Autores
Daniele Maria do Nascimento – daniele.nascimento@unesp.br
Marcos Roberto Ribeiro Junior – marcos.ribeiro@unesp.br
Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP – Botucatu
Adriana Zanin Kronka – adriana.kronka@unesp.br – Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e professor – UNESP – Botucatu
O mofo branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum, está presente em várias regiões e possui uma ampla gama de hospedeiros. Considerada uma das mais sérias ameaças à agricultura.
Esse patógeno é capaz de formar estruturas de resistência (escleródios) que permanecem viáveis no solo por anos e também é um fungo necrotrófico, possibilitando sua sobrevivência em restos culturais, não necessitando de um hospedeiro vivo. Logo, o melhor controle é o preventivo: evitar a entrada S. sclerotiorum na área.
Uma vez presente na lavoura, se não manejado adequadamente, pode ocasionar altas perdas na produtividade. Na soja, essas perdas podem chegar a 70%. Nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás foram relatadas perdas de até 50%, em diversas culturas.
Presente nas regiões do centro-oeste, sudeste, sul e nordeste, o mofo branco tem seus danos acentuados em áreas com altitude elevada, temperaturas amenas, entre 18 a 20ºC, alta umidade, acima de 70%, e clima chuvoso. Áreas irrigadas favorecem a incidência do patógeno, proporcionando condições favoráveis para seu desenvolvimento.
Em épocas secas, o desenvolvimento do fungo pode cessar, mas o micélio permanece viável. Com o retorno das condições favoráveis, o patógeno retoma seu desenvolvimento e a doença progride.
Principais sintomas
Os sintomas dessa doença são bem característicos, com a ocorrência de lesões encharcadas nas partes aéreas da planta, principalmente no caule. Posteriormente, um micélio esbranquiçado e de aspecto cotonoso cresce sobre essas lesões, constituindo os sinais característicos do mofo branco. Por fim, esse micélio se transforma em uma massa negra e rígida, que são os escleródios, estruturas de sobrevivência do fungo.
Com a morte da planta hospedeira, os escleródios caem no solo, sobrevivendo pelo período de entressafra e aguardando o próximo plantio.
Na presença de um hospedeiro suscetível, condições de alta umidade, e temperatura variando entre 21 a 25ºC, os escleródios germinam, formando hifas que compõem o micélio, e penetram nos tecidos da base da planta. Primeiro são colonizadas as folhas senescentes, próximas ao solo e, posteriormente, os tecidos sadios.
Mofo branco na batateira
No Brasil, a batata é um alvo importante deste patógeno. Outras denominações também são usadas para a doença causada por S. sclerotiorum: podridão de Sclerotinia, podridão da cabeça e murcha de Sclerotinia.
Condições favoráveis ao desenvolvimento da doença podem causar prejuízos e dor de cabeça ao produtor. Em áreas com histórico de ocorrência de S. sclerotiorum, baixa temperatura (12-22ºC) e umidade elevada (95-100%), os danos à cultura da batata são severos. Lavouras irrigadas via pivô-central e épocas mais frias do ano também predispõem a batateira à infecção.
O patógeno se desenvolve rapidamente e os sintomas tornam-se mais evidentes na haste, com lesões encobertas por micélios e escleródios. Os tubérculos infectados apresentam podridões aquosas.
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Com a constatação do patógeno, a área pode tornar se inviável para o cultivo da batata e outros hospedeiros e, além dos danos diretos, através da redução no número de plantas, há também o custo com fungicidas que, em alguns casos, não são efetivos por não chegarem à base da planta.
Para evitar a entrada do patógeno na área, o produtor deve sempre optar pelo uso de sementes sadias e certificadas, garantindo assim a ausência de escleródios misturados às sementes, ou até mesmo de micélio interno nas sementes. No caso da batata, utilizar tubérculos sadios e/ou tratados. Variedades resistentes ainda não estão disponíveis.
Controle
O controle do mofo branco nas diversas culturas é dificultado pela capacidade do patógeno de formar estruturas de resistência, que permanecem viáveis no solo por anos. Práticas como a cobertura com palhada e revolvimento do solo impõem barreiras físicas ao fungo, impedindo que os escleródios recebam luminosidade e possam germinar.
O cultivo contínuo de hospedeiros suscetíveis contribui para a perpetuação de inóculo na área. Desse modo, os plantios devem ser rotacionados com não hospedeiros. As gramíneas, como braquiária, triticale, milho, sorgo e trigo, entre outras, são uma excelente opção e podem trazer benefícios ao solo. Plantas daninhas também podem abrigar o patógeno, principalmente na entressafra. Manter a área limpa pode ajudar a reduzir a incidência da doença.
Condições favoráveis à ocorrência da doença devem ser evitadas. Muitas lavouras de batata possuem irrigação e a mesma deve ser manejada adequadamente, pois o excesso de umidade irá beneficiar o desenvolvimento do patógeno.
O controle químico ainda é o método de controle mais empregado. São 21 produtos liberados pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), pertencentes às classes das fenilpiridinilamina, anilida e dicarboximida.
Durante o ciclo da batateira, são realizadas no máximo quatro aplicações. Contudo, apenas o controle químico não é suficiente. Após a formação do dossel da planta, os fungicidas muitas vezes não chegam à base da planta. O sucesso no controle deste patógeno está na adoção do manejo integrado.
Erros
O manejo equivocado da lavoura, com o cultivo contínuo da batateira e outros hospedeiros suscetíveis, tem aumentado a incidência da doença, principalmente nas áreas irrigadas. Fungicidas são amplamente utilizados, mas o emprego de um único princípio ativo pode tornar o patógeno resistente e aplicações futuras, pouco eficientes.
Diante desse cenário desolador, o controle biológico vem conquistando espaço. Microrganismos antagônicos aplicados na lavoura são efetivos até mesmo nos escleródios. Produtos à base de Trichoderma harzianum já se encontram registrados no MAPA para controle do mofo branco na batata e em diversas outras culturas. Outros patógenos de solo, como Fusarium spp., Rhizoctonia spp. e, em alguns casos, até mesmo nematoides (Pratylenchus zeae e Thielaviopsis paradoxa) também são eficientemente controlados.
O fungo Trichoderma é um dos mais conhecidos agentes de biocontrole, atuando através do micoparasitismo, antibiose, competição por substrato e indução de resistência na planta. Pode ser aplicado preventivamente em áreas com histórico de damping off. Mesmo sem a presença de patógenos, o Trichoderma irá promover o desenvolvimento do sistema radicular da planta, favorecendo o crescimento de raízes laterais.
Boa notícia aos produtores
No Brasil, já podemos contar com o primeiro fungicida microbiológico do País composto por um fungo (T. harzianum) e duas linhagens de bactéria (Bacillus amyloliquefaciens), com registro no MAPA para controle do mofo branco e também da rizoctoniose, doenças causadas por patógenos de solo.
O biofungicida possui três modos de ação: competição, antibiose e hiperparasitismo. A competição reduz o desenvolvimento de S. sclerotiorum através da disputa por espaço e nutrientes. Na antibiose, são produzidas substâncias que inibem o patógeno e, no hiperparasitismo, ocorre a interação entre os bioagentes e o fungo.
Mas, atenção! Para se obter sucesso com o uso de bioagentes, os mesmos devem ser aplicados em condições ambientais favoráveis (temperatura máxima de 30ºC e umidade relativa do ar acima de 55%). O controle biológico é mais um aliado disponível aos agricultores no combate ao mofo branco.