Reconhecida como bebida nacional do Brasil por decreto federal, destilado da cana produzido em alambiques ganha espaço no mercado internacional
Reportagem Walace Torres
Edição e Fotos Evaldo Pighini
Assim como o futebol é a principal referência esportiva do Brasil lá fora e o samba encanta os olhos do mundo quando se fala em cultura brasileira, a cachaça é o produto da vez quando se trata de bebida no mercado internacional. Desde 2013, os Estados Unidos reconhecem a cachaça como produto exclusivamente brasileiro. Esse reconhecimento, que é fruto de uma cordo bilateral entre os dois países, abriu as portas para outros mercados e consolidou a cachaça como o terceiro destilado mais consumido no mundo, perdendo apenas para o uÃsque e a vodca. Agora, a meta é chegar ao primeiro lugar.Mas, para abrir as portas ao mercado externo e chegar a um lugar de destaque nos grandes centros consumidores foi preciso superar muitas barreiras, preconceito e o próprio tempo. Lá se foram 500 anos desde que se tem notícia da primeira vez que a cachaça foi destilada no Brasil, entre os anos de 1516 e 1526, em algum engenho na Feitoria de Itamaracá, no litoral de Pernambuco.
A história da cachaça se confunde com a própria história do Brasil. A introdução da cana-de-açúcar (matéria-prima da bebida) e das técnicas de destilação começaram com os portugueses nos primórdios do século XVI. No entanto, o reconhecimento da cachaça como produto genuinamente brasileiro só foi consolidado agora, no século XXI. O próprio mercado norte-americano classificava a bebida como “rum brasileiro“. Com o acordo, os produtores brasileiros são os únicos que podem colocar no rótulo a expressão cachaça.A cachaça é reconhecida como bebida nacional do Brasil por Decreto Federal. Também é considerada Patrimônio Cultural de Minas Gerais por Lei Estadual.
O desafio agora é tornar a bebida conhecida no resto do mundo. Para os gringos, o cartão de visitas foi a tradicional caipirinha, feita à base de aguardente de cana-de-açúcar. O coquetel é feito principalmente com a cachaça industrial ou de coluna. O que a maioria dos produtores busca daqui pra frente é apresentar aos novos mercados a bebida artesanal, feita em alambique e com alto padrão de qualidade.Seja do tipo prata (branca) ou envelhecida (amarelinha), a cachaça hoje é considerada a única bebida capaz de ter um boom no mercado internacional, segundo avalia o Centro Brasileiro de Referência da Cachaça (CBRC). Dentro dessa perspectiva, muitas transformações têm acontecido envolvendo todos os setores que compõem a cadeia produtiva da cachaça. As inovações tecnológicas, pesquisas de mercado, análises, diversificação de produtos e estratégias de marketing têm sido cada vez mais introduzidas no processo que vai desde o plantio da cana até a forma de vender o produto final.
Um dos principais retratos dessa realidade são os eventos promovidos pelo setor e que visam não apenas divulgar e valorizar os produtos, mas, também, dar condições aos produtores de se qualificarem e terem acesso a todos os personagens que integram o mercado de bebidas.Hoje, a maior vitrine do setor é a Expocachaça, realizada anualmente em Belo Horizonte.Idealizado em formato de feira e festival, nos últimos 25 anos o evento recebeu dois milhões de visitantes, gerou 86 mil empregos diretos e indiretos e mais de R$ 250 milhões em negócios.Somente na 26ª edição, realizada entre os dias 9 a 12 de junho deste ano, a expectativa de negócios gerados durante e pós-evento foi de R$ 38 milhões em insumos, equipamentos,serviços e produtos.
A nossa equipe de reportagem acompanhou de perto a movimentação da Expocachaça e conversou com vários produtores e especialistas que atuam no agronegócio da cachaça. A tendência é que a branquinha conquiste paladares em mercados cada vez mais distantes e amplie sua participação em países onde outros destilados ainda predominam sobre o gosto dos consumidores.“Tanto no Brasil quanto no mundo o mercado de destilados continua crescendo, especialmente porque as pessoas querem bebidas e experiências de consumo cada vez mais diferentes. Os destilados ganham destaque por serem facilmente adaptáveis em coquetéis, por serem possÃveis de serem consumidos puro e têm um apelo forte. E a gente acredita que as principais tendências globais de busca de produtos primel, de busca de produtos de consumo diferenciado, que tragam muito da questão cultural, estão bastante alinhados com o conceito da cachaça“, diz a analista de pesquisas Angélica Salado, da Euromonitor International, que é uma agência internacional de pesquisa e análise de mercado.
