Controle eficiente da traça-das-crucíferas

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Diego Miranda de Souza
Engenheiro agrônomo, doutor em Proteção de Plantas – Unesp e professor – UniPinhal
diego-agronomia@hotmail.com

Foto: Shutterstock

A traça-das-crucíferas (Plutella xylostella) está entre as principais pragas das hortaliças, sendo reconhecida pelos danos causados em couve-folha, couve-flor, brócolis, repolho e outras plantas da família brassicaceae em geral.

Os danos estão relacionados com a alimentação do inseto na fase de larval (lagarta) – os furos nas folhas depreciam o valor comercial da produção e podem até inviabilizar a colheita.

O inseto possui um ciclo rápido e passa pelas fases de desenvolvimento de ovo, larva, pupa e adulto.  A fêmea deposita seus ovos na face inferior das folhas, de um a três ovos.

As lagartas eclodem dos ovos de três a quatro dias depois e começam a se alimentar da página inferior da folha. É justamente a fase larval, com seu aparelho bucal mastigador, que causa os danos nas plantas.

A lagarta atinge seu máximo desenvolvimento cerca de 10 dias após a eclosão, passando por 4 instares larvais. Posteriormente, o inseto se transforma em pupa (crisálida), tecendo um casulo na página inferior da folha. Por fim, cerca de 4 dias depois, surge o adulto e recomeça o ciclo.

Como visto, o inseto apresenta um ciclo completo ao redor de 18 dias. Por esse motivo, é natural que durante o ciclo de desenvolvimento das hortaliças ocorram diversos ciclos da praga.

Outro fato é que a duração do ciclo de vida do inseto é afetada pela temperatura, apresentando uma maior duração em condições de menor temperatura (ao redor de 27 dias a 15°C). A estiagem também colabora com a sobrevivência do inseto.

MIP

Entre as bases do manejo integrado de pragas (MIP) estão a amostragem e o nível de controle. Para amostragem, recomenda-se considerar um total de 100 plantas por talhão homogêneo, distribuídas em 20 pontos, com cinco plantas cada ponto.

A sugestão para o nível de controle é a constatação da presença de lagartas em pelo menos 15% das plantas inspecionadas (Embrapa Hortaliças: Moura et al, 2019). Também se faz necessário conhecer os métodos de controle envolvidos no MIP da traça-das-crucíferas, destacando-se o controle cultural, resistência genética, biológico e químico.

Recomendações

Em princípio, é recomendada a rotação com plantas não hospedeiras, evitar o plantio escalonado, destruir os restos culturais, fazer uso de mudas sadias e demais estratégias de boas práticas agrícolas. A busca por cultivares resistentes contribui com o manejo e deve ser considerada antes da instalação da lavoura.

O controle biológico baseia-se no uso de produtos à base de Bacillus thuringiensis (Bt), independentemente da espécie de hortaliça produzida, logo nos primeiros estádios larvais, assim que observado o nível de controle.

Portanto, o método de controle químico, com inseticidas, está entre as principais ferramentas de manejo, especialmente pela agressividade da praga.

Opções

Os inseticidas disponíveis para o manejo da traça-das-crucíferas dependem da hortaliça produzida pelo agricultor. O agricultor e o responsável técnico devem certificar-se que o inseticida está registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a respectiva cultura.

Esse cuidado garante que estejam disponíveis informações relevantes ao uso de inseticidas, como por exemplo, o período de carência (tempo entre a última aplicação e a colheita), contribuindo para a produção de alimentos seguros.

No geral, para as principais hortaliças, estão disponíveis para o controle da traça-das-crucíferas os seguintes grupos químicos de inseticidas e seus respectivos modos de ação (segundo o comitê de ação à resistência a inseticidas – IRAC): antranilamida (28 – Moduladores de receptores de rianodina/sistema nervoso e musculatura); piretroide (3A – Moduladores de canais de sódio/sistema nervoso e musculatura); oxadiazina e semicarbazona (22 – Bloqueadores de canais de sódio dependentes da voltagem/sistema nervoso e musculatura); metilcarbamato de oxima (1A – Inibidores da acetilcolinesterase/sistema nervoso e musculatura); tetranortriterpenoide (DESC/Modo de ação desconhecido); organofosforado (1B – Inibidores da acetilcolinesterase/sistema nervoso e musculatura); pirazol (21A – Inibidores do complexo I da cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria/respiração celular); benzoilureia (15 – Inibidores da biossíntese de quitina/crescimento e desenvolvimento); espinosinas (5 – Moduladores alostéricos de receptores nicotínicos da acetilcolina/sistema nervoso e musculatura).

Ação do controle químico

Assim, em resumo, os inseticidas disponíveis para o controle da traça-das-crucíferas atuam sobre o sistema nervoso e muscular; crescimento e desenvolvimento; respiração celular e sistema digestivo (Bt).

Independente do modo de ação, todos os inseticidas apresentados possuem eficácia comprovada pelo MAPA no momento do registro, no entanto, se faz necessário observar algumas recomendações gerais:

Seguir a bula e o receituário agronômico: as informações contidas em bula e no receituário agronômico indicam as doses e melhores práticas para o uso do inseticida escolhido, como o período de carência e limitações de uso.

Amostragem e MIP: acompanhar a flutuação populacional da praga se faz necessário para o uso racional do controle químico, assim como a integração com outros métodos, como o cultural, biológico e até a resistência genética.

Seletividade: entre as bases do MIP está considerar a existência de inimigos naturais na área de cultivo, ou seja, o uso indiscriminado de inseticidas não seletivos impede o estabelecimento dos inimigos naturais, dificultando o controle. Aplicar os produtos inseticidas somente quando necessário e preferir os mais seletivos.

Manejo de prevenção de resistência: a disponibilidade de produtos inseticidas é limitada, por isso, é indispensável o uso racional dessas substâncias. Aplicações repetitivas aumentam a pressão de seleção e contribuem para selecionar insetos resistentes. São estratégias antirresistência a alternância de inseticidas com modo de ação distintos; seguir as orientações da bula (ex: número máximo de aplicações); seguir o MIP; preservar os inimigos naturais; preferir misturas de inseticidas com mais de um modo de ação.  

Portanto, o controle eficiente da traça-das-crucíferas depende do adequado entendimento da biologia e do manejo da praga. O agricultor deve projetar seus esforços na integração de técnicas de manejo e atentar-se ao uso racional dos inseticidas.

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