Caio Xavier dos Santos
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Harleson Sidney Almeida Monteiro
harleson.sa.monteiro@unesp.br
Sinara de N. Santana Brito
sinara.santana@unesp.br
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Agronomia/Horticultura – UNESP
A incorporação de biopromotores na produção de alface hidropônica tem se destacado como uma prática inovadora e promissora, com potencial para dobrar a produção. Os biopromotores, compostos por microrganismos benéficos e substâncias naturais, desempenham um papel crucial na promoção do crescimento das plantas, estimulando processos fisiológicos que resultam em maior produtividade.
Ao introduzir biopromotores no sistema hidropônico, cria-se um ambiente propício para o desenvolvimento saudável das plantas de alface. A interação simbiótica entre esses agentes biológicos e as raízes das plantas pode potencializar a absorção de nutrientes, melhorar a resistência a doenças e estresses ambientais, e otimizar o aproveitamento da solução nutritiva.
Impulso ao sustentável
Em alguns estudos onde o objetivo foi testar a finalidade do silício como biopromotor na cultura da alface hidropônica, foi analisado um cultivo com e sem silício. Logo, foi comprovado que ele ajuda a diminuir significativamente os sintomas com toxidez de manganês.
Esse fato é muito importante para os produtores, principalmente porque os consumidores procuram sempre folhas com boas aparências, sem nenhum defeito visual, e a toxidez por manganês é um problema muito recorrente na alface.
Essa toxidez causa anomalias foliares caracterizadas pela queima das bordas, que ficam escuras e acaba afastando o consumidor. Dessa forma, o silício pode ser uma alternativa viável para a produção de alface hidropônica.
Outro fator muito interessante encontrado nos estudos é que o silício atua na parede dos estômatos e nas células epidérmicas das alfaces, o que auxilia na integridade das células, principalmente.
Assim, ele permite maior estrutura da planta, aumentando o conteúdo de hemicelulose, lignina e, consequentemente, a rigidez da célula. Dessa forma, o biopromotor silício acaba reduzindo a transpiração, ajudando a turgidez da célula e, por reflexo, a firmeza foliar, prolongando o período de armazenamento dessa alface hidropônica.
Estresse
O estresse salino é muito recorrente em sistemas hidropônicos, principalmente quando o produtor erra a dosagem de algum nutriente. Quando as plantas são submetidas a altas concentrações de sais, ocorre um desequilíbrio osmótico que pode levar à desidratação das células e à redução da absorção de água e nutrientes.
Estudos comprovam que o uso de silício pode ser uma estratégia promissora para melhorar a produção de alface hidropônica em condições de estresse salino. O silício pode auxiliar o cultivo de alface hidropônica em situações de estresse salino de diversas maneiras.
Uma das principais formas é pela redução da absorção de íons tóxicos, como o sódio (Na+) e o cloro (Cl–), e do aumento da absorção de íons benéficos, como o potássio (K+) e o cálcio (Ca2+).
O silício pode competir com o sódio e o cloro pelos sítios de absorção nas raízes, reduzindo a entrada desses íons na planta. Além disso, pode aumentar a absorção de potássio e cálcio, que são íons importantes para o crescimento e desenvolvimento das plantas.
Outra forma pela qual o silício pode auxiliar o cultivo de alface hidropônica em situações de estresse salino é pela regulação do balanço hídrico da planta. Isso porque ele pode aumentar a capacidade da planta de reter água nas células, reduzindo a perda de água por transpiração e aumentando a tolerância à seca.
Isso pode ser especialmente importante em situações de estresse salino, onde a absorção de água pela planta pode ser reduzida. Além disso, o silício pode melhorar a resistência mecânica das plantas, tornando-as mais resistentes a danos causados por ventos, chuvas e outros fatores ambientais.
Isso pode ser importante em situações de estresse salino, onde as plantas podem estar mais suscetíveis a danos mecânicos devido à redução da absorção de água e nutrientes.
Aminoácidos
Outro biopromotor muito importante são os aminoácidos. Uma das suas principais funções nas plantas é a síntese de proteínas, que são compostas por cadeias de aminoácidos, e são essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas.
Os aminoácidos podem ser utilizados como fonte de nitrogênio para a síntese de proteínas, o que pode contribuir para um melhor crescimento e desenvolvimento das plantas.
Na produção de alface hidropônica, os aminoácidos podem ser utilizados de diversas maneiras, adicionados diretamente à solução nutritiva, como fonte de nitrogênio e outros nutrientes.
Além disso, esse biopromotor pode ser utilizado como bioestimulante, aplicado diretamente nas folhas das plantas para melhorar seu crescimento e desenvolvimento.
Ação fitossanitária
De acordo com algumas literaturas científicas, o silício e os biopromotores, como os aminoácidos, podem atuar de diversas formas para reduzir o ataque de pragas e doenças nas plantas.