Exportações
Atualmente, o Brasil exporta a bebida para quase 70 países. Os principais destinos em valores são Alemanha, Estados Unidos, França, Portugal, Paraguai e Itália.Apesar de ter um potencial de mercado a conquistar, o volume que sai do Brasil ainda é muito pequeno, considerando os cinco séculos de existência da bebida e a produção que chega a 1,4 bilhão de litros por ano. Apenas 1% dessa produção vai para o mercado internacional. Metade das exportações é de cachaça a granel.Nos últimos três anos houve uma oscilação na comercialização da cachaça, que também sentiu os reflexos da crise econômica. Em 2013, as exportações alcançaram a cifra de 16,6 milhões de dólares. No ano seguinte, esse valor subiu para 18,3 milhões e, em 2015, caiu para 13,3 milhões de dólares.
Essa desaceleração não desanima, mas serve de alerta ao setor, que tem como um dos principais entraves uma produção bastante pulverizada. São mais de quatro mil marcas que disputam o mercado interno e 40 mil produtores espalhados pelo país. Mais de 90% são pequenos e microempresários que, em muitos casos, não têm condições de investir o suficiente para vender a sua cachaça no exterior. “Para conquistar o mercado externo é preciso investir em embalagem, estratégia de marketing, preparar pontos de venda, ter um volume de produção suficiente para atender a demanda e muita negociação“, aponta o presidente da Expocachaça, José Lúcio Mendes Ferreira. Segundo avalia, uma tendência verificada no mercado interno para atender as demandas e baratear custos é o que muitos chamam de produção cigana, que é utilizar a capacidade ociosa de outro engenho para conseguir produzir o suficiente para exportar. “Isso facilita para quem tem muitas marcas e o produtor não precisa montar uma destilaria“, diz.
Outro ponto que tem favorecido as exportações é que os engenhos passaram a investir num produto de maior valor agregado, atendendo aos padrões internacionais. “Antes se exportava um produto branco a granel, de menor valor agregado. Se vendia, na verdade, a cachaça para a caipirinha. Hoje a coisa inverteu porque as cachaças envelhecidas começaram a ganhar prêmios internacionais e chamaram a atenção dos distribuidores do mundo inteiro. Com isso,começou a ganhar atenção de algumas trades que estão buscando nichos de mercado. Tem produtores que está na quarta leva de distribuição“, completa José Lúcio. A cachaça produzida na fazenda Engenho da Cana, em Ouro Branco, segue esse caminho.Com uma produção anual de 100 mil litros, o engenho ainda não começou a exportar, mas já está se preparando. São 25 produtos divididos em quatro marcas. Uma delas, da categoria Prata, recentemente recebeu uma premiação dada por um órgão da Bélgica, o que facilita na hora de negociar a venda lá fora. “Uma coisa é falar que foi premiado aqui no Brasil. Outra é ganhar uma premiação de um órgão num concurso internacional“, diz um dos sócios do engenho, Jacson Dias Moraes.
Diversificação do produto e do público consumidor
O caminho a ser trilhado pela cachaça brasileira para conseguir alcançar o sucesso no mercado internacional não é diferente do que fizeram a tequila mexicana e o rum caribenho, segundo aponta a analista de pesquisas Angélica Salado, da Euromonitor International. Ela explica que o mais adequado para ingressar num novo mercado é oferecer a bebida por meio de coquetéis e drinks. “Lá fora é mais interessante ensinar o consumidor a conhecer o produto e como consumir nos canais de serviço de alimentação, como bares e restaurantes, para depois migrar para o varejo e oferecer o produto puro“, diz. “É um processo longo, mas é o mais adequado e o que a maioria dos destilados fazem“, completa, frisando que a tequila foi utilizada dessa maneira até conseguir se firmar no mercado norte-americano.
Outro aspecto que contribui para tornar a bebida reconhecida é focar numa nova geração de consumidores, como os jovens na faixa etária dos 20 a 30 anos. O posicionamento do produto frente ao novo público faz toda a diferença. Além de trabalhar com um produto diferenciado,como bebidas mistas e coquetéis, o produtor tem que buscar novas estratégias de marketing,porém sem esquecer as suas origens. “Tem muitas marcas tradicionais, de famílias, que passam de geração para geração. Isso é um atributo muito importante para essa nova geração de bebedores, que é comunicar a história daquela cachaça, mostrar o que tem por trás da marca“, diz Angélica Salado.
