Autores
Carlos Antônio dos Santos – Engenheiro agrônomo e mestre em Fitotecnia – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) – carlosantoniods@ufrrj.br
Nelson Moura Brasil do Amaral Sobrinho – nelmoura@ufrrj.br
Margarida Goréte Ferreira do Carmo – gorete@ufrrj.br
Engenheiros agrônomos, doutores e professores – UFRRJ
Caio Soares Diniz – Graduando em Agronomia – UFRRJ – caiosoaresdiniz@gmail.com
A couve-flor (Brassica oleracea var. botrytis) é uma planta exigente em fertilidade do solo e requer cuidados quanto ao manejo da fertilidade do solo. Para o cultivo, recomendam-se solos férteis, com pH próximo à neutralidade (pH=6,5), alta saturação por bases (V =80%), e teores de cálcio e magnésio superiores a 3,0 cmolc dm-3.
Esta espécie também é pouco tolerante ao alumínio trocável (tóxico), que pode comprometer o desenvolvimento das raízes e limitar a absorção de água e de nutrientes e, consequentemente, prejudicar o desenvolvimento da planta.
A maioria dos solos agrícolas brasileiros apresenta condições desfavoráveis ao cultivo de couve-flor, ou seja, são ácidos, apresentam baixa saturação de bases (V%), baixos teores de Ca e Mg e elevados teores de alumínio trocável.
Desta forma, a correção da acidez do solo, por meio da prática conhecida como calagem, é essencial para a obtenção e manutenção de rendimentos satisfatórios da cultura. A calagem produz uma série de benefícios diretos e indiretos ao cultivo de couve-flor, por fornecer dois importantes macronutrientes, o cálcio e o magnésio, ambos extraídos em grandes quantidades pela cultura.
Benefícios da calagem
A calagem eleva o pH do solo, ou seja, corrige a sua acidez e neutraliza o alumínio trocável. Ainda, aumenta a disponibilidade de macronutrientes, principalmente o fósforo, e aumenta a atividade microbiana no solo.
A aplicação de gesso agrícola (sulfato de cálcio) denominado, genericamente, de gessagem, também tem sido recomendada como condicionador de solo, pois fornece dois macronutrientes: cálcio e enxofre, muito importantes na produção de brássicas, no geral, e para a couve-flor, em especial.
Em média, o gesso agrícola possui de 15-16% de enxofre em sua composição. O gesso agrícola, apesar de não corrigir a acidez do solo, como os calcários, apresenta a vantagem de favorecer o crescimento radicular das plantas, pois apresenta uma maior solubilidade do que os calcários, favorecendo a penetração do cálcio no solo, aumentando o aproveitamento em profundidade de nutrientes e absorção de água.
Desta forma, a gessagem apresenta benefícios potenciais e complementares à calagem.
Manejo
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O primeiro passo antes da realização da calagem e da gessagem em uma área é fazer um levantamento, com antecedência, de sua fertilidade. Para isso, inicialmente devem ser feitas coletas de amostras de solo, nas profundidades de 0-20 cm e de 20-40 cm.
Estas amostras devem ser enviadas a laboratórios credenciados que realizam análises de fertilidade e, a partir do resultado da análise, efetuar os cálculos para determinar as doses de calcário a serem aplicadas para atingir pelo menos 70% de saturação de bases (V%) e a soma de cálcio e magnésio de 3 cmolc dm-3. Nessa etapa, é recomendado que o produtor receba assistência de um profissional técnico.
As características do corretivo, como o seu valor neutralizante (VN) e a sua granulometria (ER), i.e, o “Poder Relativo de Neutralização Total” (PRNT) do corretivo, também devem ser considerados para correção da quantidade de calcário a ser aplicada por hectare, já que a recomendação é baseada no CaCO3 quimicamente puro, ao qual se atribui um PRNT de 100%.
As doses de gesso agrícola a serem aplicadas também devem ser calculadas com base nas características do solo como a textura, saturação por bases e capacidade de troca catiônica (CTC).
A dose de gesso agrícola é, normalmente, calculada tendo como base a dose de calcário. É possível substituir até um terço da quantidade de calcário recomendada por gesso. A aplicação de calcário e de gesso pode ser realizada, simultaneamente, sem que haja prejuízos na correção da acidez do solo.
É importante salientar que quantidades de gesso superiores às recomendadas podem favorecer as perdas por lixiviação de potássio e magnésio.
Dicas
A aplicação do calcário e do gesso pode ser feita a lanço, seguida de incorporação. A distribuição da aplicação precisa ser feita da forma mais uniforme possível utilizando-se implementos específicos ou adaptados.
Para melhor efeito, recomenda-se parcelar a aplicação em duas doses, sendo a primeira incorporada com o uso de arado (50%) e a segunda com a grade (50%). Entretanto, em áreas com alta declividade (regiões montanhosas) esta forma de incorporação pode favorecer as perdas de solo por erosão.
Nestas condições, recomenda-se a aplicação da metade da dose recomendada (no máximo 2 t ha-1) e a incorporação apenas em uma etapa utilizando uma grande pesada. Neste caso, deve-se aumentar a frequência de aplicação por meio do monitoramento da fertilidade, que deverá ser realizado por análise do solo.
Outra opção é a aplicação nas covas de plantio. Vale ressaltar, ainda, que em ambos os casos a aplicação dos corretivos deve ser feita com antecedência mínima de dois a três meses em relação ao transplantio das mudas de couve-flor para que ocorra a reação de neutralização da acidez.
Em campo
Resultados obtidos por Santos et al. (2017) e Santos et al. (2020) em áreas de produção de couve-flor na região serrana do Rio de Janeiro demonstraram resultados positivos com a realização da calagem e gessagem.
Os tratamentos com calcário, ou calcário combinado com o gesso agrícola, resultaram em melhorias substanciais nas condições da fertilidade do solo, como o aumento do pH, da saturação por bases e dos teores de cálcio e magnésio, e redução dos teores de alumínio tóxico. Nas plantas de couve-flor, foi observado: redução dos sintomas da hérnia das crucíferas (Plasmodiophora brassicae), aumento do crescimento radicular e de acúmulo de biomassa. A produtividade obtida na lavoura chegou a aumentar 85%.
Como evitar erros
Para que se alcance os efeitos benéficos da calagem e da gessagem, é necessário que ocorra reação de neutralização da acidez, que é lenta. Portanto, a aplicação de calcário deve ser feita com antecedência mínima de dois a três meses em relação ao transplantio das mudas.
A utilização de corretivos mais reativos com maior PRNT reduz o tempo de reação e é mais interessante para áreas cultivadas intensivamente, como as comumente utilizadas no cultivo da couve-flor.
A aplicação de doses excessivas de calcário pode ser prejudicial ao desenvolvimento das plantas por reduzir a disponibilidade de micronutrientes a couve-flor. Também pode favorecer as perdas de bases trocáveis por lixiviação (K e Mg). Portanto, os cálculos dever ser orientados por um agrônomo.