Autores
Veridiana Zocoler de Mendonça
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Energia na Agricultura – UNESP/FCA
veridianazm@yahoo.com.br
Aline Mendes de Sousa Gouveia
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Horticultura) pela UNESP/FCA e professora – Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (UNIFIO), Ourinhos (SP)
aline_mendes@fio.edu.br
A cultura do caquizeiro possui elevada importância econômica no Brasil, com cultivo centralizado nas regiões sul e sudeste. A área da cultura é de 8.133 ha e o Brasil é o sexto país em produção mundial, com 156.935 ton segundo dados de 2018 (Faostat, 2020).
Ainda com dados de 2018, o Estado de São Paulo é o maior produtor, responsável por 50% da produção nacional, produção de 79.960 ton em 3.093 ha, seguido pelo Estado do Rio Grande do Sul, com 33.686 ton em 2.603 ha (IBGE, 2020).
É um fruto com características organolépticas essenciais à saúde, sendo rico em carotenoides, como o β-caroteno, β-criptoxantina, zeaxantina, luteína e licopeno, além de ser fonte de polifenóis como ácido gálico e ácido cumárico.
Entretanto, perdas pós-colheita durante o armazenamento e comercialização do caqui se devem, em maior importância, ao excesso de maturação, perda de firmeza, podridões e à incidência de escurecimento da casca dos frutos. Dessa forma, tecnologias pós-colheita devem ser empregadas para estender a vida de prateleira, manter a qualidade e diminuir alguns problemas relacionados à adstringência que permanecem no fruto mesmo após colhido em condições ideais de maturação e/ou amadurecimento.
Solução
Uma das tecnologias de aplicação pós-colheita é o uso de embalagem. Apesar de ser um fruto muito apreciado pelo sabor, o caqui apresenta permanência da adstringência após a colheita, quando sem sementes, mesmo amadurecido, necessitando de um processo artificial para a remoção desta, denominado destanização.
Um dos métodos de remoção de adstringência de caqui, ainda pouco empregado, é a atmosfera modificada com a utilização de embalagens plásticas.
Como funciona
A utilização de embalagens plásticas (exemplo de material, o polietileno) pode proporcionar a conservação dos frutos, por promover modificações na atmosfera, elevando a concentração de CO2 e diminuindo a de O2.
A modificação da atmosfera pode se dar de forma passiva ou ativa. Na atmosfera modificada passiva não há alteração inicial do ar atmosférico na embalagem e de forma ativa é feito vácuo na embalagem e injetadas concentrações conhecidas de O2 e CO2. No entanto, as concentrações de O2 e CO2 são conhecidas no momento da injeção dos gases na embalagem, mas não são controladas posteriormente e variam em função da temperatura, tipo de embalagem, taxa respiratória do produto e tempo de armazenamento.
Com o aumento do CO2 ocorre redução na síntese e na ação do etileno, hormônio responsável pelo amadurecimento nos frutos climatéricos, como o caqui. Outro ponto chave no uso das embalagens é a condição de anaerobiose que é formada, modificando o processo respiratório do fruto, promovendo acúmulo de acetaldeído, responsável por polimerizar as moléculas de taninos, destanizando-os.
Dessa forma, combinações de tempo, temperatura de armazenamento, tipo de embalagem, genótipo, entre outros fatores, podem ser úteis tanto na conservação quanto na destanização dos frutos de caqui após a colheita.
Manejo
O emprego desta tecnologia por meio de filmes plásticos permite reduzir o manuseio excessivo dos produtos entre produtor e consumidor. O polietileno de baixa densidade (PEBD), polipropileno e filme PVC têm sido os mais utilizados. Quando aplicados logo após a colheita minimizam a perda de água, suprimem o desenvolvimento de patógenos e aumentam o período de conservação.
Este sistema é composto por modificações na atmosfera interna dos filmes, interação entre a respiração do produto e a transferência dos gases entre a atmosfera externa e interna. A permeabilidade do filme permite que os gases entrem em equilíbrio até atingir uma taxa de transferência de massa similar à taxa de respiração.
Dessa forma, é importante a escolha e aplicação de um filme plástico adequado para caqui, o qual permita a manutenção da qualidade por meio de concentrações de gases favoráveis. Uma vez que os níveis de O2 e CO2 não são adequados, pode ocorrer maturação irregular, aparecimento de sabores e odores indesejáveis, distúrbios fisiológicos (mudanças cromáticas, texturais e degradação de compostos), levando à perda de seu valor de mercado.
Embalagens de nylon-polietileno, que não permitem as trocas de gases com o meio externo, são utilizadas para aplicação da atmosfera modificada ativa. Neste caso, são utilizadas seladoras com função de vácuo e posterior injeção de gases em concentrações conhecidas, que normalmente variam de 3,0 a 8% de O2 e 3,0 a 10% de CO2, e o nitrogênio é utilizado para o balanço da composição por ser um gás inerte.
Contudo, novos filmes com permeabilidade específica, capazes de criar atmosferas reguladas, vêm sendo testados, e logo estarão disponíveis no mercado nacional.