Estratégia essa que a família do produtor José Maria Santana faz questão de ressaltar e valorizar em todos os eventos onde sua marca é exposta e comercializada. O processo de produção da cachaça é todo familiar e começou com o pai em 1960 num engenho movido a roda d’água. No começo, a bebida era vendida na região de Ouro Preto e Mariana e em pouco tempo a marca Guaraciaba chegou à capital, se tornando uma das preferidas. O antigo engenho foi substituÃdo por outro a vapor, e o transporte, que até então era feito no lombo de burros, ganhou o reforço de um caminhão. Hoje o engenho produz 400 mil litros por ano. Alinha de produção continua sob o comando da família de Zé Santana (pai), porém, atenta aos novos tempos. Todo o processo produtivo está alinhado com o conceito da sustentabilidade.“A cana é uma cultura sagrada, portanto, se aproveita tudo“, diz o filho José Maria Santana. “Aponta da cana vira ração para o gado na seca. O esterco que o gado produz volta para o canavial. A cinza (da caldeira) gerada pela queima do bagaço volta para o canavial como potássio. Já a vinhaça, que é o subproduto da cachaça e um material rico em nitrogênio e potássio, é separado e volta para o canavial como adubo orgânico“, diz. Da produção, apenas o “coração“ é engarrafado. A “cabeça“ e a “calda“, que são destilados de baixa qualidade, são transformados em combustÃvel para uso nos veículos da fazenda.
Drinkmaker
Produtos diversificados vêm conquistando cada vez mais espaço no mercado de destilados. Do pequeno município de Faria Lemos, na Zona da Mata mineira, vem a primeira cachaça drinkmaker do país, a Spiral. Feita especialmente para coquetéis e drinks, a Spiral provocou uma revolução no mercado da cachaça. Não apenas por ter gerado uma grande demanda,mas ainda por ter enfrentado uma certa resistência do setor mais conservador do agronegócio da cachaça. “Diziam que estávamos na contramão, mas seguimos adiante e a partir disso o mercado começou a mudar“, conta Pablo Melgaço, da Destom Destilaria, responsável pela Spiral e as cachaças da linha 1.000 Montes.A ideia quando a Spiral foi lançada, diz Pablo, era mostrar que um produto artesanal também pode estar aliado à alta tecnologia de destilação. “QuerÃamos trazer a ideia de produtos de alta qualidade ligados a uma cara nova no mercado, uma nova imagem“, diz.
A destilaria produz entre 400 mil a 500 litros de cachaça por ano e a linha Spiral contribuiu para entrar no mercado internacional. Hoje 10% da produção vão para os Estados Unidos. “A meta é chegar a 80%, com a Spiral e as bebidas mistas“, conta Pablo. Recentemente, a destilaria lançou três marcas de bebidas mistas, uma delas a Spiral Ice, que é servida gelada e tem vocação para agradar especialmente o público jovem, faixa que os produtores estão cada vez mais de olho. Para atrair o novo público consumidor, a destilaria tem apostado na divulgação nas redes sociais. Toda semana, uma nova receita de drink é postada na página do facebook e também num canal no YouTube.
Jambu
Outra bebida que vem conquistando paladares é a Jambucana, um misto de cachaça com melado de jambu e outras ervas. Produzida pelo Engenho do Dedé, em Belém e também em Manaus, a bebida feita usando uma fruta tÃpica do Norte está entre as dez mais vendidas do Brasil. “Estamos trabalhando com a ideia de lançar cachaças com produtos regionais, mais exóticos, como açaí, buriti“, conta o gestor da unidade de Belém, Daniel Moraes. Com pouco mais de um ano no mercado, a Jambucana já está pronta para ser exportada. “Já temos o selo e devemos levar para os Estados Unidos e Europa“, diz Daniel. A marca é comercializada pela rede da Cachaçaria do Dedé, com três unidades no país, uma delas em Uberlândia.
Expocachaça é a maior vitrine do setor
Considerada a maior e mais importante vitrine mundial do setor, a Expocachaça reúne,anualmente em Belo Horizonte, todos os envolvidos na cadeia produtiva da cachaça. Na edição deste ano foram expostas 465 marcas de cachaça de mais de 100 produtores de 22 estados no espaço da Expominas. Foram 26 edições em 19 anos de existência – durante alguns anos, o evento aconteceu também em São Paulo. Desde 2005, o evento divide espaço com a Bier Brasil, que reúne várias marcas de cerveja artesanal.Além da venda, degustação e exposição de destilados, a Expocachaça conta com praça de alimentação e vários atrativos musicais durante os quatro dias de evento.
