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Cafeeiros – Mesmo fechados, podem ser podados mais altos

Autores

Daniela Andrade
Mestre em Fitotecnia e supervisora de Planejamento e Controle Agrícola
daniela.agronomia@hotmail.com
Gustavo Henrique Cafisso Santos
Engenheiro agrônomo – Centro Integrado de Campo Mourão
gustavo_cs0@hotmail.com

O uso de podas em cafezais vem crescendo nesses últimos anos. Antes, a prática era utilizada apenas de forma corretiva, mas hoje já é empregada no manejo normal da lavoura, visando facilitar os tratos e a colheita. Em condições de cafeicultura de montanha de trato manual, mesmo cafeeiros adensados que se encontram fechados e sem saia podem ser podados mais altos, com melhores respostas de recuperação em relação ao uso da poda tradicional de recepa baixa.

Manejo

O cafeeiro é uma cultura perene que precisa ser manejada com podas a cada sete a 12 anos de idade, dependendo do espaçamento, cultivar e condições climáticas. Para decidir o quando podar, deve-se levar em consideração baixa produtividade, presença ramos estiolados e/ou saia alta, e quando há a ocorrência de geada ou grande deriva de herbicida.

Objetiva-se, com a poda, a recuperação dos ramos improdutivos ou manejo de altura do cafeeiro para mecanização ou até mesmo a renovação de toda lavoura, o que dependerá do estado em que ela se encontra.

Tipos de podas

Os tipos de manejos de podas para cafeeiro são: esqueletamento, desponte, decote, recepa com pulmão e recepa sem pulmão. O esqueletamento é a poda dos ramos laterais (ramos plagiotrópicos) do cafeeiro.

A distância ideal entre o ramo ortotrópico e a poda irá depender do primeiro nó produtivo do ramo plagiotrópico. Não se deve podar sem deixar pelo menos um nó no ramo plagiotrópico, pois é a partir dele que virão as próximas brotações. Neste também se deve fazer o decote da planta.

Vale lembrar que é importante respeitar a arquitetura da planta no manejo da poda. Então, deve-se podar em formato de pinheiro (mais curto no terço superior, e mais comprido no terço inferior).

O desponte é uma poda dos ramos laterais, retirando apenas as “pontinhas” dos ramos. Essa pode ser utilizada em casos de leve geadas, derivas de defensivos, ou doenças que atacam as pontas dos ramos, deixando esses mortos, devendo assim ser podados, para que haja a brotação de um novo ramo.

O “decote” é comumente usado quando se deseja adequar a arquitetura da planta (facilitando o manejo, tratos culturais, colheita) e eliminando o cinturamento das plantas, bem como para a quebra da dominância apical, em alguns casos. Esta poda consiste no corte do ramo ortotrópico quando ainda se tem uma boa quantidade de ramos laterais, que possuam potencial produtivo para a próxima safra.

O corte deve ser feito a uma altura de 1,5 a 2,0 m do solo, denominado decote alto ou decote baixo, a 1,0 a 1,5 m do solo. Com o corte tem-se um melhor aproveitamento da incidência solar, facilitando a brotação dos ramos produtores e a floração.

Função da recepa

A recepa é chamada poda drástica, feita de 30 a 40 cm do solo, quando objetiva-se renovar a lavoura, e geralmente em lavouras abandonadas ou que já se passou muito tempo sem nenhum manejo de poda citada acima.

Esse tipo de poda é o mais oneroso, pois é de difícil manejo e há um alto custo operacional envolvido. A lavoura submetida a esta poda fica em média dois anos sem produção. A “recepa com pulmão” é quando o corte do tronco é feito a certa altura, que preserve os ramos produtores existentes no baixeiro, e “recepa sem pulmão”, quando o corte é mais baixo, restando somente o tronco.

Alguns pesquisadores afirmam que quando a recepa é com pulmão os brotos se desenvolvem mais rápido, enquanto outros afirmam que não há diferença no desenvolvimento do broto, e que o mesmo é influenciado pelo manejo pós-recepa.

Técnica

Os agricultores têm realizado o manejo de decote + esqueletamento/desponte, e não a recepa, mesmo em cafezais altamente adensados e com saias altas, pelo retorno do primeiro ser mais rápido que o segundo, deixando a recepa para casos de extrema necessidade.

O uso alternativo de podas altas, como o decote e o esqueletamento/desponte, por outro lado, em condições normais, implica na existência de ramagem lateral em boa quantidade. Matiello (2018) afirma que “os resultados obtidos do trabalho mostraram que é possível, a curto prazo, recuperar a copa de cafeeiros nessa condição, aproveitando as brotações ortotrópicas novas, que saem dos troncos cortados, formando uma boa estrutura produtiva bem superior àquela promovida pela recepa.

No caso da poda mais alta, aproveitando alguns ramos laterais no topo da planta, ela se evidencia como a mais produtiva na primeira safra pós-poda, porém, tende a fechar a lavoura novamente e exige a aplicação de nova poda, tipo safra zero, só que nesse caso as brotações ortotrópicas, saídas na parte baixa do tronco, serão aproveitados para recomposição da saia,  útil em novo esqueletamento. Nas podas com decote mais baixo houve boa recomposição da copa e pode-se, ainda, aproveitar pra tirar mais safras em seguida.

Erros

Os erros mais frequentes nas podas são, principalmente, podar na época errada e sem necessidade. Como a poda é uma operação com grande custo, deve-se avaliar bem a real necessidade desse manejo e a época correta. Por isso, o auxílio de um engenheiro agrônomo é de extrema importância para a decisão.

Geralmente faz-se a poda logo após o período de colheita. Na operação propriamente dita, os maiores erros estão no corte dos ramos, ficando os cortes mascados no esqueletamento ou decote, ou na recepa ocorre de o tronco ficar com rachaduras. Ambos os casos acontecem quando a lâmina de corte não está afiada e/ou a podadeira está em uma velocidade acima da ideal.

Outra falha recorrente na recepa é a regulagem da altura de corte, que pode ser bem complexa quando se tem um terreno irregular. Nesta situação, recomenda-se deixar a altura do corte maior, para que não ocorra um corte muito baixo quando se passa numa curva de nível. Se o corte for realizado muito próximo ao solo, corre-se o risco de não rebrotar por causa da baixa reserva energética.

Viabilidade

Como afirmado, a poda é considerada um trato cultural comum nas lavouras brasileiras, e seu uso traz inúmeras melhorias para o ciclo produtivo, desde qualidade, facilidade, produção e baixando custos.

Qual poda realizar? Quando realizar? Estas dúvidas devem ser tratadas de acordo com a necessidade da lavoura, com acompanhamento de um profissional. Em muitos casos a decisão de fazer ou não uma poda deixa de seguir o parâmetro da análise custo x benefício e passa a ser uma necessidade para a manutenção da lavoura, sendo um trato obrigatório para a longevidade do cafezal.

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