Uma das principais formas é por meio do fortalecimento da parede celular das células vegetais, tornando-as mais resistentes à penetração de patógenos e insetos. Além disso, o silício tem a capacidade de estimular a produção de compostos de defesa nas plantas, como lignina, fenóis e flavonoides, que atuam como barreiras físicas e químicas contra os patógenos e insetos.
Logo, pode contribuir para uma maior resistência a estresses bióticos, como doenças e pragas. Isso ocorre porque os compostos fenólicos e flavonoides têm propriedades antimicrobianas e repelentes de insetos, o que pode ajudar a proteger as plantas contra patógenos e insetos.
Outro mecanismo pelo qual o silício pode contribuir para o controle de pragas e doenças é por meio da ativação do sistema de defesa natural das plantas. Ele pode estimular a produção de enzimas antioxidantes e proteínas de choque térmico, que ajudam a proteger as células vegetais contra o estresse oxidativo e outros tipos de estresse ambiental.
Cuidados
É crucial que o produtor hidropônico restrinja o uso de pesticidas, a fim de evitar a contaminação da solução nutritiva e prevenir possíveis danos ao crescimento da alface.
Nesse contexto, a utilização de biopromotores emerge como uma solução eficaz para o controle de pragas e doenças em sistemas hidropônicos, eliminando a necessidade de pesticidas químicos.
Os biopesticidas, constituídos por microrganismos ou extratos de plantas com propriedades inseticidas ou fungicidas, representam uma alternativa mais sustentável.
Adicionalmente, os agentes de controle biológico, como predadores ou parasitoides de pragas, como ácaros, insetos e nematoides, podem ser introduzidos no sistema hidropônico, proporcionando um controle natural das pragas.
Outro ponto é o gerenciamento da solução nutritiva, visto que exige um alto conhecimento técnico para não ultrapassar, ou até mesmo não deixar muito fraca aquela solução nutritiva.
Adubando demais, pode aumentar o nível de pressão osmótica e a cultura morrer por conta do alto nível salino. Para isso, é necessário monitorar constantemente a qualidade da solução nutritiva, ajustando sua composição e pH, conforme necessário.
Solução nutritiva
Alguns biopromotores podem ajudar a melhorar a qualidade da solução nutritiva, estimulando o crescimento das raízes e aumentando a absorção de nutrientes pelas plantas.
Por exemplo, os extratos de algas marinhas contêm hormônios de crescimento vegetal e compostos orgânicos que podem estimular o crescimento das raízes e aumentar a absorção de nutrientes pelas plantas.
Desafios persistem
Um desafio recorrente no cultivo hidropônico é o controle da temperatura e umidade, especialmente porque a alface não suporta temperaturas excessivamente elevadas, tornando-se desafiador manter esses parâmetros dentro da faixa ideal em algumas regiões.
Nesse sentido, alguns biopromotores desempenham um papel crucial, ao aprimorar a tolerância das plantas a condições extremas de temperatura e umidade. Esses biopromotores estimulam a produção de compostos de defesa e proteínas de choque térmico, promovendo a resistência das plantas.
Por exemplo, extratos de algas marinhas possuem compostos capazes de proteger as plantas contra o estresse térmico e reduzir a perda de água pelas folhas. Adicionalmente, alguns biopromotores favorecem a absorção de água pelas plantas, mitigando os impactos adversos da salinidade e da seca.
Os extratos de microrganismos benéficos, por outro lado, podem melhorar a absorção de água pelas raízes, proporcionando efeitos positivos semelhantes aos do silício. Essas estratégias, ao integrarem biopromotores, oferecem soluções para enfrentar os desafios associados ao controle térmico e hídrico no cultivo hidropônico de alface.
Pesquisa
A pesquisa no campo agrícola desempenha um papel vital no contínuo desenvolvimento de fertilizantes e biopromotores destinados ao cultivo de alface em sistemas hidropônicos.
Os avanços nesse domínio são impulsionados por uma compreensão mais aprofundada das interações entre plantas, nutrientes e microrganismos benéficos, visando aprimorar a produção e fomentar práticas agrícolas mais sustentáveis.
No que diz respeito aos fertilizantes, a pesquisa concentra-se em formulações personalizadas, que levam em consideração as demandas específicas da alface em sistemas hidropônicos.
Isso inclui não apenas o fornecimento de nutrientes essenciais, mas também a consideração de fatores como solubilidade dos sais utilizados e interação com outros componentes do sistema.
A busca por eficiência na absorção de nutrientes pelas plantas é um aspecto crucial, e formulações inovadoras têm como objetivo maximizar a disponibilidade desses elementos, otimizando a absorção e minimizando possíveis perdas.