20.6 C
Uberlândia
sábado, abril 20, 2024
- Publicidade -
InícioArtigosGrãosEfeito condicionador de solo proporcionado pelos organominerais

Efeito condicionador de solo proporcionado pelos organominerais

Autores

Regina Maria Quintão Lana
Professora de Fertilidade e Nutrição de Plantas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
rmqlana@ufu.br
Danyela Cristina Marques Pires
Mara Lúcia Martins Magela
Doutorandas em Agronomia – UFU

Os fertilizantes organominerais foram criados pelos fabricantes de fertilizantes orgânicos, que passaram a acrescentar fontes minerais ao seu produto, para atender os agricultores e consultores técnicos, que perceberam baixos teores de nutrientes NPK no adubo orgânico. Devido aos benefícios do organomineral ao solo e plantas, a iniciativa fez tanto sucesso que os clientes passaram a adquirir a nova modalidade de insumo agrícola em larga escala, criando-se, assim, a nova categoria denominada fertilizante organomineral (Kiehl, 2010).

Esses fertilizantes apresentam um efeito condicionador, pois melhoram as propriedades físicas, físico-químicas e atividade biológica do solo, podendo recuperar solos degradados ou desequilibrados nutricionalmente (Brasil, 2006). Assim, são importantes do ponto de vista agrícola, ambiental e econômico, pois também reduzem o uso de fontes não renováveis de fertilizantes, permitem a destinação correta de resíduos orgânicos, o que contribui para um sistema de produção mais sustentável e gera maior lucro para o produtor, devido ao aumento da produção e qualidade do produto.

Benefícios às propriedades físicas

O efeito de fertilizantes organominerais nas características físicas do solo é um processo mais lento e depende muito da quantidade e qualidade da matéria orgânica presente no organomineral, além da manutenção desta no solo ao longo do tempo.

Experimentos

No ano de implantação de um experimento com organomineral à base de cama de frango e solo cultivado com milho, em região de Cerrado, Viana et al. (2015) não observaram grandes alterações na formação de agregados e quantidade de matéria orgânica presente no solo.

Em contrapartida, Oshunsanya e Akinrinola (2013) observaram melhoras nas características físicas do solo ao conduzirem um experimento com diferentes doses de um fertilizante organomineral à base de esterco bovino, em solo cultivado com inhame, em área de Savana, na Nigéria.

Os autores verificaram que, com o aumento das doses do fertilizante organomineral, houve aumento no diâmetro médio ponderado de agregados do solo. Esse fator relaciona o tamanho e estabilidade dos agregados, sendo que quanto maior o valor, maior a resistência à desagregação (Figura 1a).

Com isso, o solo fica mais resistente aos processos de erosão que são causados principalmente pela ação de fatores externos, como o uso de implementos agrícolas e o impacto das gotas de chuva.

Além disso, houve redução na densidade e resistência à penetração do solo (Figura 1b e 1c), ou seja, a compactação do solo foi menor, o que contribui para o aumento da infiltração de água e raízes no solo e, consequentemente, para a maior nutrição das plantas.

Causas

Esse efeito se deve à matéria orgânica presente no organomineral, que promove a melhor distribuição das partículas e agregados do solo, permitindo maior equilíbrio na quantidade de espaço sólido e poroso e também na relação entre macro e microporos no solo (Reinert; Reichert, 2006).

Como os macroporos são responsáveis pela aeração e maior contribuição à penetração de raízes e infiltração de água, Oshunsanya e Akinrinola (2013) observaram aumento na condutividade hidráulica em solo saturado, o que indica que houve maior movimento de água no solo, com o uso do organomineral (Figura 2a).

Além disso, como os microporos são responsáveis pela retenção e armazenamento de água no solo, houve aumento no teor de água em capacidade de campo, que é a quantidade de água retida no solo, após cessado o movimento gravitacional. Em consequência disso, também houve aumento no teor de água disponível para absorção pelas plantas (Figura 2b e 2c) (Oshunsanya; Akinrinola, 2013). Segundo Bertoni e Lombardi Neto (1990), a matéria orgânica retém de duas a três vezes o seu peso em água.