A ideia foi tirada do papel no final da década de 1990. Em 1996, um grupo de empresários do setor de restaurante, profissionais de marketing e representantes do governo participou de uma viagem oficial pela França. Durante 32 dias, eles percorreram 3.500 quilômetros conhecendo as regiões produtoras de vinho e champanhe, os processos de certificação, onde entra as competências do governo e as da iniciativa privada, enfim, fizeram um levantamento minucioso sobre a cadeia produtiva dos destilados. No ano seguinte, a missão teve como destino a Escócia, onde os profissionais também passaram 30 dias conhecendo as técnicas, a legislação e os processos da cadeia produtiva do uÃsque mais famoso do mundo. “Na volta, percebemos a informalidade grande no Brasil e a dificuldade dos produtores em vender seus produtos. Então pensamos em montar uma feira onde pudesse colocar toda a cadeia produtiva representada“, conta José Lúcio Mendes Ferreira, presidente e idealizador da Expocachaça. A primeira edição aconteceu em 1998. “O preconceito com a cachaça ainda era muito forte naquela época. As mulheres que vinham na feira pegavam no braço do marido e diziam que não era pra beber cachaça, que aquilo iria contra a imagem“, lembra. Com o tempo, os produtos foram ganhando mais aceitação, especialmente com as certificações, aprimoramento das embalagens e novas formas de apresentação, contribuindo para reduzir o preconceito.
Hoje, a Expocachaça é a principal porta de entrada para novas marcas e produtos.
Há seis anos Jurandir Miranda adquiriu um engenho na região de areia da ParaÃba. O engenho tem mais de 40 anos, estava desativado, mas continha muita cachaça armazenada em carvalho francês e jequitibá. A produção atual é modesta, 60 mil litros por ano, e o mercado interno consome tudo. Com os planos de expandir e conquistar novos mercados, Jurandir Miranda trouxe este ano, pela primeira vez, a marca Turmalina da Serra para a Expocachaça.“É a feira mais importante do Brasil, aqui tem distribuidores, donos de cachaçarias e consumidores. É uma forma de não precisar viajar pelo país inteiro e encontrar com todos os envolvidos“, diz.
O advogado baiano Emmanoel Messias Rocha também encontrou na Expocachaça novas oportunidades de negócio. Apaixonado por coisas de sua terra natal, ele trouxe pimentas e temperos para expor e vender na edição do ano passado. Este ano retornou a Minas e trouxe outros produtores e três marcas de cachaça. Uma delas a Serra das Almas, considerada a primeira cachaça orgânica do Brasil. A produção de aproximadamente 20 mil litros/ano é feita em sistema de cooperativa e emprega 250 famílias. Segundo avalia, a participação e o relacionamento proporcionado durante a exposição ajudam tanto na divulgação como no incentivo aos produtores. “O brasileiro precisa abraçar a cachaça, qualificar a produção para depois pensar em exportar“, diz, frisando que a informalidade é um dos principais obstáculos.
A cachaça mais cara da Expocachaça 2016
Quanto você pagaria por uma boa cachaça? Num evento onde se encontra mais de 400 marcas é possível comprar um produto artesanal de boa qualidade a partir de R$ 40. O tempo de envelhecimento, o tipo de barril onde foi armazenado e até mesmo o rótulo do produto são alguns fatores que influenciam no preço. No caso da marca Weber Haus, do Rio Grande do Sul, a embalagem associada ao conteúdo resultou na cachaça mais cara da edição deste ano da Expocachaça: R$ 1.700 a garrafa. “O principal fator é o tempo de envelhecimento. São seis anos na madeira de carvalho francês e depois passa mais seis anos no bálsamo“, conta o gerente comercial da Weber Haus Marcelo Pelisson. O produto de valor mais alto é direcionado aos colecionadores. A cachaçaria produziu uma série limitada com duas mil unidades, todas numeradas. Outro detalhe que pesou no preço está na embalagem requintada e o rótulo, que é banhado a ouro. “Mas a grande arma para o cliente conhecer e aceitar o produto diferenciado é a degustação. Se o cliente não provar, dificilmente ele irá levar só por causa da embalagem“,diz.
