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Canela-preta na batata: um grande desafio para o produtor

Tatiane da Cunha
Bióloga e doutora em Microbiologia Agrícola – Esalq/USP
tatiane_dacunha@ymail.com

A canela-preta, também conhecida como pé-negro-da-batateira, é uma doença importante da batata, que possui como agente causal bactérias do gênero Pectobacterium spp., antigamente classificadas como Erwinia spp.

No campo, o apodrecimento do tubérculo-mãe ou dos brotos, antes mesmo de emergir, causa falhas de plantio (estande). Após a emergência das plantas, quando a doença ocorre na haste, pode resultar no amarelecimento, murcha e morte/perda da planta no campo.

Figura 1. Danos causados pela bactéria Pectobacterium atrosepticum, agente causal da canela-preta em hastes e tubérculos de batatas (Fonte: Tameh, 2020).

Reprodução

Origem

O nome da doença é oriundo justamente da coloração preta, ocasionada nas hastes das plantas (“canela”). Essa coloração ocorre devido à capacidade das pectobactérias de deteriorar o tecido vegetal, por meio da produção de enzimas, chamadas de pectinolíticas.

Essas enzimas destroem as células vegetais, necrosando os tecidos das hastes, assim como dos tubérculos das batatas, escurecendo e necrosando esses tecidos (sintoma também conhecido como maceração).

As pectobactérias causam prejuízos em todas as fases da cadeia produtiva da batata, desde o cultivo até o armazenamento e comercialização. No campo, temperaturas e umidades elevadas favorecem o desenvolvimento desses patógenos, que ocorrem em quase todas as regiões produtoras de batata no Brasil.

Condições como as de chuvas intensas, que estão ocorrendo no início de 2023, ajudam a agravar ainda mais os sintomas e disseminação da canela-preta na lavoura.

Figura 2. Ciclo da canela-preta na batata. Cunha, T. (Adaptado de: De Boer, S. H. 2004)

Reprodução

Formas de controle

“Prevenir é melhor que remediar”. Esse ditado popular se aplica muito bem ao controle da canela-preta na cultura da batata, uma vez que, quando entra na lavoura, seu controle é muito difícil.

O planejamento do plantio e certificação das batatas-sementes é, certamente, a melhor medida de manejo!

Planejar, planejar e planejar…

A janela de plantio da batata é importante para uma lavoura mais produtiva e saudável. Épocas do ano mais quentes (acima de 27°C) e chuvosas são as menos indicadas para o plantio, pois favorecem a disseminação das pectobactérias.

Outro ponto importante do planejamento é a rotação de culturas e a escolha das variedades adequadas para cada região e tipo de solo.

Batata-semente de qualidade

A propagação da batata, diferente de outras culturas, é feita por tubérculos-mãe, por isso, o risco de disseminação de doenças é ainda maior. Usar sementes certificadas, com boa qualidade física e sanitária, é essencial para o processo.

Evite batata-semente cortada, pois o corte facilita a entrada de patógenos. Caso necessário, sempre optar por fazer a limpeza e esterilização correta das ferramentas de corte. Outro ponto de atenção é o estado adequado de brotação e a catação e/ou escolha – onde é feita a eliminação de tubérculos podres e com ferimentos antes do plantio.

Canela-preta na lavoura, o que fazer?

A principal forma de controle curativo é a utilização dos produtos químicos. Dentre os registrados para a cultura da batata estão os ingredientes ativos cúpricos, como sulfato de cobre, oxicloreto de cobre, óxido cuproso e hidróxido de cobre.

Outros ingredientes, como casugamicina (antibiótico), cloreto de benzalcônio (amônio quaternário), cimoxanil+famoxadona e famoxadona+manconzebe também são registrados para o controle da doença na cultura.

Além dos químicos, alguns produtos alternativos vêm se destacando no controle preventivo. Um exemplo é Melaleuca alternifólia, um extrato de folhas (terpenos) que atua como indutor de resistência nas plantas e os biológicos, que vêm se demonstrando grandes promissores para prevenção e controle.

Biológicos, um arsenal microscópico!

Nas guerras, quanto maior a estratégia e o arsenal do oponente, maiores são as chances de vitória. Na lavoura, guerras microscópicas ocorrem diariamente, sem que vejamos os oponentes, mas observamos seus estragos, ou suas vitórias.

Os biológicos possuem diferentes “arsenais”, podendo controlar a doença de forma direta ou indireta.

Na forma direta, geralmente os biológicos agem por meio da antibiose, produzindo enzimas ou compostos (metabolitos) que inibem a ação do patógeno, causando danos diretos a eles.

Já na ação indireta, os biológicos podem atuar competindo por espaço e nutrientes, não deixando que o patógeno se estabeleça na planta e cause a doença. Outra forma indireta é por meio da indução de resistência sistêmica na planta, onde o agente biológico prepara a planta para o ataque do patógeno, deixando-a em “estado de alerta”, com suas defesas prontas para serem utilizadas quando o patógeno tenta atacar.

Dentre os agentes biológicos de controle promissores para canela-preta destacam-se as rizobactérias (bactérias que vivem no solo) do gênero Pseudomonas sp e Bacillus sp., que possuem diferentes mecanismos de ação (arsenais), sendo sua eficiência maior quando utilizados nas batatas-sementes, no sulco de plantio e na amontoa.

De olho no futuro!

Há anos o mercado de biológicos vem crescendo, e o Brasil tem destaque internacional no setor. O mercado cresce, e com ele a demanda por formulações e forma de aplicações cada vez mais eficientes.

Produtos nanoencapsulados são uma grande promessa, pois permitem maior durabilidade e ajudam os biológicos a atingir exatamente o alvo e persistir melhor no ambiente. Por isso, é bom ficar de olho nessa tecnologia.

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