Rayla Nemis de Souza
Engenheira agrônoma e mestranda em Ambientes e Sistemas de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
nemisrayla@gmail.com
O ácaro-rajado (Tetranychus urticae) é uma espécie de ácaro que causa danos a várias espécies de plantas, em especial na cultura do mamão. Sua principal característica é possuir a capacidade de tecer delicadas teias sob as folhas, das quais se alimentam. Por essa razão, eles também são conhecidos como ácaros de teia.
Os adultos do ácaro-rajado apresentam cor verde-amarelada, com um par de manchas laterais escuras. O ciclo completo de vida dos ácaros tetraniquídeas dura, em média, 13 dias. Em aproximadamente 10 dias as fêmeas chegam a ovopositar, em média, 50 a 60 ovos.
Esses ovos possuem a característica de serem amarelos, esféricos e possuem um período de incubação em torno de quatro dias. O ácaro-rajado se abriga na parte inferior das folhas mais velhas, entre as nervuras mais próximas do pecíolo.
Sintomas
Os sintomas provocados pelo ataque dos ácaros tetraniquídeos ocorrem durante a sua alimentação, destruindo o tecido foliar, adquirindo o aspecto amarelo, seguido de necrose e perfurações nas folhas, levando à desfolha da planta e afetando seu desenvolvimento.
Como consequência, os frutos ficam expostos à ação direta dos raios solares, prejudicando a sua qualidade. No Brasil, nas últimas duas safras (2021 e 2022) um novo problema causado por ácaros passou a ser observado no Norte do Espirito Santo e Bahia.
Durante os meses de temperaturas mais amenas nessa região (junho a agosto), observou-se a mudança na coloração, comportamento e a dificuldade do controle do ácaro-rajado.
Teias como proteção dos ácaros
Os ácaros produzem grande quantidade de teia. A explicação mais plausível para essa ocorrência seria de uma alteração na fisiologia do ácaro, fazendo com que o mesmo tente entrar em um processo conhecido como diapausa, muito comum para o ácaro-rajado apenas nos meses de inverno em áreas de clima temperado.
A diapausa é um recurso fisiológico que os organismos utilizam para retardar ou pausar o seu desenvolvimento, processo esse que é induzido por alterações no ambiente. Esse processo exerce um papel biológico extremamente relevante, ao permitir que estes organismos consigam sobreviver em épocas de temperatura inadequada e escassez de alimento.
Fique de olho
O monitoramento nas áreas de cultivo do mamoeiro é importante, para que seu manejo seja realizado corretamente. As populações de ácaro-rajado iniciam o ataque em uma determinada área em forma de “reboleiras”, ou seja, concentrado em parte do cultivo.
A distribuição por toda a área ocorre caso não seja realizada uma eficiente ação de controle nesta fase inicial de “reboleiras”, ou até mesmo com o uso de produtos ineficientes, podendo estes agir como repelentes, como piretroides e neonicotinoides, provocando uma maior dispersão dos ácaros na área.
Na hora certa
Devido à maior dificuldade no controle do ácaro-rajado na fase de diapausa, a ação de controle no momento correto, isto é, realizada com a praga ainda na sua forma normal, garante maior eficiência no controle.
Cuidados devem ser tomados em relação à área a ser tratada, devendo-se limitar ao local efetivamente atacado. Outro ponto relevante é em relação às dosagens e frequência de aplicação dos produtos químicos.
Os produtores devem utilizar apenas produtos que foram comprovados como eficientes, fazendo a rotação com diferentes sítios de ação na praga. No presente momento, no Brasil, existem quatro grupos químicos disponíveis e registrados para ácaro-rajado no mamoeiro.
Novidades
Novas opções de controle têm se mostrado promissoras no Brasil, como o uso de biológicos, pela liberação de ácaros predadores Phytoseiidae ou com fungos patogênicos. Áreas de cultivo de morango têm usado esses agentes de biocontrole para controlar o ácaro-rajado.
Ao se fazer o uso desses predadores como controle para os ácaros, alguns cuidados devem ser levados em consideração para o bom manejo do produto. Ao comprar ácaros predadores, deve-se levar em consideração o preço no custo de envio.
Os predadores devem ser enviados durante a noite e implantados o mais rápido possível. Caso a implantação imediata não seja possível, eles podem ser armazenados em uma sala fria e escura. Os predadores devem ser implantados no início da manhã ou no final da tarde para minimizar o estresse abiótico durante a liberação.