Raquel Mota
raquel.agr@hotmail.com
Túlio Vieira Machado
tuliovmachado@gmail.com
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Fitopatologia – Universidade Federal de Uberlândia (ICIAG-UFU)
Ernane Miranda Lemes
Engenheiro agrônomo, fitopatologista e doutor em Produção Vegetal – UFU
ernanelemes@yahoo.com.br
A cenoura é uma hortaliça que naturalmente produz melhor em clima ameno, e seu plantio de inverno geralmente inicia-se no mês de julho e encerra em outubro. Isso porque esse grupo de cultivares é menos tolerante a condições de temperatura elevada, o que poderia comprometer o desempenho da cultura no campo.
A temperatura é considerada o fator mais importante na produção de raízes de cenoura. A produção de cenoura de inverno é afetada pela temperatura, sendo de 10 a 15ºC ideais para a formação das raízes, podendo algumas cultivares desenvolver-se sob temperaturas de 18 a 25ºC.
Acima de 30ºC a cenoura tem o ciclo vegetativo reduzido, afetando o desenvolvimento e a produtividade das raízes. Por isso, faz-se necessário o plantio em época recomendada segundo a cultivar escolhida.
Expectativa
No cenário econômico brasileiro a cenoura é a quinta hortaliça de maior importância econômica com volume comercializado. A área cultivada anualmente no Brasil é de aproximadamente 24,5 mil hectares e a produção em torno 750 mil toneladas (Anuário Brasileiro de Hortaliças, 2015). Essas quantidades serão aproximadamente equivalentes na safra de 2017.
Na região do Alto Paranaíba (São Gotardo (MG)), o cultivo de cenoura é realizado em extensas áreas e com utilização de alto nível de tecnologia, sendo responsável pela produção, em média, de 50% da cenoura comercializada no Brasil. Contudo, outros polos de produção também têm importância, como a região de Marilândia do Sul (PR), Irecê (BA), Piedade (SP), Cristalina (GO) e Carandaí (MG).
Uma medida observada para reduzir os elevados custos de produção tem sido a venda diretamente ao varejo, o que elimina o comprador intermediário na venda por atacado.
Cultivares
Duda e Reghin (2000) citam que um dos fatores que mais contribui para o elevado rendimento da cenoura é a escolha correta de cultivares de acordo com a época de semeadura. As cultivares podem ser agrupadas conforme sua adaptação termoclimática, sendo o grupo Nantes o mais comum. Geralmente as cultivares semeadas no outono-inverno (julho a outubro) são de origem europeia.
As cultivares de cenoura do grupo Nantes são caracterizadas pelo formato cilíndrico, cor alaranjada, comprimento variando entre 15 a 20 cm e 2,5 a 3 cm de diâmetro. Este grupo de cenouras também não apresenta resistência ao calor e é muito sensível a doenças da parte aérea, que normalmente incidem em períodos quentes e chuvosos.
Limitações
Apesar da elevada produtividade que a cultura da cenoura apresenta nas regiões de alta tecnologia (superiores a 80 t/ha), existem limitações que podem reduzir o desempenho das cultivares semeadas, por isso é relevante considerar algumas características na escolha da cultivar para se obter maior desempenho.
São vários os fatores que afetam o crescimento da cenoura durante as fases de germinação, desenvolvimento e produção. Por ser uma hortaliça tuberosa, a cenoura é exigente em solo com ótimas condições físicas (textura, estrutura e permeabilidade). São mais favoráveis os solos de textura média leves, soltos e arenosos, que não apresentam obstáculos ao bom desenvolvimento da raiz. O ciclo da cenoura em condições normais, sem extremos, varia de 90 a 110 dias (Vieira; Pessoa, 2008).
A cultura é pouco tolerante à acidez, sendo a faixa de pH de 5,7 a 6,8 a mais favorável (Filgueira, 2003). Sendo assim, as cultivares de cenoura de inverno devem apresentar boa formação de raízes, folhagem verde escuro, homogeneidade dos materiais, maior resistência ao ataque de doenças, coloração característica, raiz bem desenvolvida e de bom aspecto visual, a fim de se obter maior desempenho no campo e melhor aceitação no mercado.
Cuidados
A semeadura da cenoura é realizada diretamente nos sulcos, manual ou mecanicamente, longitudinalmente ao canteiro. O gasto de sementes é de aproximadamente de 3,0 a 5,0 kg ha-1. A profundidade de semeadura deve ser de 1,0 a 2,0 cm, e o espaçamento de 20 cm entre linhas.
Após 25 a 30 dias da germinação deve ser feito o desbaste, deixando 4,0 a 5,0 cm entre as plantas. O ciclo fenológico da cenoura, desde a semeadura até a colheita, varia de 85 a 110 dias, dependendo da cultivar, do clima e da época de colheita (Figueira, 2008).
Planta-se densamente quando não são utilizadas semeadeiras de precisão, o que obriga a efetuar o desbaste manual. Observa-se que se o espaçamento for exagerado, haverá produção de cenouras robustas, de menor valor comercial.
É elevada a exigência de água, ao longo de todo o ciclo da cultura, especialmente durante a germinação e a emergência. A aspersão é mais favorável devido ao arrefecimento na parte aérea, e em seguida o gotejamento. A irrigação por sulco é desvantajosa.
A eliminação de plantas infestantes, por meios manuais ou mecânicos, pode ocasionar danos às cenouras em formação, porém, muito favoráveis à aplicação de herbicidas. A cobertura com palha do canteiro é altamente favorável à cultura, desde que não prejudique a germinação e a emergência.
A cenoura é intolerante a qualquer forma de transplante, que ocasiona a formação de raízes tuberosas deformadas. Efetua-se a semeadura diretamente no canteiro definitivo. O ideal seria utilizar semente peletizada e semeadeiras de alta precisão. Entretanto, essa tecnologia tem apresentado falhas na germinação, como observado em São Gotardo (MG).
São utilizadas sementes comuns em semeadeiras, que deixam sobre o leito do canteiro 04 – 05 fileiras longitudinais, distanciadas 20-25 cm, e profundidade de 10 a 15 mm. Porém, o método mais praticado é a semeadura e os tratos culturais manualmente, semeando em linhas transversais espaçadas 15 cm (Figueira, 2008).
Custo
A base para a estimativa do custo total de produção está ligada à tecnologia, aos valores dos insumos e à eficiência dos recursos produtivos. Atualmente, os custos de produção da cenoura giram em torno de R$ 25 mil a R$ 40 mil por hectare, enquanto que a venda da produção pode ultrapassar R$ 60 mil por hectare.
Viabilidade
A cenoura pode ser consumida in natura, em refogados e assados, e pode ser processada para compor produtos industrializados, como sopas e receitas secas.
Portanto, o cultivo dessa olerícola é um bom negócio. Algumas considerações, no entanto, devem ser feitas para a estratégia de produção e comercialização da cenoura. A colheita no pico da safra pode forçar os preços para baixo, o que acaba por não render os lucros esperados pelos produtores.
Outro ponto crítico é a logística de transporte, que deve ser eficiente entre a colheita, processamento e chegada ao consumidor, pois se trata de um produto altamente perecível. o