Maioria dos produtores ainda está na informalidade
Um dos entraves para que a cachaça faça cada vez mais parte da preferência dos brasileiros e também dos estrangeiros é a informalidade. Em Minas Gerais, por exemplo, mais de 90% dos nove mil produtores trabalham na clandestinidade, segundo aponta a Associação Mineira dos Produtores de Água Ardente de Qualidade (Ampaq). José Otávio de Carvalho Lopes assumiu recentemente a presidência da associação e definiu como pilares de sua gestão o fortalecimento do agronegócio, buscando agrupar um maior número de produtores; aprimoraras condições técnicas para qualificar e reavaliar as cachaças certificadas pelo órgão; e modificar o estatuto da Ampaq de forma que a associação envolva toda a cadeia produtiva.Juntas, essas metas visam a reduzir a informalidade e dar um impulso ao mercado da cachaça.Mas, segundo José Otávio, de nada adianta conscientizar os produtores se o governo também não fizer a sua parte.“Muita gente está abandonando o mercado interno e passando para o externo. Exportação virou opção para o produtor de cachaça que quer sobreviver. O custo é muito menor que vender no mercado interno“, diz José Otávio. A principal explicação está na tributação da cachaça, que chega a 81,87% do preço do produto. Ou seja, a cada dez garrafas produzidas,oito são para pagar impostos. Ano passado, os produtores receberam um balde de água fria.
Apesar da produção nacional ter sofrido uma queda em 2015, muito em função da criseeconômica, o IPI saltou de 17% para 25%.Uma mobilização junto ao governo federal e outra pressão no Congresso Nacional têm sidofeitos para tentar reverter o quadro. Hoje, a aposta dos produtores e entidades de classe dosetor é convencer o governo a fazer adequações necessárias ao Simples Nacional, de formaque os produtores de cachaça se enquadrem ao sistema. “Se isso acontecesse, poderÃamostirar uma grande quantidade de produtores da clandestinidade. O governo também ganhariacom isso porque eles passariam a pagar impostos“, ressalta José Otávio.
Como identificar uma boa cachaça
Para os mais experientes, a cachaça de qualidade é aquela em que o produtor aproveitaapenas o “coração“ da bebida. Ou seja, durante o processo de destilação, a primeira fração,conhecida como “cabeça“, é descartada por ter alta concentração de álcool. Em seguida, érecolhido o “coração“, que é a cachaça propriamente dita com uma variação de 38% a 48% deteor alcóolico. A terceira fração, a “calda“, também deve ser descartada nos alambiques. Essaseparação faz toda a diferença para o consumidor, pois os compostos que mais proporcionama famosa ressaca estão contidos justamente na primeira e na última fração.
Mas, para os leigos, apreciadores e novos consumidores de cachaça, há outras maneiras mais simples de identificar um produto de qualidade. A engenheira de alimentos e gerente da qualidade analÃtica do Laboratório Amazil e Biagione Maia (LABM), Lorena Simão, recomenda usar os cinco sentidos. Confira as dicas abaixo dadas pela especialista:
Â
Visual– prestar atenção na cor, transparência, oleosidade e brilho da bebida. A cor tem queestar coerente com o que está escrito no rótulo.
Â
Olfato– identificar aromas de especiarias, amêndoas, ervas, entre outros. Ficar atento ao quepode ser um defeito da bebida, como cheiro de acetona, odor de esmalte, acidez muitoelevada.
Â
Paladar– Quando você está degustando uma cachaça nada pode te incomodar ou sobressair.Ele precisa estar harmoniosa, suave, preencher toda a boca de forma que a pessoa sinta abebida aveludada na boca. Não pode estar áspera e nem muito seca.
Tato– Ao passar um pouco de cachaça na pele, ela tem que ter a característica de umhidratante, ou seja, apresentar uma certa oleosidade.
Â
Audição– Se você chegar num lugar e as pessoas tiverem brigando, é sinal de que a cachaçaé ruim. Se tiver todo mundo alegre, pode ter certeza de que a cachaça é boa.
Fique por dentro sobre a cachaça brasileira
– 3º destilado mais consumido no mundo.
– 40.000 produtores no Brasil.
– 98% de pequenos e microempresários.
– 4.000 marcas de cachaça registradas no Brasil.
– 600 mil empregos diretos e indiretos.
– 11,5 litros de consumo médio por habitante/ano.
– R$ 7 bilhões de movimento anual em sua cadeia produtiva.
– 1% da produção anual é exportada.
– 50% das exportações são de cachaça a granel.
– 70% da produção brasileira são de cachaça de coluna ou industrial e 30% de cachaça de alambique.
– Bebida nacional do Brasil por Decreto Federal.
– Patrimônio Cultural de Minas Gerais por Lei Estadual.
*Fonte: CBRC – Centro Brasileiro de Referência da Cachaça