24.6 C
Uberlândia
terça-feira, outubro 15, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosGrãosCana transgênica - Nova opção para o controle da broca

Cana transgênica – Nova opção para o controle da broca

Autores

Rodrigo Vieira da Silva
Doutor em Fitopatologia e professor do IF Goiano – campus Morrinhos
rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br
Brenda Ventura de Lima e Silva
Mestre em Fitopatologia e servidora do IF Goiano – campus Morrinhos
brendavlima@yahoo.com.br
Lara Nascimento Guimarães
Nathália Nascimento Guimarães
Graduandas em Agronomia – IF Goiano – campus Morrinhos A

O Brasil constitui-se no principal produtor de cana-de-açúcar do mundo, com uma produção de mais de 600 milhões de toneladas anualmente, o que poderia ser ainda maior, se não fossem os prejuízos causados pelas pragas, com destaque para a broca-da-cana, Diatrea saccharalis.

Atualmente, o controle da broca-da-cana é realizado principalmente por meio de inseticidas químicos, que são tóxicos e elevam o custo de produção. Considerando a área de aproximadamente 9,0 milhões de ha cultivados com cana no território brasileiro, estima-se que os prejuízos anuais causados pela broca possam atingir R$ 5 bilhões.

Com a incorporação de dois novos genes de resistência a uma variedade desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a lagarta da broca terá menor capacidade de suplantar esta barreira, que pode ampliar a proteção da planta contra a praga.

Esta nova opção de tecnologia certamente facilitará seu manejo por parte do agricultor, por diminuir os custos de controle de pragas e levar à diminuição do uso de inseticidas.

Broca-da-cana – Diatrea saccharalis

A D. saccharalis, mais conhecida como broca da cana-de-açúcar, é a mais importante praga da cultura, em razão de sua ampla distribuição e dos elevados prejuízos que causa. Este inseto pode atacar a cana durante todo o desenvolvimento da cultura, entretanto, a incidência é menor quando a planta é jovem e não possui entrenós formados.

O ciclo tem início na postura dos ovos da mariposa nas folhas da cana. Após quatro a nove dias da postura, as larvas recém-eclodidas passam a se alimentar do parênquima das folhas.

As lagartinhas descem pela folha penetrando no colmo, perfurando-o na região dorsal. No interior do colmo provocam a formação de galerias, permanecendo ali até a fase adulta. Após cerca de 40 dias, as lagartas com 2,2 a 2,5 cm, abrem um orifício, fechando-o com fios de seda e serragem. Nesta fase, transformam-se em mariposas, saindo pelo orifício aberto e atingindo novas plantas.

Os furos feitos por elas fragilizam a planta, que fica sujeita a ser derrubada pelo vento. Além disso, permitem o ataque de fungos causadores da podridão vermelha, doença que reduz a pureza do caldo e a qualidade do açúcar e do álcool produzidos. O ciclo completo do inseto varia de 53 a 60 dias, dependendo das condições climáticas, de modo que podem ter, ao longo do ano, de quatro a cinco gerações da praga.

Modificação genética

Entende-se por modificação genética quando do descobrimento de uma sequência de DNA no cromossomo, o qual ativará os genes chamados promotores, que promovem a expressão do gene em momento de necessidade quando inserido em um novo organismo, neste caso, a planta da cana.

Dessa maneira, a planta modificada expressa no seu fenótipo proteínas com ação inseticida, capazes de matar as pragas que venham a se alimentar dessas plantas O gene mais utilizado em transgenia é o da bactéria de solo Bacillus thuringiensis (Bt), que na cana-de-açúcar é o gene Cry1Ab. Este constitui-se em um microrganismo encontrado no solo que produz proteínas inseticidas tóxicas para alguns insetos.

Esse mecanismo de modificação genética é semelhante aos já utilizados nas culturas do milho, soja e algodão há mais de 20 anos em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.

CTC tem papel importante no processo

As duas cultivares de cana-de-açúcar modificadas geneticamente via transgenia são: CTC 20 Bt e CTC 9001 Bt, desenvolvidas pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Estas tiveram a sua liberação concedida pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a primeira em 2017 e a segunda em 2018.

Essa tecnologia da cana Bt é importante por ser economicamente viável e ambientalmente mais sustentável. Além disso, vale ressaltar que possibilita expandir a cultura da cana-de-açúcar em áreas onde o inseto-praga não pode ser controlado via inseticida e aumentar a produtividade de biomassa pela redução das perdas pelo ataque do inseto.

Os estudos do CTC mostraram que o gene Cry1Ab é eliminado dos derivados da cana, durante a fabricação do açúcar e do etanol, e não causa danos ao solo.

BOX

Comparativo entre a cana convencional e a cana Bt

Vantagens: com a tecnologia Bt há resistência à broca-da-cana, economia de água e combustível. Já o etanol e açúcar são idênticos aos da cana convencional, assim como o sistema de plantio e colheita. Entretanto, a eficiência das operações com cana Bt é maior, pois com menor quantidade de injúrias a planta sofre menos dano econômico, com menor custo de produção. A cana-de-açúcar geneticamente modificada também pode resultar em maior produtividade para o agricultor em função de controlar a broca-da-cana logo no início, quando começa a se alimentar, evitando assim prejuízos maiores. Esta nova tecnologia apresenta o potencial de aumentar a participação do Brasil no mercado internacional das commodities de açúcar e etanol.

Desvantagens: vale salientar que quando um organismo é submetido a um método de controle por muito tempo pode haver a seleção de indivíduos resistentes e diminuir a eficiência de controle da broca, sendo necessário agregar outras estratégias de manejo associadas à transgenia.

Disponibilidade e comercialização

A primeira variedade transgênica de cana-de-açúcar – CTC 20 Bt, com resistência à broca, foi liberada em junho de 2017 pela CTNBio, e a segunda variedade – CTC 9001 Bt, em dezembro de 2018.

Atualmente, aproximadamente 60 usinas da região centro-sul do Brasil têm plantado aproximadamente 400 hectares da variedade CTC 20 Bt. Apesar de as duas variedades possuírem o mesmo gene de resistência, elas se diferenciam: a CTC 20 Bt é indicada para cultivos em ambientes favoráveis, com solos de boa fertilidade e com maior incidência de chuva e, geralmente, é colhida no meio da safra. Já a CTC 9001 Bt é recomendada para ambientes mais restritivos de solo e clima, sendo colhida no início da safra.

ARTIGOS RELACIONADOS

BASF com a cadeia sucroenergética no Insectshow 2021

Para manter uma maior produtividade dos canaviais, é recomendado que o ...

O fósforo otimização do sistema radicular do feijoeiro

AutorMarco Túlio Gonçalves de Paula Engenheiro agrônomo e mestrando em Qualidade Ambiental – Universidade Federal de Uberlândia (UFU) mtulio.agro@gmail.com Dentre os macronutrientes essenciais para...

Aminoácidos garantem melhor produção sob estresse

  Rodrigo da Silveira Campos Analista em Pós-colheita de Frutas e Hortaliças da Embrapa Agroindústria de Alimentos rodrigo.silveira@embrapa.br Existem várias linhas de pesquisa que procuram elucidar como...

Tecnologia de ultrassom melhora propriedades de bebidas de frutas

Pesquisas realizadas na Esalq utilizam tecnologia inovadora no processamento de alimentos para garantir produtos de melhor qualidade Pesquisas realizadas pelo Grupo de Estudos em Engenharia...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!