Fernanda Lourenço Dipple
Engenheira agrônoma, mestra em Ambiente e Sistemas de Produção, e professora – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
fernanda.dipple@gmail.com
Ana Karina Rodrigues Abadio
Doutora em Biologia Molecular e professora – UNEMAT
anakarina.abadio@gmail.com
O uso de manejos diferenciados e sem impactos negativos aos alimentos e ao solo estão em expansão no Brasil e no mundo. Biotecnologias inovadoras, com as descobertas de microrganismos antagonizadores de patógenos, podem ser utilizadas com sucesso no controle biológico de doenças, principalmente patógenos de solo, como os causadores de podridões de colo, raiz e murcha vascular.
Suscetibilidade
As plantas são suscetíveis a diversos patógenos, porém, os patógenos de solo causadores de doenças de podridões e murchas vasculares são microrganismos agressivos e não específicos, uma vez que podem ter diversos hospedeiros.
Estudos comprovam que os patógenos Fusarium sp. e Rhizoctonia solani podem ter muitos hospedeiros e causar doenças em uma diversidade de espécie de hortaliças, como acelga, alface, alho, batata, berinjela, beterraba, brócolis, cebola, cenoura, chicória, couve, couve-flor, jiló, mamão, melancia, morango, pepino, pimentão, repolho e tomate. Esta última cultura é gravemente atacada por estes patógenos.
Desafios
Uma forma de manejar patógenos de solo é fazer o tratamento de solo, porém, os fungicidas químicos não conseguem controlar os mesmos, pois seus esporos são resistentes e há uma diversidade de hospedeiros alternativos.
Além disso, as hortaliças têm como entrave o período de carência para colheita e consumo. Um exemplo é a tomaticultura, em que a colheita é feita com pequenos intervalos (poucos dias) e a aplicação de fungicidas químicos pode deixar residual, contaminando o produto.
Fungicidas biológicos já foram descobertos e estão em escala comercial, estes produtos conseguem de forma específica controlar patógenos causadores de doenças em plantas, atuar como promotores de crescimento dos vegetais e não deixam resíduos nos alimentos. Outro ponto importante é o custo dos produtos biológicos, sendo menor que de muitos fungicidas químicos.
Rhizoctonia solani
Os fungos Fusarium sp. e Rhizoctonia solani são temidos por muitos agricultores. Rhizoctonia solani ocorre em diversas culturas de importância econômica, causando podridões radiculares no início do desenvolvimento da plântula e provocando redução no vigor e na germinação da semente.
A incidência e a severidade do ataque estão associadas às condições do solo e à sequência de culturas cultivadas na área.
Este patógeno causa podridão de caule, colo e raiz. Inicialmente provoca uma pequena necrose, e depois começa a estrangular o caule. Causa redução da absorção de água e nutrientes, posteriormente pode levar ao atraso no desenvolvimento da planta, deformação e descoloração dos caules, necrose do tecido vascular, pigmentações púrpuras nas folhas e, por fim, a morte da planta.
O fungo se mantém de um ano para o outro, sob a forma de escleródios no solo, ou como micélio em resíduos vegetais no solo. Em condições mais favoráveis ocorre a germinação e penetração nas plantas, especialmente através de ferimentos e aberturas naturais. O desenvolvimento da doença é estimulado por temperaturas do solo e umidade elevada.
Fusarium sp
Já os fungos de Fusarium sp. são patógenos classificados como os principais causadores de murchas vasculares, causando tombamento ou damping-off. Este patógeno é também muito agressivo e possui ampla quantidade de hospedeiros, bem como a matéria-orgânica e restos vegetais.
Dentre as espécies de maior importância temos o Fusarium oxysporum, suas formas especiais e raças diferentes. Muitos horticultores lutam para manejar áreas que foram contaminadas por Fusarium sp., e sabem da dificuldade e dos desafios.
Há diversas indicações e registros de fungicidas químicos, tratamento de sementes e algumas plantas melhoradas geneticamente para tolerar ou resistir a esta doença, porém, a perda desta tecnologia genética é muito rápida, pelas mudanças do patógeno. Os resultados de controle com estes manejos não são satisfatórios.
Ação do fungo
O fungo de Fusarium sp. penetra pelo sistema radicular, causando ocupação do xilema, restringindo a passagem e absorção de água e nutrientes. Um sintoma indireto é a murcha das plantas, principalmente nas horas mais quentes, depois clorose das folhas.
