Nilva Terezinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora de Nutrição de Plantas, Bioquímica e Produção Orgânica do Centro Universitário do Espírito Santo do Pinhal (Unipinhal)
nilvatteixeira@yahoo.com.br
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A cana-de-açúcar é espécie extremamente importante para o Brasil, gerando divisas e proporcionando empregabilidade. O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar, de açúcar e de álcool do mundo. E, também, o maior exportador de seus produtos.
Trata-se de cultura onde a introdução de tecnologias, que adequem o ambiente de cultivo ou que promovam mudanças fisiológicas que propiciem maior perfilhamento, desenvolvimento e produtividade física e qualidade, encontram amplo espaço. Entre estas técnicas estão os bioestimulantes. Mas, o que são bioestimulantes?
São formulados compostos muitas vezes pela mistura de dois ou mais reguladores vegetais ou de reguladores vegetais com outras substâncias, tais como aminoácidos, nutrientes, ácidos orgânicos e vitaminas, ou biorreguladores, associados a aminoácidos, ácidos orgânicos, etc.
O que eles fazem
Os bioestimulantes participam da capacidade de atuar no controle hormonal das plantas, beneficiando a divisão celular, o enraizamento e o desenvolvimento vegetal, proporcionando maior produtividade.
A concentração de biorreguladores nos bioestimulantes normalmente é pequena (menor que 0,02%, ou 200 mg L-1 de cada um dos compostos empregados). No geral, empregam-se doses recomendadas de 0,5 a 1,0 litro ha-1 do produto.
Os bioestimulantes podem atuar beneficamente sobre diversos processos fisiológicos fundamentais das plantas superiores, tais como vigor inicial, crescimento e desenvolvimento radicular e foliar, na produção de compostos orgânicos, aspectos que irão contribuir positivamente na obtenção de altos índices de produtividade, com excelente qualidade nos produtos.
O que acontece na cana
Na cana-de-açúcar, quando aplicados nos toletes, no plantio ou no início da brotação, os bioestimulantes favorecem o enraizamento e o perfilhamento. Como já se mencionou, o uso de tais produtos beneficia a divisão celular e, quando as raízes são mais vigorosas e abundantes, ocorre melhor aproveitamento de água e de nutrientes disponíveis no solo.
Assim, a inclusão de bioestimulantes podem melhorar a produtividade e o teor de sacarose dos colmos. Estimulam a fisiologia das plantas, o que é importante em condições de estresse hídrico, de geada e resistência a agentes bióticos.
Outro ponto importante no cultivo de cana-de-açúcar é a longevidade das soqueiras. A inclusão dos bioestimulantes pode melhorar tal aspecto. A sua inclusão, através da pulverização direta do solo, fertirrigação ou sobre a soqueira logo após a colheita, pode melhorar a formação de novas raízes e, também, a brotação.
Variações dos bioestimulantes
Entre os bioestimulantes empregados na cana-de-açúcar, temos os de base hormonal, compostos por cinetina (citocinina), ácido giberélico e de ácido indolbutírico que podem ser utilizados em mistura com inseticidas, fungicidas, herbicidas, inoculantes e fertilizantes foliares, os formulados com base em fitorreguladores e aminoácidos, os compostos por aminoácidos e nutrientes de plantas e os constituídos por aminoácidos e ácidos orgânicos, por exemplo. Todos eles beneficiam o enraizamento e produtividade das culturas.
Porém, a ação de um produto hormonal pode ser limitada por diversos fatores, dentre eles a nutrição. Sendo assim, a nutrição adequada do canavial é imprescindível para se alcançar maiores resultados.
Cada um no seu lugar
Os macronutrientes desempenham função importante no desenvolvimento e produtividade da cana-de-açúcar, enquanto os micronutrientes atuam principalmente nos processos enzimáticos das plantas.
A aplicação de nutrientes em solução ou suspensão na parte aérea da planta, visando corrigir possíveis deficiências nutricionais não atendidas pela adubação de base, vem a ser a adubação foliar.
Resultados de pesquisas
Especificamente com cana-de-açúcar, há resultados de pesquisa que atestam os bons resultados quando se aplicam os bioestimulantes na programação de cultivo. Assim, estudos têm demonstrado que o uso de bioestimulante composto por aminoácidos e ácidos húmicos e fúlvicos favorecem a rebrota e a produtividade de cana-de-açúcar de segundo corte.
Outras observações têm indicado que o uso de produtos com base hormonal, associados ou não a nutrientes de plantas, favorece a produção e qualidade do caldo da cana, associando-se ou não o produto em questão aos nutrientes de planta.
Entretanto, há também, na literatura, informações de que o uso de tais produtos não melhora nenhuma das características da cana-planta ou de rebrotas. Outros estudos mostram que a aplicação de bioestimulantes, aplicados antes da colheita, melhoram o perfilhamento, com efeitos até seis meses após o corte e, também, de produtividade.
Não confunda
Deve-se atentar para o fato de que os bioestimulantes não são nutrientes de planta, portanto, não os substituem. Cada nutriente de planta tem funções específicas nos vegetais. Por exemplo, o nitrogênio é formador de clorofilas, das proteínas (que atuam como enzimas e formadoras de tecidos) e formadores dos ácidos nucléicos.
O fósforo é vinculado a formação e liberação de energia e formação dos ácidos nucleicos, os micronutrientes, que no geral atuam como ativadores enzimáticos. Os bioestimulantes auxiliam no controle hormonal e permitem a manifestação plena do potencial da planta. Tais produtos agem em plantas equilibradamente nutridas.
Ao empregar tais formulados, há necessidade de orientação técnica sobre qual produto e como empregar, a época de aplicação, etc. A aplicação de doses erradas, por exemplo, pode causar prejuízos consideráveis na lavoura.