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Djalma Martinhão Gomes de Sousa
Pesquisador da Embrapa Cerrados
Uma das vantagens da calagem é proteger o fósforo de ficar retido no solo, deixando-o mais disponível para as plantas.Outra vantagem seria propiciar às culturas um bom desenvolvimento de suas raízes para que possam absorver o fósforo.
O fósforo é um nutriente absorvido pelas raízes por um mecanismo chamado difusão, e devido à baixa concentração desse elemento na solução do solo e à planta retirar o fósforo do solo a pequenas distâncias das raízes, é necessário um amplo sistema radicular para que a quantidade adequada de fósforo seja absorvida, gerando bons rendimentos agrícolas.
Figura 1: Desenvolvimento do sistema radicular de soja e milho com aplicação de calcário.
Para que as plantas tenham quantidade suficiente de raízes para absorver o fósforo e outros nutrientes, é necessário aplicar calcário ao solo, que reduz a toxidez do alumÃnio (que inibe o crescimento das raízes das plantas), fornece cálcio e magnésio. É preciso ter o cuidado de não aplicar calcário em excesso, o que poderá induzir deficiência de micronutrientes, em especial o manganês.
Correção eficiente do solo
A correção da acidez deve ser feita nas camadas superficiais (0 a 20 cm), com calcário, e subsuperficiais (20 a 60 cm) com gesso. Isso possibilitará maior desenvolvimento do sistema radicular das culturas, garantindo assim maior eficiência dos nutrientes aplicados, bem como da água armazenada no solo.
A prática utilizada para correção da acidez na camada superficial (0 a 20 cm) do solo é a calagem. O Ãndice de pH em água a ser atingido é de 5,5 a 6,3, pois neste intervalo as plantas terão boas condições de assimilação dos nutrientes essenciais, como: fósforo, potássio, enxofre e nitrogênio, sem prejuízos para a adequada absorção de micronutrientes.
Uma calagem bem feita irá neutralizar o alumÃnio do solo e fornecer cálcio (Ca) e magnésio (Mg) como nutrientes. Além disso, promove o aumento da disponibilidade do fósforo e de outros nutrientes no solo, assim como da capacidade de troca de cátions efetiva e da atividade microbiana, entre outros benefícios.
Recomendações
Para culturas anuais (soja, milho, feijão, trigo, dentre outras), recomenda-se aplicar calcário para elevar a saturação por bases a 50%, utilizando calcário que complemente o teor de Mg no solo para valores entre 0,5 cmolc/dm3 e 1,0 cmolc/dm3, pelo menos.
A necessidade de calcário é calculada pela fórmula:
N.C. (t/ha) = (V2 – V1)T x f
100
Em que:
V2 = Saturação de bases que se deseja
V1 = S/T x 100 = Saturação de bases atual
T = (H + Al + S) cmolc/dm3
S = (Ca + Mg + K) cmolc/dm3
f = Fator de correção da qualidade do calcário
Como a saturação de bases de 50% satisfaz a culturas anuais no Cerrado, a fórmula pode ser transformada para:
N.C. (t/ha) = (T/2 – S) x f
A ficha de análise dos calcários inclui o Ãndice chamado PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total), que indica a qualidade efetiva do calcário. Este Ãndice é, normalmente, diferente de 100%, devendo-se, portanto, corrigir essa diferença por meio do fator f, que é determinado pela fórmula:
f =100
PRNT
Assim, se o valor do PRNT for 80%, o valor de f será 100/80 = 1,25; quando for de 70%, o valor de f será 100/70 = 1,43.
Outro cuidado que se deve ter é com os solos com CTC menor que 4cmolc/dm-3, em que a saturação por bases de 50% pode não ser suficiente para manter teores de Ca e Mg adequados. Como os menores teores aceitáveis de Ca e Mg são 1,5 cmoc/dm-3 e 0,5 cmoc/dm-3, respectivamente, é possível, nestes casos, calcular a dose de calcário para V de 70%, visando atingir esses teores mÃnimos de Ca e Mg no solo.