Marcelo Antônio de Sousa Gouvêia
Engenheiro agrônomo – Instituto Federal de Minas Gerais, campus Bambuí
marcelogouveiatc@gmail.com
Synara Silva
Engenheira agrônoma e mestre em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
synarasilv@gmail.com
O progresso da adoção do sistema de plantio direto, sucessão de cultivo de soja e milho de segunda safra, além da utilização de cultivares de soja precoces e semeadas cada vez mais cedo tem proporcionado uma oferta maior de alimentos. Entretanto, pode estar favorecendo o crescimento populacional de alguns insetos que se tornam pragas dentro do sistema produtivo. As populações de percevejos são um grande desafio para os agricultores e assumem importância cada vez maior na cultura da soja, como também em várias outras, como o milho, o algodão, o trigo e o feijão, que compõem o sistema produtivo.
Prejuízos
A cada ano, a população de percevejo vem trazendo inúmeros prejuízos às lavouras, o que se deve a uma série de fatores, como: baixa adoção de monitoramento das pragas, situações com populações elevadas e resistência a inseticidas químicos com aplicações indiscriminadas.
Os percevejos, popularmente conhecidos por percevejo barriga-verde e o percevejo-marrom (Euschistus heros), são as espécies que se destacam em relação aos danos causados no Brasil.
Na cultura da soja e do feijão, o percevejo-marrom é o principal causador de danos econômicos. Se alimenta sugando o tecido das sementes e, como consequência, as sementes não se desenvolvem, ficam murchas e perdem seu valor comercial.
Embora os percevejos possam se alimentar de várias partes da planta, são as vagens e sementes seu alimento de maior preferência, devido a terem um alto teor de nutrientes. Além de reduções significativas na qualidade física, também pode ocorrer danos na qualidade fisiológica, com problemas visuais a campo, estandes desuniformes e de baixa produtividade.
O ataque
Durante o ciclo vegetativo, com o desenvolvimento das vagens, os índices populacionais aumentam até o início do enchimento de grãos, período em que a cultura está mais suscetível ao ataque desses insetos. Próximo à colheita, a população normalmente diminui e os percevejos migram para plantas hospedeiras e, em seguida, para a palhada.
Diferentemente da soja e do feijão, no milho os percevejos se alimentam da seiva das folhas e injetam toxinas, com a emissão de perfilhos e folhas retorcidas. Com a alimentação pelo percevejo, as plantas crescem lentamente e tornam-se improdutivas, sem a formação de espigas ou, no caso de se desenvolverem, ficarão pequenas, com baixa produtividade na lavoura.
Ao serem observados os sintomas visuais, infelizmente os danos não podem ser revertidos. Assim, estratégias que antecipem o dano do percevejo na planta são recomendadas.
O que fazer?
O manejo de percevejos deve ser realizado de forma integrada, considerando as diferentes fases do desenvolvimento das plantas e as culturas que compõem o sistema produtivo.
Assim, a adoção de ações sustentáveis, como a utilização de produtos biológicos, é fator fundamental ao equilíbrio do sistema, buscando associar produção com qualidade e a sustentabilidade do sistema.
Manejo do percevejo com o uso de biológicos
Nos últimos anos, a adoção de práticas mais sustentáveis tem se destacado, em especial o emprego do controle biológico, que visa preservar a população de inimigos naturais, reduzir a resistência de pragas a inseticidas, evitar a ocorrência de novas pragas que causem danos econômicos na lavoura e a manter o equilíbrio do ecossistema.
Os bioprodutos podem ser formulados com bactérias, vírus, protozoários, insetos parasitoides e predadores, além dos fungos entomopatogênicos. Entre os principais fungos registrados para uso agrícola, se destaca o Metarhizium anisopliae.
Os produtos à base de fungos apresentam a capacidade de infectar uma praga pela ação de contato e, ao aderir ao percevejo, o fungo iniciará o processo de infecção e, posteriormente, de colonização.
Desta forma, os esporos vão penetrar a cutícula e realizar a multiplicação utilizando dos nutrientes, de modo a paralisar as atividades metabólicas, e como consequência, a mortalidade do inseto.
A olho nu
Em condições ideais de umidade, o controle biológico é perceptível na lavoura, por uma massa branca no inseto, caracterizada pelo desenvolvimento de micélios e expansão das hifas.
Para que o controle biológico seja eficiente, o produtor rural deve se atentar a algumas situações que podem interferir nos seus resultados. A concentração de conídios e dosagem do produto comercial que irá utilizar e a virulência do fungo para infectar o percevejo são pontos de suma importância para o sucesso da utilização de bioprodutos na lavoura.
Além destes fatores, a tecnologia de aplicação é de suma relevância no cenário biológico, uma vez que os produtos devem ser direcionados ao alvo, com a deposição do ingrediente ativo.
Com isso, deve haver a observação da atividade realizada pelo pulverizador para analisar possíveis problemas de irregularidade na aplicação, o que fará com que a deposição do produto não seja homogênea na lavoura.
Dicas valiosas
Durante a aplicação de produtos biológicos, é importante se atentar à mistura de produtos dentro do tanque de pulverização. Geralmente, o produtor agrícola aplica um número grande de produtos, como herbicidas, fungicidas e inseticidas químicos para otimizar o trabalho.
Quando tratamos de bioprodutos, devemos lembrar que estamos falando de organismos vivos e, dependendo da mistura, pode interferir, causando até a mortalidade do fungo. Desta forma, a seleção de produtos biológicos que possuam o teste de compatibilidade com os defensivos químicos possibilita a garantia de mistura com os produtos biológicos, a eficiência do serviço e a baixa interferência na viabilidade do mesmo, quando aplicado na planta.
Na hora certa
Outro fator relevante durante a aplicação de produtos biológicos se trata da escolha do horário de aplicação, o que interfere diretamente na eficiência de controle da praga. O percevejo, na maioria das situações, se locomove entre a tarde e a noite, devido à temperatura mais fresca e maior umidade do ar.
Portanto, devem-se priorizar aplicações mais à noite, quando forem via aérea, para que haja eficiência na deposição do produto no alvo.
Outro fator importante, é que o Metarhizium anisopliae possui preferência por temperaturas mais baixas e maior percentual de umidade para exercer suas atividades de infecção e colonização do inseto. Com isso, aplicações no período da noite possibilitam que o fungo tenha maior quantidade de horas em condição ideal para o controle de percevejo na lavoura.
Monitoramento
Em geral, os percevejos são perceptíveis durante todo o ciclo das culturas. Em especial na soja, após a colheita buscam alternativas para garantir a sobrevivência e se instalam nas plantas daninhas da área. Diante disso, o manejo cultural é importante para que reduza a população da praga antes da próxima cultura de interesse.
Durante o plantio, pode ser realizada a aplicação de Metarhizium anisopliae no solo via sulco para reduzir a população desses insetos. O uso via solo possibilita o aumento do fungo entomopatogênico no sistema de forma preventiva.
Portanto, o uso de controle biológico de pragas e doenças na agricultura tem sido fomentado pela eficiência que já é notada nas lavouras, baixo risco à saúde humana e a manutenção do equilíbrio do ecossistema.
No manejo de percevejo, o Metarhizium anisopliae se destaca como o principal produto no mercado para atender a demanda e que apresenta resultados benéficos, desde que bem manejado na área, com baixo custo e gerando retorno financeiro ao produtor rural.