Outro benefício importante é que o solo se torna menos pegajoso e plástico, ou seja, menor é a capacidade de aderência e de ser moldado, assim o produtor consegue manejá-lo com maior facilidade.

Benefícios às propriedades químicas

Sobre as propriedades químicas do solo, verifica-se que são favorecidas pela combinação entre a fonte mineral e a orgânica que, segundo Ribeiro et al., (1999), além de elevar a capacidade de troca de cátions – CTC, em especial nos solos intemperizados ou arenosos, também intensifica a disponibilidade de nutrientes por meio de processos de mineralização e contribui para a redução da fixação do fósforo.

Além disso, os ácidos orgânicos próprios da decomposição da matéria orgânica dinamizam a solubilização de minerais do solo, potencializando a disponibilidade de nutrientes para as plantas.

O aumento da CTC se deve à capacidade do húmus do material orgânico em adsorver eletrostaticamente o potássio, cálcio, magnésio, manganês, ferro, cobre, zinco, amônio e até o sódio, dificultando a lavagem desses nutrientes pela água da chuva que atravessa o perfil do solo e cedendo-os posteriormente às raízes das plantas (Kiehl, 2010).

Moreira (2018) realizou uma pesquisa para comparar o efeito de um fertilizante mineral com dois organominerais nas propriedades químicas do solo, sendo que um dos organominerais foi peletizado com torta de filtro, que é obtido a partir da produção de açúcar, e o outro com biossólido, que é proveniente da esterilização e estabilização do lodo de esgoto.

O autor verificou que os fertilizantes organominerais possibilitam relações de bases mais equilibradas no solo, refletindo em maior soma de bases, CTC e saturação por bases. A saturação por alumínio foi reduzida, de maneira gradual, quando se utilizou o fertilizante organomineral peletizado com biossólido (Tabela 1).

Observou-se também que o fertilizante mineral acidifica o solo, pois favorece a liberação de H+ na solução. Em contrapartida, os fertilizantes organominerais possibilitam maior estabilidade do pH, devido ao tamponamento do solo promovido pela matéria orgânica, que possui grandes quantidades de radicais carboxílicos e fenólicos, favorecendo o aumento do poder tampão do solo (Tabela 1) (Moreira, 2018).

Esse é um fator importante principalmente no Cerrado brasileiro, onde a correção da acidez do solo é uma prática necessária e frequente, permitindo a redução dos gastos com aplicação de calcário (Silva e Mendonça, 2007).

Moreira (2018) também verificou que a fonte mineral fornece maior quantidade de fósforo e potássio a curto prazo, mas o efeito residual dos fertilizantes organominerais pode ser mais interessante para a manutenção da fertilidade do solo a longo prazo.

Em virtude da presença de maior quantidade de ânions orgânicos nos grânulos de fertilizantes organominerais que competem pelos sítios de adsorção de fósforo, ocorre redução momentânea da fixação desse nutriente, favorecendo a absorção pelas plantas (Benites et al., 2010).

Uma alternativa para aumentar a disponibilidade de fósforo na solução de maneira mais rápida e suprir as exigências das culturas, com o uso do organomineral, é fazer a inoculação com microrganismos solubilizadores de fósforo.

Esses microrganismos liberam fósforo solúvel para a solução por meio da solubilização do fósforo inorgânico e mineralização do fósforo orgânico. Assim, os microrganismos podem disponibilizar o fósforo complexado a cálcio, ferro e alumínio no solo e em fosfato natural, principalmente pela liberação de ácidos orgânicos; e liberar o fósforo orgânico do solo pela produção de enzimas do tipo fosfatases (Richardson; Simpson, 2011).