A produtividade
A baixa qualidade pós-colheita dos frutos se deve, em parte, à embalagem inadequada, que não segue as instruções e requisitos de manuseio, proteção contra danos ou contaminação e distribuição adequada do produto.
Considerando que a demanda por frutas de alta qualidade aumenta a cada ano, um dos principais desafios da agricultura brasileira é reduzir as perdas pós-colheita. Uma alternativa é a aplicação de medidas apropriadas e tecnologias para prevenir a deterioração de frutas frescas após a colheita, que afeta a preferência do consumidor.
Portanto, atitudes do consumidor ao comprar frutas têm sido continuamente investigadas para melhor entender os atributos levados em consideração quando da escolha de um produto.
Em campo
Resultados práticos de pesquisas a campo relataram que caquis ‘Giombo’ acondicionados em sacos de polietileno com espessura de 0,08 mm e mantidos à temperatura de 0°C foram conservados durante um período de dois meses, enquanto os frutos sem embalagem toleraram somente seis semanas de armazenamento.
Para frutos ‘Fuyu’, estes puderam ser armazenados durante cinco a seis meses a 0°C quando acondicionados individualmente em embalagem de polietileno com espessura de 0,06 mm. Foi constatada também melhor qualidade e menor ocorrência de desordens fisiológicas quando acondicionados em filme de polietileno de 0,05 mm de espessura durante 90 dias de armazenamento refrigerado.
Há, também, relatos sobre o uso de embalagens de polietileno reciclado, composto de 10% de fibra forrageira associado a uma bandeja de polipropileno, termoformado, com design exclusivo para frutas de caqui. Essa embalagem visa reduzir perdas durante o transporte e manuseio, com o objetivo de manter a qualidade e o consequente valor agregado do produto.
Além disso, este design inovador permite usar polímeros reciclados e fibras vegetais com um apelo ecológico, comparado às tradicionais caixas de madeira e papelão.
Erros
Embalagens inadequadas e manuseio incorreto são responsáveis por perdas durante a comercialização, além de diminuir a qualidade dos frutos pós-colheita. A tradicional caixa K causa injúria mecânica que, de maneira geral, estressa o fruto, provocando aumento da produção de etileno e distúrbios referentes à compartimentalização celular, além de aumento na taxa respiratória, da velocidade de deterioração e consequente redução da vida útil durante a comercialização.
As perdas compõem a parte física da produção que não é destinada ao consumo em razão de depreciação da qualidade dos produtos, devido à deterioração causada por amassamentos, cortes, podridões e outros fatores.
Assim, a escolha de embalagens deve considerar a quantidade de produtos, número de camadas e tipo de material, visando acomodar o fruto sem causar danos mecânicos. O acondicionamento em embalagens adequadas às suas características atenua as perdas quali e quantitativas.
Como agregar à técnica
Considerando a necessidade de regulamentar o acondicionamento, manuseio e comercialização dos produtos hortícolas in natura em embalagens próprias para a comercialização, visando a proteção, conservação e integridade dos mesmos e também a necessidade de assegurar a verificação das informações sobre a classificação dos produtos, as embalagens destinadas ao acondicionamento de produtos hortícolas in natura, no Brasil, devem atender aos requisitos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que aprovou, em 2005, as Normas Técnicas Específicas para a Produção Integrada de Caqui – Instrução Normativa nº4 (Brasil, 2005) com as seguintes especificações técnicas: “1. Utilizar embalagens limpas, resistentes ao transporte e ao armazenamento que não promovam danos e contaminação nos frutos; 2. Proceder à identificação do produto conforme normas técnicas legais de rotulagem e embalagem com destaque ao Sistema da PICaqui; 3. As embalagens, antes de serem utilizadas ou com os frutos, devem ser dispostas em local limpo e sobre estrados.”
O Programa Paulista para a Melhoria dos Padrões Comerciais e Embalagens de Hortigranjeiros (uma parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA)), utiliza parâmetros para classificação e necessidade de rotulagem para comercialização.
Dentre tais parâmetros tem-se a “Categoria”, que leva em consideração os defeitos graves e leves. Sendo assim, embalagens adequadas que prolonguem a vida útil do fruto e facilitem o manuseio acarretam em menos defeitos pós-colheita e, consequentemente, melhoria da rentabilidade da produção em função da redução de perdas.
Investimento x retorno
O tipo de embalagem mais comum são as bandejas de poliestireno expandido (isopor®) revestidas por filme plástico de polietileno de baixa densidade (PVC), o que não necessita de nenhum equipamento específico para utilização desta técnica.
Para aplicação de atmosfera modificada ativa é necessário possuir uma seladora e aquisição de cilindros com concentrações conhecidas de CO2 e O2. Tais técnicas são de baixo custo de implementação e ao utilizá-las é possível estender a vida de prateleira dos vegetais, podendo ser armazenados por períodos mais longos a fim de estender o período de comercialização e obter melhores preços de mercado fora do período da safra, no qual a oferta do produto supera sua demanda, além de agregar valor aos produtos por apresentarem melhor aparência e qualidade em função da redução de injúrias mecânicas devido ao manuseio.