplicação de reguladores vegetais em busca de respostas fisiológicas adequadas quanto aos fluxos vegetativos, formação de gemas florais, brotação e pegamento de frutos da mangueira.
Para isto, produtos comerciais como paclobutrazol (PBZ), etefon e unicolazole são aplicados em determinadas condições ambientais (ecofisiologia) e associados a, por exemplo, déficit hídrico induzido e controlado associado ao uso de fertilizantes minerais como sulfato de potássio, nitratos de cálcio e potássio e, fontes de micronutrientes como o Zn e B, além do uso de aminoácidos (técnica recente em determinadas regiões) são fundamentais para a obtenção de gemas reprodutivas com flores perfeitas (hermafroditas).
Ao se adequar doses e épocas de aplicação e o uso de podas programadas, o produtor de manga consegue colher de forma programada, o que se torna uma grande vantagem comercial, pois produzir na entressafra é o almejado para aumento da rentabilidade de um pomar de manga.
Estresse hídrico x florada da manga
O estrese hídrico é parte integrante de um manejo a ser adotado para a indução floral da mangueira. É importante ressaltar que ele, sozinho, não é responsável pela floração induzida da mangueira.
A água em excesso prolonga o desenvolvimento vegetativo, enquanto o estresse controlado favorece o florescimento, principalmente em ramos maduros, parte essa essencial para a obtenção de produção da mangueira em climas tropicais.
O controle da água, com a geração de um estresse hídrico, pode substituir a ausência do frio em determinadas regiões e épocas do ano.
Assim, torna-se evidente que o estresse hídrico tem como premissa a encurtamento do estádio vegetativo, abrindo janela para a entrada do estádio reprodutivo e floração e, consequentemente, de frutificação na mangueira.
Água na medida certa
O conhecimento da lâmina de água a ser aplicada, em função da demanda da planta relacionada ao seu porte, época e objetivos também configura o conjunto de informações decisórias para a obtenção da safra.
O estresse hídrico não deve afetar o crescimento e desenvolvimento da mangueira e sim, ser fator diferencial para o direcionamento de um processo fisiológico, que é a formação de gemas florais.
Benefícios da automação da fertirrigação
Muitos creem que todo o manejo de indução floral seja aplicado pelo sistema de fertirrigação, entretanto, a maioria dos produtos que induzem a floração são aplicados via foliar ou na copa (PBZ).
A fertirrigação se caracteriza pela adequação quanto à aplicação de água por demanda hídrica e pelo parcelamento eficiente dos nutrientes, em atendimento às curvas de absorção das mangueiras, que se diferem em variedades, idade e porte.
Por outro lado, ao se utilizar um sistema automatizado, pressupõe-se que o controle da irrigação, geralmente por tensiometria, seja eficiente. Assim, este é o grande benefício do uso de fertirrigação para a indução floral, que é a regulação da aplicação de água, sem que o estresse possibilite a abscisão foliar, em função da técnica de indução floral com uso de reguladores vegetais e fertilizantes à base de N e K.
Já aplicação de adubos (fertilização) se torna interessante, dada a possibilidade de parcelamento e menor dependência de mão de obra, que já se encontra com a demanda alta em relação à poda, aplicação de PBZ e preparo de caldas para aplicação foliar.
Parâmetros a serem controlados
Além do conhecimento das curvas de absorção dos 14 elementos essenciais, o sistema automatizado de fertirrigação tem como ferramenta a precisão do ajuste da lâmina de água no processo de regulação do estresse hídrico.
Na realidade, nesta parte tratamos de sistema de irrigação e não propriamente fertirrigação, pois o controle preciso da aplicação de água no processo de indução floral fará toda a diferença no resultado esperado.
Exemplificando: em um dos manejos adotados para a indução floral da mangueira, primeiramente aplica-se o PBZ, após 30 dias faz-se pulverizações sequenciadas de sulfato de potássio a 2,5%, e aos 42 dias aplica-se etefon.
Já aos 80 dias da aplicação do PBZ, induz-se o estresse hídrico, o qual deve ser controlado de tal forma que seu resultado não induza à queda das folhas. Assim, o estresse hídrico tem que ser parcial e controlado para que, na medida certa, seja fator agregador na indução floral.
Cabe ressaltar que, seguidamente ao estresse hídrico, adota-se pulverizações dos nitratos de cálcio e potássio, uma vez que favorecem a quebra da dormência das gemas floríferas.
Percebam que, somando-se a todo este manejo de indução floral, o produtor deve ter atenção à nutrição da planta, pois haverá uma demanda crescente de nutrientes, uma vez que flores e frutos são drenos, e estes demandam um equilíbrio nutricional da planta, assim, a fertirrigação tem seu papel fundamental consagrado para este sistema de cultivo altamente tecnológico.
Por fim, há que se dizer que sim, existem diferenças na produtividade e na qualidade da manga entre sistemas automatizados e métodos tradicionais de fertirrigação, em função da acurácia obtida pelo uso sistematizado da fertirrigação.