Kelly Mellissy dos Santos Silva
Graduanda em Agronomia – IF Goiano Morrinhos
kellymellissy49@gmail.com
Emerson Trogello
Professor – IF Goiano Morrinhos
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
A viticultura sempre esteve ligada à região sul em nosso país. No entanto, nos últimos anos as regiões sudeste e nordeste ganharam vigor quanto à produção das parreiras. Com crescimento do cultivo no país, vieram problemas a serem solucionados nessas produções.
Qualquer lavoura sofre com a matocompetição, que traz dificuldades e limita a produtividade, assim como aumenta os custos. Nas videiras, os principais problemas estão associados à implantação da cultura.
As principais daninhas estão relacionadas à sua sazonalidade e região do Brasil. Podemos destacar algumas de ampla problematicidade, como o caruru (Amaranthus hybridus), picão preto (Bidens pilosa) e guanxuma (Sida rhombifolia).
Na região sul, o destaque é o azevém (Lolium multiflorum), na região centro-oeste o timbete (Cenchrus echinatus) e capim-colchão (Digitaria horizontalis), no nordeste a mucuna-preta (Mucuna pruriens), dentre outras encontradas ao longo do país.
Danos
Por analogia, plantas de folhas largas agregam mais contratempos, limitando o uso de herbicidas futuramente.
Por conseguinte, plantas infestantes desaceleram o crescimento das videiras e prejudicam suas atividades metabólicas pela competição excessiva. Por exemplo, quando há competição hídrica, as gramíneas são favorecidas e, quando há competição por luz, acaba afetando o fotossistema da parreira, ocasionando assim uma redução no seu estabelecimento.
Outro ponto prejudicial é que, geralmente, esses fatores alteram a formação das bagas (cada fruto de um cacho de uvas), prejudicando o produto final. O local onde a infestante se aloja também interfere de forma direta no aparecimento de patógenos na área, uma vez que próximo ao tronco atuam como hospedeiros para patógenos, como os fungos que causam doenças, a exemplo da podridão da videira (Botryosphaeria dieback).
Manejo
Seguramente, a capina manual é o método mais usual em pomares no país, acerca do controle semanal ou mensal de plantas espontâneas indesejadas.
Mas, a adoção de maquinários e implementos agrícolas auxilia médias e grandes propriedades, que necessitam de um controle mecânico mais rápido, e ao longo do tempo fica mais barato, como enxadas fixas ou rotativas (cultivadores) que têm papel eficiente no controle, em frutíferas de maior investimento.
Em suma, os vinhedos são sensíveis à toxidade de muitos herbicidas, o que gera dificuldades na tecnologia de aplicação, e existem poucos produtos registrados. Com isso, deve-se realizar um bom planejamento antes da pulverização, por exemplo, em pré-emergência pode-se aplicar herbicidas inibidores do Fotossistema II ou inibidores de ácidos graxos de cadeia longa.
O primeiro atua melhor em amplo espectro do que o segundo, que é melhor graminicida. O glifosato, que é o inibidor da enzima EPSPS (5-enolpiruvoilshiquimato 3-fosfato sintase), pode ser aplicado apenas nas faixas, ou dirigido na coroa, assim como herbicidas similares, como os inibidores da enzima de glutamina sintase.
Alguns graminicidas podem ser usuais após a implantação, como os inibidores da ACCase. Um detalhe importante é tentar evitar a aplicação em pós-emergência nos dois primeiros anos da implantação, pela sensibilidade da cultura.
Independente do herbicida selecionado, é sempre importante que a recomendação esteja disposta em bula. E mesmo estando, cuidado demais nunca é excessivo, uma vez que estamos trabalhando com uma cultura extremamente sensível e de alto valor agregado. Na dúvida, opte por não usar o controle químico de plantas daninhas.
Prevenção
Nesse contexto, se mostram necessários os métodos preventivos, que estão relacionados ao âmbito geral da instalação da cultura, como: topografia da lavoura, implantação de mudas sadias, adubos orgânicos desinfetados, dentre outros fatores que podem passar despercebidos algumas vezes pelos produtores. A primeira prática preventiva é a supressão total de qualquer forma de propagação das daninhas, seja ela por bancos de sementes ou bulbos que possam estar no solo.
Desse modo, inclui-se, também, a cobertura morta, prática que auxilia no controle de daninhas, pois ocupam espaços, de forma a beneficiar as raízes das parreiras, com ações biológicas.
Elas melhoram o teor de matéria orgânica no solo e estimulam o aparecimento de microrganismos benéficos, conseguindo promover carbono e nitrogênio ao solo, e até mesmo de forma física, funcionando como uma barreira de proteção contra a incidência solar, e assim diminuindo ou anulando o fator fotossintético das plantas daninhas.
Inimigos das daninhas
A planta daninha, por característica biológica, se apresenta de ciclo curto, com alta produção de sementes, rápido crescimento inicial e outras características que garantem a mesma rápida colonização de espaços ociosos.
Entretanto, quando o manejo não deixa espaço ocioso para a “invasão” da daninha, a mesma não representa grandes problemas de competição. Desta forma, ocupar sempre o espaço com plantas de interesse é o principal manejo, principalmente quando trabalhamos com cultivos perenes e espaçados, caso das uvas cultivadas.
Manter o solo coberto os 12 meses do ano é uma maneira eficaz de impedir a entrada de plantas que não tenham interesse comercial e que não agregam positivamente na produção das uvas.
Na hora certa
A época de controle deve se adequar ao período em que a produção se encontra, por exemplo, na pré-floração ou no período da formação das bagas, as vinhas precisam do seu potencial máximo hídrico e de radiação solar, portanto, é crucial não haver competição por esses fatores.
Obstáculos
Os principais empecilhos para a cultura relacionados a plantas infestantes começam pela baixa oferta de produtos químicos, a alta sensibilidade da vinha a produtos fitossanitários, o registro, no Mato Grosso, de problemas de toxicidade causados pela deriva de 2,4-D (mimetizadores de auxinas) em produções agrícolas vizinhas, e ainda aqueles ligados às produções que se iniciam em cima de enormes bancos de sementes.
Certamente, o manejo adequado no solo interfere no sistema produtivo como um todo, principalmente em frutíferas, onde a implantação das mudas e o coveamento, seguido de adubação nas covas, acrescenta fundamentalmente na formação dos frutos.
Uma planta mais vigorosa tende a tomar conta mais rapidamente do espaço, se tornando mais autossuficiente no processo de competição com a planta daninha.