O crescimento do fungo no interior dos vasos pode dar ao tecido vascular coloração pardo-avermelhada (escurecida). Se a infecção é severa, a planta seca e morre e, sob condições de alta umidade, desenvolvem-se sobre o caule estruturas de coloração rosada, constituídas de micélio e conídios do patógeno.
Manejo
Uma vez contaminada a área, tanto com Rhizoctonia solani quanto Fusarium sp., o manejo é muito complexo. Assim, recomenda-se evitar a introdução do patógeno na área por meio do tratamento das sementes, bem como a utilização de máquinas e implementos contaminados.
Em áreas onde a doença já ocorre, a rotação de culturas com plantas não hospedeiras ajuda a diminuir a quantidade de inóculo e a severidade da doença, porém, existem diversos hospedeiros. Deve-se, também, queimar os restos de cultura quando houver presença do patógeno e deixar em pousio a área por um longo período até cortar o ciclo patógeno x hospedeiro.
Devido a serem doenças muito agressivas e de difícil controle, o manejo com o uso complementar de fungicidas biológicos pode ser uma excelente alternativa, com muitos benefícios.
Microrganismos com ação fungicida
Atualmente, existem diversos produtos biológicos (com fungos e bactérias) registrados para manejo destas doenças, como: Bacillus amyloliquefaciens, Bacillus velezensis isolado, Bacillus velezensis; Bacillus subtilis, Bacillus amyloliquefaciens isolado, Bacillus thuringiensis isolado, Trichoderma harzianum, Trichoderma viride e Trichoderma asperellum.
Existem produtos com um ou mais microrganismos na formulação. Suas recomendações variam, porém, as misturas de microrganismos em algumas formulações possuem maior espectro de espécies de patógenos. Atualmente, o fungo do gênero Trichoderma sp. está em alta e apresenta muitas utilidades na agricultura.
Assim, deve-se avaliar qual patógeno está presente na área para fazer a melhor recomendação.
Cuidados necessários
As formas de aplicação variam, algumas possuem recomendação de uma ou várias maneiras de utilização, como tratamento de semente, aplicação em sulco e aplicação foliar.
Lembrando que se deve sempre utilizar a dose recomendada e seguir as recomendações da bula do produto. Para aplicação foliar, deve-se utilizar pulverizador costal ou de barra calibrado à pressão constante, utilizando um volume de calda que possibilite boa cobertura da parte aérea das plantas.
Recomenda-se aplicar nas horas mais frescas do dia, preferencialmente no final da tarde. Evitar aplicação em condição de temperatura acima de 27ºC ou na presença de ventos fortes (velocidade acima de 10 km/hora), bem como com umidade relativa do ar abaixo de 70%.
A escolha dos equipamentos a serem utilizados para aplicação deste produto poderá sofrer alterações a critério do engenheiro agrônomo, tomando-se o cuidado de evitar sempre a deriva e perdas do produto por evaporação.
Verificar as bulas, bem como o responsável técnico deve orientar para a realização de misturas com outros produtos, uma vez que pode afetar a eficiência dos microrganismos.
Resultados alcançados
O uso de fungicidas biológicos é uma feliz realidade, conseguindo resultados positivos no controle de patógenos de solo (Fusarium sp, Rhizoctonia solani, Macrophomina phaseolina, Sclerotinia sclerotirum, etc).
Por meio de muitas pesquisas, cientistas identificaram que a rizosfera possui uma diversidade de microrganismos benéficos às plantas, dentre os quais, fungos e bactérias. Estes microrganismos apresentam a capacidade de antagonizar patógenos, liberar no solo fósforo, carbono microbiano, nitrogênio orgânico, redução de estresse, bem como promover a saúde da planta, auxiliando no crescimento e, respectivamente, na produtividade agrícola.
Desta forma, os fungicidas biológicos podem e devem ser utilizados para realizar o manejo de doenças de diversas culturas, como as hortaliças, tendo resultados eficientes no controle dos patógenos de solo com segurança alimentar.
Tendência
Existe uma projeção crescente para utilização e comercialização de produtos biológicos na agricultura nos próximos anos – mais de 30% – mostrando a importância e reconhecimento de sua eficiência, pois está sendo utilizado por muitos agricultores.