Fábio Olivieri de Nobile – Professor titular do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB) – fabio.nobile@unifeb.edu.br
Maria Gabriela Anunciação – Engenheira agrônoma – UNIFEB
Na agricultura moderna, a aplicação de calcário para correção de acidez de solo é uma técnica muito difundida e recomendada. Porém, ainda se faz necessário esclarecer algumas dúvidas a respeito do assunto.
As correções de propriedades químicas do solo, como acidez, alumínio tóxico, cálcio, magnésio, dentre outras, apresentam-se como fatores de substancial importância na elevação da produtividade das culturas.
Para promover tais correções, existem no mercado materiais corretivos com características químicas e granulométricas bastante variáveis. São considerados corretivos os produtos que apresentem na sua composição carbonatos, óxidos, hidróxidos ou silicatos de cálcio e/ou magnésio.
A eficiência dos materiais corretivos é medida pelo Poder de Neutralização (PRNT) e do seu efeito residual. A reação de neutralização promovida pelos óxidos e hidróxidos é muito mais rápida e enérgica que a dos carbonatos e silicatos. Outro fator diz respeito à granulometria dos corretivos: quanto maior a área de contato e quanto mais fino o corretivo, mais rápida é sua ação.
Reatividade do calcário
Normalmente, produtos de maior reatividade, quer pelo Poder de Neutralização ou pela granulometria, são de custo mais elevado. O efeito residual de um corretivo é o tempo de duração da calagem efetuada, sendo, portanto, um fator de grande importância na economicidade da calagem.
A reatividade e o efeito residual são características antagônicas, ou seja, quanto maior a reatividade, menor o efeito residual e vice-versa. Assim, os calcários calcinados, de alto PRNT, apresentaram alto poder de neutralização e baixo efeito residual, enquanto nos calcários com menor PRNTs ocorre o inverso.
Os solos brasileiros, devido a fatores geológicos, tendem a um pH baixo, com grande concentração dos íons H+ e Al+3. Ainda que essa acidez seja natural, ela difere do ambiente ideal para as plantas cultivadas. Nessas condições, nutrientes de suma importância, como nitrogênio, fósforo e potássio, têm sua disponibilidade reduzida, podendo prejudicar o crescimento vegetal.
Há, também, o problema das concentrações excessivas de alumínio e manganês, que são tóxicas para as culturas. Ao contrário dos nutrientes citados anteriormente, quando o pH diminui, aumenta a utilização de ambos.
Sua presença inibirá o crescimento radicular, aumentará a probabilidade de as plantas acamarem e prejudicará a absorção de nutrientes, com consequência na queda de produtividade da cultura.
Soluções
Para aumentar o pH do solo, deve-se realizar a calagem, ou seja, a aplicação de calcário na propriedade. Sua absorção não é imediata, portanto, o ideal é fazer o procedimento no período pré-safra (antecedência de 90 dias da semeadura).
Em solos pobres em magnésio, como acontece no Cerrado, é interessante utilizar calcário com teores elevados de MgO (>12%), que possuem maior concentração desse nutriente.
Um dos critérios mais utilizados para definir a quantidade de calcário a ser aplicado é a saturação por bases, que vem a ser a proporção na qual o complexo de adsorção de um solo está saturado por cálcio, magnésio e potássio.
Em suma, a saturação por bases, representada por V%, nada mais é do que a percentagem de cargas negativas que um determinado solo possui em pH 7,0 (também denominado de capacidade de troca de cátions, ou simplesmente CTC potencial) e que está ligada aos cátions básicos.
Por este critério, a partir dos resultados da análise química realizada em uma amostra de solo representativa do talhão, estima-se a quantidade de calcário necessária para se elevar a saturação por bases a um valor considerado ideal, normalmente 60%; porém, este valor pode variar em função da tolerância da espécie vegetal a ser cultivada, aos efeitos da acidez.
Não confunda
Muitos produtores rurais, e mesmo técnicos da assistência, comumente questionam a razão pela qual a aplicação de calcário em dose estimada por este critério, quase sempre resulta na correção apenas parcial da acidez do solo. Em outras palavras, a saturação por bases efetivamente obtida, na maioria das vezes, é inferior àquela que foi almejada.
Essa aparente discrepância é resultante de um conjunto de fatores que costumam ocorrer rotineiramente nas propriedades agrícolas, em maior ou menor magnitude, e que podem passar despercebidos pelo produtor rural.
A dose de calcário estimada pelo critério de saturação por bases é estabelecida para um corretivo de acidez com PRNT padrão de 100% e a incorporação em uma profundidade de 20 cm. Quando se utiliza um calcário com valor de PRNT menor ou maior do que o padrão 100%, torna-se necessário aumentar ou diminuir proporcionalmente a quantidade a ser aplicada, respectivamente.
Da mesma forma, se por algum motivo o produtor rural vai realizar a incorporação do calcário em profundidade maior do que 20 cm, deve-se aumentar a dose de forma proporcional ao volume de solo que será corrigido. Estes dois fatores muitas vezes são ignorados em função da sua aparente banalidade. Porém, ao se aplicar um calcário com PRNT de 85%, e incorporá-lo em uma camada de 25 cm, a quantidade do corretivo deve ser aumentada em 47%.
Mais benefícios
Fora a questão da correção do solo, existem outros benefícios que devem ser mencionados, entre os quais:
- Diminuição da implicação tóxica do alumínio (Al);
- Diminuição da retenção do fósforo (P);
- Aumento da disponibilidade do nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S) e molibdênio (Mo) no solo;
- Aumento da ação dos fertilizantes impedindo seu desperdício;
- Aumento da firmeza dos tecidos às agressões externas, como pragas e ventos, por meio do cálcio viabilizado pelo calcário que entra na composição das células das plantas;
- Aumento da performance microbiana e a saída de nutrientes pela decomposição da matéria orgânica;
- Melhoramento dos atributos físicos do solo, gerando melhor aeração e circulação de água;
- Aumento da evolução radicular, fazendo com que as plantas desfrutem os nutrientes de um volume maior de solo e fiquem mais resistentes à falta de chuvas;
- Aumento da produtividade das culturas pelo resultado de um ou mais benefícios citados anteriormente.