Benefícios às propriedades biológicas

A matéria orgânica presente no organomineral serve de alimento para a macro e mesofauna, que influenciam os processos no solo, por meio da escavação, ingestão e transporte de material orgânico e mineral (Ferreira, 2012).

Além disso, também é alimento para microrganismos (Benites et al., 2010), o que estimula a flora microbiana em volta do sistema radicular e causa maior proliferação e biodiversidade de microrganismos (Souza; Resende, 2003).

De acordo com Ferreira (2012), os fertilizantes organominerais podem aumentar a intensidade e a variabilidade dos microrganismos antagonistas aos nematoides e modificar as características físico-químicas do solo, transformando-o em um ambiente favorável ao desenvolvimento de plantas mais vigorosas e desfavorável à sobrevivência dos nematoides, principalmente devido à liberação de substâncias tóxicas a estes organismos, oriundas da decomposição da fonte orgânica ou dissolução da fonte mineral.

Segundo o autor, o fertilizante organomineral à base de torta de mamona, quando incorporado ao substrato, atua diretamente sobre os primeiros estádios de vida de Meloidogyne javanica, como ovos e juvenis de segundo estádio.

Observou-se também que as maiores doses do organomineral foram mais eficientes no controle dos nematoides, porém. podem afetar negativamente o desenvolvimento das plantas. Como exemplo, na cultura do café a dose do organomineral de 12 g L-1 de substrato foi a ideal para obter o bom desenvolvimento vegetativo do cafeeiro e redução da população de Meloidogyne exigua (Ferreira, 2012).

A pesquisa de Krolow (2011) teve como objetivo avaliar a influência de fertilizantes na macrofauna e mesofauna do solo. O autor testou quatro fertilizantes, sendo eles: mineral; organomineral à base de linhito; composto de dejetos de bovinos enriquecido com fertilizante mineral e fertilizante orgânico de cama de peru.

A Tabela 2 apresenta parte dos resultados obtidos pelo autor, na qual verifica-se maior quantidade de indivíduos em solo submetido com o organomineral, resultado interessante, pois mostra como a composição do fertilizante pode influenciar os organismos do solo.

De acordo com Oliveira (2012), o uso de um composto organomineral, obtido pela compostagem da mistura de palha de grãos de café, esterco bovino, fosfato natural de Araxá e gesso agrícola, aumentou a atividade de enzimas, que estão associadas aos processos de decomposição e mineralização de compostos orgânicos no solo, e também aumentou a atividade respiratória microbiana e disponibilidade de fósforo no solo.

Consideração final

Nesse contexto, verifica-se que os fertilizantes organominerais favorecem o equilíbrio das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, transformando-o em um ambiente adequado ao desenvolvimento de plantas vigorosas e de alta produção. Sua aplicação pode ser realizada de maneira eficiente em diversas culturas, tais como grãos, hortifrúti e florestas, e também na produção de mudas.

ARTIGOS RELACIONADOS

Tratamento de sementes de algodoeiro para controle de pragas e doenças iniciais

Alderi Emídio de Araújo Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e pesquisador da Embrapa Algodão Sandra Maria Morais Rodrigues Engenheira agrônoma, doutora em Entomologia e pesquisadora da Embrapa...

Panorama nacional da produção de pêssego

Leo Rufato leo.rufato@udesc.br Aike Anneliese Kretzschmar Professores da Universidade do Estado de Santa Catarina " Lages Pricila Santos da Silva Doutoranda em Produção Vegetal - Universidade do Estado de...

Vem aí o maior evento de irrigação do país

Segunda edição da FIIB 2018 contará com diversas palestras, minicursos e grandes expositores A segunda edição da Feira Internacional da Irrigação Brasil 2018 (FIIB...

IAC obtém patente para gene promotor isolado de plantas de café

A tecnologia pode ser aplicada em pesquisas no melhoramento genético de novas cultivares de qualquer espécie. No café, pode reduzir pela metade o tempo de desenvolvimento de uma nova cultivar.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!